Trata-se apenas de uma coincidência, garante Tiago Bettencourt ao DN, quando questionado se as 12 canções que compõem o seu novo disco tinham, de alguma forma, sido inspiradas por estes estranhos tempos de incerteza, afastamento e consequente tristeza, decorrentes da pandemia. A resposta é logo dada no título, 2019 Rumo ao Eclipse, que remete para o período em que o mesmo foi feito.."O nome ficou decidido em novembro do ano passado, quando o álbum ficou concluído. O lançamento estava inicialmente previsto para abril, mas depois decidimos adiá-lo mais para o final do ano, portanto trata-se de um disco que quando finalmente sai já é uma peça vintage", diz com humor..No entanto, é impossível não pensar no que atualmente se passa quando se ouve um tema como Nuvem, no qual Mariza (com quem faz um dueto) canta uma frase como "vai passar, vai ficar bem". "Foi mesmo um acaso, e nessa canção em particular o que aconteceu a seguir até me estragou a frase [risos]. Estas letras são uma reação a muitas coisas que aconteceram durante o ano passado, especialmente a mim", explica, garantindo, todavia, não se tratar de um álbum biográfico ou sequer mais pessoal.."Nunca gostei de fazer música de forma muito literal. Não são necessariamente histórias minhas, mas partem sempre de algo real, que depois torno abstrato", admite. E apesar de datado no título, 2019 Rumo ao Eclipse não está preso a nenhuma data ou espaço temporal, pois os assuntos abordados são de certa forma eternos, tal como a melancolia, quase a roçar a tristeza, que paira um pouco ao longo de todo o disco.."Falo de escolhas, de lutas, de mágoa e indignação, de desapego, de alívio, de aceitação, de casa e de liberdade. No fundo, os enredos que são parte intrínseca da vida de cada um de nós, da nossa humanidade", argumenta, recusando a ideia de ter a tristeza como conceito. "Não é triste, é um álbum humano, que às vezes é alegre e outras é triste, tal como as pessoas. E por isso também fala de tristeza, desse mal que afeta tanta gente e de que tão pouco se fala. Não tenho medo da tristeza, porque ela também faz parte da vida.".Um dos momentos em que esse sentimento está mais presente é precisamente em Nuvem, um tema "inspirado em You Are My Sister", uma canção de Antony and the Johnsons, cantada a meias com Boy George. "Há vozes que nos abraçam, e a da Mariza é uma delas. Essa música precisava de uma voz assim, de um abraço da Mariza", reconhece o músico e cantor, que contou ainda no disco com as participações do ator Ivo Canelas, na intro de Fachada, de Fred Ferreira na bateria em Dança e Não Queiras mais de Mim e de Mariana Norton e Cláudia Pascoal nos coros de Manhã, Fêmea e Fachada..Em antecipação ao lançamento de 2019 Rumo ao Eclipse, Tiago Bettencourt realizou uma original de digressão de apresentação do disco, em que surgia em palco apenas acompanhado de uma planta, de um gira-discos e de uma guitarra, para explicar ao público cada um dos temas. Sim, isso mesmo, explicar, numa conversa informal com os fãs que deixou muita gente surpreendida.."A ideia veio das listening parties de antigamente. Foi-me sugerido uma coisa do género e lembrámo-nos deste conceito, que acabou por criar um certo burburinho. Tocava quatro músicas e falávamos sobre elas a seguir", recorda. A primeira sessão foi em Loulé e o próprio Tiago não sabia bem o que esperar. "Houve algumas pessoas apanhadas de surpresa, mas depois tornou-se muito engraçado e algumas sessões chegaram a durar mais de duas horas, porque algumas das músicas puxam para a conversa temas com os quais as pessoas se identificam e surgiam sempre muitas perguntas. O primeiro impacto era sempre estranho, mas depois de se quebrar o gelo era como se estivéssemos juntos numa qualquer sala de estar, a ouvir um disco à antiga, tema a tema, mas ao vivo e com o artista presente", conta..Uma experiência que, mesmo assim, "não compensa a falta de espetáculos", sendo apenas "uma forma diferente de promover" o álbum. Para já, Tiago Bettencourt tem apenas um concerto marcado, em Ponte de Lima, para o dia 11 de dezembro. "Neste momento é impossível fazer planos a médio prazo, quanto mais a longo. Mas quero apresentar o disco ao vivo e alguma coisa haverá de acontecer", garante o artista, que tem já "alguns planos B e C", revela.."No primeiro confinamento descobriu-se o streaming, que ainda não foi assim tão bem explorado. É preciso ser criativo para se começar a ter receitas a partir daí, porque agora, além de não se venderam CD, também não há concertos. Talvez a solução passe por convencer as marcas a associarem-se aos artistas", sugere Tiago Bettencourt, que durante o primeiro confinamento, no início do ano, fez um live semanal no Instagram, interpretando sempre em cada sessão três músicas suas, três versões de um artista por si escolhido e ainda um tema do disco de 2011 Tiago na Toca, no qual cantava poemas de autores portugueses como José Carlos Ary dos Santos, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner Andersen, Alexandre O"Neill, Fernando Pessoa ou David Mourão-Ferreira. "Deu-me um trabalheira, essa quarentena [risos]."
Trata-se apenas de uma coincidência, garante Tiago Bettencourt ao DN, quando questionado se as 12 canções que compõem o seu novo disco tinham, de alguma forma, sido inspiradas por estes estranhos tempos de incerteza, afastamento e consequente tristeza, decorrentes da pandemia. A resposta é logo dada no título, 2019 Rumo ao Eclipse, que remete para o período em que o mesmo foi feito.."O nome ficou decidido em novembro do ano passado, quando o álbum ficou concluído. O lançamento estava inicialmente previsto para abril, mas depois decidimos adiá-lo mais para o final do ano, portanto trata-se de um disco que quando finalmente sai já é uma peça vintage", diz com humor..No entanto, é impossível não pensar no que atualmente se passa quando se ouve um tema como Nuvem, no qual Mariza (com quem faz um dueto) canta uma frase como "vai passar, vai ficar bem". "Foi mesmo um acaso, e nessa canção em particular o que aconteceu a seguir até me estragou a frase [risos]. Estas letras são uma reação a muitas coisas que aconteceram durante o ano passado, especialmente a mim", explica, garantindo, todavia, não se tratar de um álbum biográfico ou sequer mais pessoal.."Nunca gostei de fazer música de forma muito literal. Não são necessariamente histórias minhas, mas partem sempre de algo real, que depois torno abstrato", admite. E apesar de datado no título, 2019 Rumo ao Eclipse não está preso a nenhuma data ou espaço temporal, pois os assuntos abordados são de certa forma eternos, tal como a melancolia, quase a roçar a tristeza, que paira um pouco ao longo de todo o disco.."Falo de escolhas, de lutas, de mágoa e indignação, de desapego, de alívio, de aceitação, de casa e de liberdade. No fundo, os enredos que são parte intrínseca da vida de cada um de nós, da nossa humanidade", argumenta, recusando a ideia de ter a tristeza como conceito. "Não é triste, é um álbum humano, que às vezes é alegre e outras é triste, tal como as pessoas. E por isso também fala de tristeza, desse mal que afeta tanta gente e de que tão pouco se fala. Não tenho medo da tristeza, porque ela também faz parte da vida.".Um dos momentos em que esse sentimento está mais presente é precisamente em Nuvem, um tema "inspirado em You Are My Sister", uma canção de Antony and the Johnsons, cantada a meias com Boy George. "Há vozes que nos abraçam, e a da Mariza é uma delas. Essa música precisava de uma voz assim, de um abraço da Mariza", reconhece o músico e cantor, que contou ainda no disco com as participações do ator Ivo Canelas, na intro de Fachada, de Fred Ferreira na bateria em Dança e Não Queiras mais de Mim e de Mariana Norton e Cláudia Pascoal nos coros de Manhã, Fêmea e Fachada..Em antecipação ao lançamento de 2019 Rumo ao Eclipse, Tiago Bettencourt realizou uma original de digressão de apresentação do disco, em que surgia em palco apenas acompanhado de uma planta, de um gira-discos e de uma guitarra, para explicar ao público cada um dos temas. Sim, isso mesmo, explicar, numa conversa informal com os fãs que deixou muita gente surpreendida.."A ideia veio das listening parties de antigamente. Foi-me sugerido uma coisa do género e lembrámo-nos deste conceito, que acabou por criar um certo burburinho. Tocava quatro músicas e falávamos sobre elas a seguir", recorda. A primeira sessão foi em Loulé e o próprio Tiago não sabia bem o que esperar. "Houve algumas pessoas apanhadas de surpresa, mas depois tornou-se muito engraçado e algumas sessões chegaram a durar mais de duas horas, porque algumas das músicas puxam para a conversa temas com os quais as pessoas se identificam e surgiam sempre muitas perguntas. O primeiro impacto era sempre estranho, mas depois de se quebrar o gelo era como se estivéssemos juntos numa qualquer sala de estar, a ouvir um disco à antiga, tema a tema, mas ao vivo e com o artista presente", conta..Uma experiência que, mesmo assim, "não compensa a falta de espetáculos", sendo apenas "uma forma diferente de promover" o álbum. Para já, Tiago Bettencourt tem apenas um concerto marcado, em Ponte de Lima, para o dia 11 de dezembro. "Neste momento é impossível fazer planos a médio prazo, quanto mais a longo. Mas quero apresentar o disco ao vivo e alguma coisa haverá de acontecer", garante o artista, que tem já "alguns planos B e C", revela.."No primeiro confinamento descobriu-se o streaming, que ainda não foi assim tão bem explorado. É preciso ser criativo para se começar a ter receitas a partir daí, porque agora, além de não se venderam CD, também não há concertos. Talvez a solução passe por convencer as marcas a associarem-se aos artistas", sugere Tiago Bettencourt, que durante o primeiro confinamento, no início do ano, fez um live semanal no Instagram, interpretando sempre em cada sessão três músicas suas, três versões de um artista por si escolhido e ainda um tema do disco de 2011 Tiago na Toca, no qual cantava poemas de autores portugueses como José Carlos Ary dos Santos, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner Andersen, Alexandre O"Neill, Fernando Pessoa ou David Mourão-Ferreira. "Deu-me um trabalheira, essa quarentena [risos]."