Textos inéditos de Agustina Bessa-Luís vão ser publicados
Este é o terceiro livro de inéditos de Agustina Bessa-Luís, desde que a escritora se retirou da vida pública, depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral, após a edição de "A Ronda da Noite".
Em relação a "Caderno de Significados", Mónica Baldaque, filha da escritora e coordenadora da edição, afirmou à Lusa que inclui "contos inesperados, perfeitamente fora da estrutura de escrita habitual de Bessa-Luís", nomeadamente um, intitulado "Os dois amigos", redigido "em forma de cantilena".
"Caderno de Significados", publicado pela Guimarães Editores, casa que sempre editou a obra de Agustina Bessa-Luís, tem seleção, organização e fixação de texto de Alberto Luís e Lourença Baldaque, respetivamente marido e neta da escritora.
A coleção de inéditos da autora de "A Sibila" começou em fevereiro passado, com "Kafkiana", um conjunto de quatro ensaios sobre Franz Kafka, e o segundo título, "Cividade", um conto que, até à data, era inédito.
Há ainda outros inéditos para editar, nomeadamente alguns romances, que serão publicados pela Fundação Calouste Gulbenkian, precedidos de um estudo de Silvina Rodrigues Lopes, especialista da obra de Agustina Bessa-Luís.
"Os romances a publicar pela Gulbenkian, à exceção de um, estão todos incompletos por decisão da autora", disse Mónica Baldaque à agência Lusa.
"A minha mãe sempre defendeu o inacabado, foi uma constante ao longo da sua obra, a personagem que não fica completamente definida ou a história que podia continuar e acaba ali, há sempre uma margem de continuidade", argumentou.
Mónica Baldaque afirmou que se está atualmente a organizar o arquivo de Agustina Bessa-Luís, de 90 anos, prevendo-se a publicação da correspondência que trocou com o poeta José Régio, numa edição que conta com a colaboração da Casa-Museu José Régio, de Vila Conde, onde estão arquivadas as cartas recebidas pelo poeta de "Toada de Portalegre".
"A minha mãe escreve ao [José] Régio, mas, no fundo, escreve para ela própria", disse Mónica Baldaque.
Relativamente ao espólio da autora de "A brusca" e "Um cão que sonha", a filha afirmou que "há centenas de papelinhos escritos por si, notas que registava em faturas, em agendas, aforismos, pensamentos que, de alguma forma, iria utilizar na obra", disse.
Sobre Agustina Bessa-Luís, Mónica Baldaque afirmou: "De saúde está muito bem, lúcida e mexe-se, e recuperou bastante dos AVC, que deixaram sequelas, mas a parte criativa já está para trás, já fez tudo o que tinha a fazer".
"Há dias a mãe estava a contar-me uma história de família, em tom de narrativa, e perguntei-lhe se queria que escrevesse o que estava a dizer. Ela olhou para mim e disse: 'Não, já está tudo escrito'", contou Mónica Baldaque.
O primeiro livro de Agustina Bessa-Luís, "Mundo Fechado", foi publicado em 1948. Desde então a escritora publicou ficção, ensaios, teatro, crónicas, memórias, biografias e livros para crianças. Várias obras suas foram adaptadas ao cinema por realizadores como Manoel de Oliveira ("Fanny Owen", "Vale Abraão") e João Botelho ("A corte do norte").
O romance "A Sibilia" valeu-lhe os prémios Delfim Guimarães, em 1953, e Eça de Queiroz, em 1954, os primeiros de uma lista de vários galardões, entre os quais o de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, em 1983, pela obra "Os meninos de ouro", e que voltou a receber em 2001, com "Jóia de família".
A escritora foi distinguida pela totalidade da sua obra com, entre outros, os Prémios Camões e Vergílio Ferreira, ambos em 2004, e o Prémio de Literatura do Festival Grinzane Cinema, em 2005.
"O comum dos mortais", "A quinta essência", a trilogia "O princípio da incerteza", "Antes do degelo", "Doidos e amantes" contam-se entre a sua obra.