Testagem nas escolas do 3.º ciclo e do secundário antecipada uma semana em Lisboa
O R (t) está a subir em todo o país desde o dia 4 de maio, mas a grande preocupação agora é a capital, onde este valor é o mais elevado de todo o país - segundo afirmou ontem o secretário de Estado da Saúde. Segundo Diogo Serra Lopes, este valor está em 1.2, embora a incidência ainda esteja baixa. A nível nacional o R (t) é de 1.06 e a incidência é de 55,6 casos por 100 mil habitantes, segundo o boletim diário desta segunda-feira da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Em relação a Lisboa, ainda não é possível dizer se a razão da subida está na passagem para o último nível do plano de desconfinamento, que incluiu a abertura de restaurantes, cafés e bares, ou se estará nos festejos da vitória do Sporting de há duas semanas, embora a DGS apenas tenha registado 20 casos positivos associados a estes festejos.
O certo é que o R(t), um dos critérios para a tomada de decisão por parte do governo se um concelho deve ou não recuar no desconfinamento, mantém uma tendência de subida na capital. Para o professor Carlos Antunes, da equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que desde o início da pandemia faz a modelação da doença, esta subida é resultado do desconfinamento e está a ocorrer há mais de uma semana, ao mesmo tempo que se nota uma redução na testagem em massa, alertou ao DN já há dias.
Mas, no fim de semana, em entrevista ao nosso jornal, o secretário de Estado adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, anunciou que a testagem massiva iria ser reforçada nas regiões com R (t) mais elevado, mas que o foco agora era Lisboa, onde se estava a notar mais esta subida, para se tentar controlar as possíveis cadeias de transmissão. António Lacerda Sales referiu ainda que esta testagem ia ser feita nas áreas do ensino, em empresas e na função pública.
Um reforço que vai começar já nesta semana na capital, provavelmente quinta-feira, nas escolas do 3.º ciclo - do 7.º até ao 9.º ano - e nas do secundário - do 10.º ao 12.º ano -, antecipando-se assim em cerca de uma semana a realização de testes que estava prevista para esta área, confirmou o DN junto de fonte do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA).
Segundo a mesma fonte, a testagem estava a ser feita de acordo com a incidência da doença e com um intervalo que poderia ir de duas a três semanas, agora vai ser antecipada e depois continuará pelo ensino Superior, mas também pelas residências universitárias.
Esta testagem em massa vai incidir sobretudo junto de faixas etárias mais novas, entre os 18 e os 40 anos, pois é nestas que se está a observar um maior aumento de infeções, assim como em populações mais vulneráveis como os trabalhadores migrantes. "Os eventos que potenciem a concentração de um grande número de pessoas (casamentos, batizados, eventos públicos e/ou outros) também serão alvo de reforço dos níveis de testagem."
DestaquedestaqueEstá previsto o reforço dos níveis de testagem durante os próximos 15 dias em ambientes de diversão noturna e hostels, de acordo com a norma 19 da DGS e orientações adicionais.
Os níveis de testagem serão ainda reforçados nos locais de maior concentração do grupo etário com taxas de incidência mais elevadas. Ou seja, ambientes de diversão noturna e hostels, estando previsto o reforço dos níveis de testagem durante os próximos 15 dias e de acordo com a norma 19 da DGS e orientações adicionais específicas. No fundo, e segundo explicaram ao DN, todas estas áreas já haviam sido testadas, mas dada a situação epidemiológica que se vive na capital, as ações vão ser reforçadas e depois alargadas aos concelhos vizinhos.
Depois do ensino e dos locais de grande concentração das faixas etárias mais novas, a testagem irá alargar-se ao contexto laboral, às empresas e à administração pública. Na resposta ao DN, o INSA sublinha que "todas as atividades de testagem que vão ser desenvolvidas terão em conta a atual situação epidemiológica da covid-19, através de rastreios programados e dirigidos em contexto ocupacional e comunitário, nomeadamente em estabelecimentos de educação ou ensino, eventos, empresas, aeroportos e portos".
E é neste sentido que, refere o INSA, a task force da testagem se "encontra a trabalhar em conjunto com as diferentes áreas ministeriais para promover o rastreio a trabalhadores nas áreas setoriais com maior número de funcionários da administração central e empresas públicas, como por exemplo estabelecimentos de educação ou ensino, empresas de transporte ou com mais de 250 colaboradores".
A testagem vai ser reforçada. A monitorização da doença assim o exige e a task force nomeada pelo governo para este efeito e liderada pelo presidente do INSA, Fernando Almeida, vai antecipar no terreno ações que estão a desenvolver em articulação com a Câmara Municipal de Lisboa, Direção-Geral da Saúde, Cruz Vermelha Portuguesa, entre outras, "com vista a promover uma efetiva testagem a curto prazo na região de Lisboa e vale do Tejo, sobretudo na Área Metropolitana de Lisboa". Cada habitante da capital tem direito a dois testes gratuitos por mês e pode fazê-los numa das farmácias aderentes ao programa Lisboa Protege, da autarquia.
DestaquedestaqueO índice de transmissibilidade R (t) do coronavírus em Portugal subiu ontem de 1,03 para 1,06, sendo que a incidência de casos de infeção por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias também aumentou de 52,6 para 55,6.
A testagem em massa foi uma das medidas apresentadas como fundamentais para conter a doença e como alternativa ao confinamento. Carlos Antunes lembrou isso, uma vez mais em declarações ao DN, na semana passada, alertando para o facto de não ser o momento adequado para se reduzir a vigilância, pois poderiam estar a escapar ao controlo cadeias de transmissão que só serão detetadas mais tarde, podendo assim multiplicarem-se. Aliás, o professor da Faculdade de Ciências sublinhou que os bons resultados do país a seguir ao primeiro nível de desconfinamento se deveram à testagem em massa.
O R (t) está acima de 1 há mais de uma semana e, de acordo com o princípio da precaução, não deve manter-se assim durante mais de 15 dias. Na última quinta-feira, Arganil, Lamego, Montalegre e Odemira foram os quatro concelhos que tiveram de recuar um passo no desconfinamento, ficando em alerta Albufeira, Castelo de Paiva, Lagoa. Oliveira do Hospital, Santa Comba Dão, Tavira, Vila do Bispo, Vila Nova de Paiva e Lisboa. O secretário de Estado da Saúde, Diogo Serra Lopes, admitiu ontem que Lisboa ainda pode vir a recuar no desconfinamento, porque "as regras são muito claras" e para todos. Esta avaliação será feita pelo Conselho de Ministros nesta quinta-feira.