Tempos de espera entre os 1043 e os 23 dias

Bastonário dos Médicos diz que há falta generalizada de médicos e que é preciso investir mais em recursos humanos
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Otorrino, dermatologia, ortopedia e oftalmologia são quatro das especialidades das que mais tempo de espera têm apresentado nos últimos anos. No caso de otorrino, segundo os dados disponíveis no Portal do SNS, a espera vai dos 23 dias de tempo médio de espera para uma prioridade normal no Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco, aos 1043 do Hospital de Santo André, em Leiria. Para as todas as especialidades, o tempo máximo de resposta garantido pelo governo é de 150 dias para os casos classificados como normais.

Mas há mais casos semelhantes a este nas consultas para prioridades normais, com espera que vão muito para lá do recomendado em várias especialidades. Em Portimão pode esperar-se 695 dias por uma consulta de gastroenterologia, no Hospital Sousa Martins (Guarda) 719 dias por uma consulta de cardiologia ou 1574 dias para ser visto em primeira consulta por um médico da especialidade de urologia no Hospital São Pedro de Vila Real.

"Já não temos um serviço nacional de saúde como tínhamos há seis ou dez anos. O acesso é cada vez mais difícil. Em algumas áreas a situação é mais grave. Por exemplo, Vila Real devia ter no quadro oito urologistas e só tem dois. Não é sequer um serviço, nem assegura a urgência e estão limitados na capacidade de cirurgias e consultas", diz Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, que lança a questão: "O que tem mudado nos últimos anos? Pouco ou nada".

Há deficiências de recursos humanos em todos os hospitais, afirma o bastonário. "Há falta generalizada de médicos em todas as especialidades. Em dermatologia grande parte dos médicos optou pelo privado e os que ficaram no público têm horários reduzidos. Muitos ortopedistas e radiologistas fizeram o mesmo. É preciso contratar mais pessoas - médicos, enfermeiros e assistentes operacionais - e equipamento", defende, acrescentando: "Temos de recuperar o SNS se quisermos manter as características genéticas do serviço e não acontecer tempos de espera que são uma vergonha para nós".

Preciso mais 250 otorrinos

Artur Condé, presidente do colégio de otorrino da Ordem dos Médicos, fala em três motivos que levam a que a especialidade apresente longos tempos de espera em muitos hospitais. "Otorrino é uma especialidade médico-cirúrgica que trata patologia de todas as faixas etárias, desde as crianças aos idosos. É um universo muito grande e as listas de espera são enormes. Um outro fator importante, que poderia dar uma resposta mais célere a situações simples, seria os cuidados de saúde primários poderem resolver o problema dos doentes sem necessidade de recorrer aos hospitais", enumera, deixando uma sugestão.

"Uma forma de evitar o fluxo, muitas vezes exagerado, seria os médicos de família terem formação mais especifica nas diferentes especialidades e a celebração de protocolos com os hospitais para consultadoria em que os médicos se deslocariam aos centros de saúde, em vez dos doentes aos hospitais, para resolver os casos mais simples", diz.

Em terceiro está "o quadro médico insuficiente de alguns hospitais para a área de referenciação que respondem", referindo que as recomendações são de um especialista por 30 mil habitantes. "No Alentejo são um para 100 mil habitantes. Na Beira Interior e em Trás-os-Montes também. Fizemos uma previsão da necessidade de médicos para os serviços mais carenciados de forma a termo rácio devido em todos os serviços do país e deveriam ser formados mais 250 médicos", explica Artur Condé.

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