"Temos de pensar no chocolate como uma especiaria que potencia muitos pratos"

"Rachel Khoo: Chocolate!" estreia este sábado, dia 3, no 24 Kitchen às 18h00, em episódio duplo. Desta vez, tudo é feito à volta de um dos ingredientes mais amados do planeta
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Assídua nos canais de culinária por toda a Europa e autora de vários livros, Rachel Khoo estreia este sábado no 24 Kitchen um novo programa dedicado em exclusivo ao chocolate. A chef britânica falou ao Diário de Notícias, num exclusivo para Portugal.

De que trata o seu novo programa "Rachel Khoo: Chocolate!"? E porquê o chocolate agora?
Já tinha a ideia de fazer um programa sobre chocolate há algum tempo, preparamos tudo para começar em março do ano passado, mas a pandemia adiou as filmagens. Conseguimos retomar mais tarde, mas tivemos que fazer algumas adaptações. Respondendo à pergunta, para além das minhas receitas é um programa que conjuga viagens e a descoberta do chocolate. Visitamos vários pequenos produtores na Suécia, Reino Unido e Países Baixos e foi muito interessante.

Então nenhum dos episódios passa pelos países mais conhecidos na Europa na produção de chocolate, como a Bélgica e a Suíça?
Não conseguimos por causa da pandemia. Aliás, exploramos a história do chocolate pelo ponto de vista britânico. O Reino Unido tem uma longa tradição com os chocolates. Foi a Rainha Victoria que enviou caixas de chocolates como presente para os soldados britânicos que estavam no campo de batalha na Crimeia (1853/1856) . Encomendou-as a fábricas inglesas para tal. Por outro lado, o que é muito interessante no Reino unido, pelo menos nos últimos cinco anos, é o movimento do chocolate artesanal que tem crescido muito. Pequenos produtores que fabricam e vendem o seu próprio chocolate artesanal.

E tem receitas de chocolate que não sejam doces?
Sim, temos de pensar no chocolate como uma espécie de especiaria que pode potenciar muitos pratos. Quis fazer um programa para mostrar que há um novo mundo para descobrir na utilização do cacau e do chocolate. Claro que tenho também receitas de doces e bolos, mas quis abrir a perceção na forma como se pode usar o cacau em vários pratos, como estufados por exemplo, que se acrescentarem algumas pepitas de cacau elevam o sabor, ou fazer pensar que acrescentar um pouco de pó de cacau a uma bolonhesa vai realçar muito o sabor do tomate. Quis explorar isso, mas só um pouco para não assustar ninguém [risos].

E com a sua experiência em pastelaria, aliás fez um curso na prestigiada Le Cordon Bleu de Paris, conseguiu ser surpreendida com alguns dos sabores?
A maneira como cozinho e crio receitas tenta sempre sair da caixa e pensar diferente. Houve alturas em que estava a experimentar as receitas e por vezes colocava demasiado cacau e não ficavam nada boas (risos). Foi muito bom ter essa liberdade para ser criativa e não fazer apenas as receitas clássicas, senão seria apenas mais um programa com receitas de chocolate sem nada de muito novo.

E descobriu alguma história interessante ligada ao chocolate?
Sim, várias, por exemplo fomos ao Hampton Court Palace, a sudoeste de Londres, visitar uma cozinha que só preparava chocolate quente para a realeza. Era para lá que ia o chocolate quando começou a chegar ao Reino Unido. O historiador do palácio mostrou-nos os utensílios que usavam na altura, sendo que o chocolate quente era feito sem leite, e não era tão doce como hoje. Explicou-nos que juntavam a manteiga de cacau para dar sabor ao chocolate quente. O que é curioso porque atualmente a manteiga de cacau é a parte mais cara na indústria do chocolate e muitas vezes é vendida para a indústria de cosmética.

Gravou os episódios já em pandemia. Como lidou com isso?
Tenho muita sorte porque estive sempre saudável e a minha família mais próxima também. Apesar de alguns membros da equipa terem tido covid-19, estão bem. A pandemia afetou muito o meu trabalho, uma vez que viajo muito, sobretudo entre o Reino Unido e a Suécia onde vivo com a minha família. Mas consegui trabalhar muito durante 2020 e tenho tido muita sorte.

Quando viveu em Paris fez um programa e escreveu um livro sobre a gastronomia local. Depois quando foi viver para Suécia fez o mesmo. Tem planos para ir viver e descobrir a gastronomia de outro país como tem feito até agora?
Agora estou na Suécia, onde, com já referi, tenho a minha família. É bom viver aqui, apesar de ser um pouco difícil no inverno. Espero voltar a viajar num futuro próximo e equilibrar isso com a vida familiar. Agora estou a viver um período mais dedicado a ela. Mas isso não quer dizer que não faça mudanças no futuro. Já vivi no Reino Unido, em França, na Áustria, por isso só o futuro o dirá...

E já visitou Portugal?
Sim já e é uma história curiosa. Quando casei, em 2015, a lua de mel era para ter sido na Sicília, mas disse ao meu marido que queria ir surfar, sou uma surfista péssima, e ele mudou as férias e fomos para Portugal, para Lisboa e as praias perto para eu tentar surfar. Infelizmente, as ondas estavam muito grandes para iniciantes (risos), mas achei o país muito bonito.

E ficou com algum prato na memória?
Sim, tenho várias memórias, como a de uma marisqueira em Lisboa, da qual não me recordo o nome, mas que tinha empregados já com alguma idade mas muito eficientes. E lembro-me dos pequenos toalhetes para limparmos as mãos do tamanho de cartas, o restaurante estava cheio de pessoas muito curiosas e a comida era excelente. Servida de uma forma simples, mas muito fresca e com um sabor muito real que potenciava a excelência do marisco em Portugal. Muitas vezes servem marisco com muitos sabores e ervas, neste restaurante o marisco era servido da melhor forma. E claro, não se consegue ir a Portugal sem provar os pastéis de nata. Fiquei viciada neles.

filipe.gil@dn.pt

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