Temer chama exército para conter protestos em Brasília. 1200 soldados mobilizados

Tropas reforçaram a Esplanada dos Ministérios. Números oficiais dão conta de seis polícias feridos e um manifestante baleado
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Depois de manifestantes atirarem bombas, atearem fogo e vandalizarem edifícios estatais na Esplanada dos Ministérios, sede do poder federal em Brasília, o presidente Michel Temer convocou ao fim da tarde de ontem o exército para os conter. Os protestos eram dirigidos diretamente contra o presidente da República, investigado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção e outros crimes, e contra as reformas laboral e da Segurança Social em votação à mesma hora no Congresso Nacional.

De acordo com a revista Veja, ao todo serão mobilizados 1200 soldados para a zona da Esplanada dos Ministérios.

Após o fim da manifestação, autoridades revelaram, segundo a imprensa brasileira, que seis polícias tinham ficado feridos e que houve um manifestante baleado.

Ao todo, foram contabilizados 49 feridos e sete detidos.

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Temer decretou "a ação de garantia da lei e da ordem", medida excecional utilizável exclusivamente pelo presidente da República "em situações em que se verifique o esgotamento das forças tradicionais de segurança pública" ou "em graves momentos de perturbação da ordem", de acordo com a Constituição brasileira. O decreto foi publicado numa edição extra do "Diário da União" e revelada em comunicação ao país pelos ministros da defesa, Raul Jungmann, e da Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen. É válido por uma semana, ou seja, até ao fim do mês.

O uso desta medida é tão excecional que o juiz do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello quando confrontado com a decisão de Temer interrompeu os trabalhos. "É preocupante, espero que não seja verdade", disse.

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Os protestos começaram de forma pacífica ao longo da manhã mas intensificaram-se durante a tarde com bombas e fogos em pelo menos seis ministérios - das Finanças, da Cultura, da Agricultura, do Turismo, da Saúde e do Planeamento. Houve destruição de documentos de estado, vidros partidos, cadeiras e outros móveis retirados dos edifícios, computadores destruídos e confrontos entre manifestantes, a maioria deles mascarados, e agentes de segurança. Depois de esvaziados os ministérios por ordem do exército, os confrontos continuaram na estação rodoviária de Brasília e noutros pontos. Há relatos de uma bomba da polícia ter explodido no local em que os manifestantes feridos eram atendidos.

No total, 35 mil manifestantes estiveram na capital federal, a maioria viajando nos mais de 50 autocarros que saíram de diversos pontos do Brasil. O protesto principal foi contra a votação na Câmara dos Deputados das reformas laboral e da Segurança Social, principal cavalo de batalha do enfraquecido executivo de Temer. No plenário também houve trocas de insultos e empurrões entre parlamentares durante as discussões.

Os protestos surgem numa altura em que o Brasil vive pelo segundo ano consecutivo momento de enorme turbulência política, com pedidos de impeachment de Temer na sequência de uma gravação do empresário Joesley Batista em que o presidente, entre outros crimes, é acusado de comprar o silêncio de Eduardo Cunha, ex-deputado hoje preso na Operação Lava-Jato. Investigado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva, organização criminosa, obstrução à justiça e crime de prevaricação, Temer está por um fio à frente do governo.

Parte da população pede "diretas já" e exige que as votações impopulares das reformas da Segurança Social e laboral sejam adiadas. Os aliados do presidente tentam votá-las em paralelo com a crise política, enquanto escolhem eventual sucessor de Temer em caso de eleições indiretas, isto é, por votação exclusiva dos 594 congressistas. No Brasil

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