Telemóveis. Quando os médios são "topo", os mais caros ainda se justificam?
"Se não me tivesse mostrado as fotos do outro, essas estavam ótimas!" A frase, de Micaela, uma muito simpática bartender da destilaria Black Pig, no Litoral Alentejano, define na perfeição a diferença entre as imagens captadas pelos dois telemóveis que estive a testar durante mais de uma semana.
A destilaria fica perto de Santiago do Cacém (é na realidade mais próxima da Aldeia de Santo André) e trata-se de um enorme parque, com espaços ajardinados, onde é possível provar cocktails feitos com aquele gin português. Também se podem fazer pequenos "safaris" e ver animais - como o Marvalhas, aqui fotografado.
A comparação entre as fotos colocou-se porque passei uma semana a experimentar, lado a lado, um Redmi Note 12 Pro+ 5G, que custa pouco menos de 500 euros e um Xiaomi 13 Pro, com óticas do fabricante de fotografia alemão Leica, que custa quase três vezes mais (1400 euros).
Ou seja, fui comparar o melhor da gama "média" e um dos modelos de topo do mesmo fabricante, para ver se sentia grande diferença... Uma injustiça, dirá? Olhe que, para uma normal utilização de dia a dia, não muito.
Em baixo, outra perspetiva de Porto Covo:
Não nos iludamos: as definições técnicas e os testes de laboratório não mentem. O processador MediaTek Dimensity 1080, de 6 nanómetros (um octa-core com velocidade até 2,6 GHz), que equipa o Redmi Note 12 Pro+, até é rápido, mas claro que inferior ao Snapdragon 8 Gen 2 do Xiaomi 13 Pro, que é o mais sofisticado que o mercado tem para oferecer neste momento.
Há outra diferença que (obviamente) afeta a desempenho - e o preço: o Redmi vem com 8 gigabytes de RAM, enquanto o Xiaomi traz 12 Gb.
Não é, assim, de estranhar que, comparados (literalmente) lado a lado, seja perfeitamente visível a diferença de velocidades no lançamento de apps e no processamento de quaisquer solicitações. E no entanto...
Em baixo, perspetiva da praia de São Torpes, com vista para o Porto de Sines:
Deixando o Xiaomi de lado, passado alguns segundos a performance do Redmi já se sente absolutamente satisfatória. Nunca falhou ou "engasgou", cumpriu sempre aquilo que lhe foi pedido de forma rápida e eficiente.
O Redmi 12 Pro+ dá, sem dúvida, um salto importante relativamente à geração anterior. Tem um aspeto sólido - corpo totalmente em vidro, com módulo de câmara em metal -, ecrã AMOLED de 6,67 polegadas com brilho máximo de 900 nits e taxa de contraste de 5.000.000:1 (que garantem boa visibilidade mesmo sob luz solar intensa), bem como gama de cores DCI-P3 e Dolby Vision, que de facto garantem uma fiel reprodução cromática.
Além disso, vem com uma poderosa bateria de 5000 mAh e é compatível com carregamento ultrarrápido 120 watts - cujo carregador, como tem sido habitual, o fabricante chinês inclui na caixa.
Associado a uma câmara de grande qualidade (ler mais à frente), faz dele uma proposta a ter em conta se o seu orçamento não pode mesmo "esticar" acima dos 500 euros. Nesse caso, é até provável que não precise procurar alternativa noutro lado.
Mas não pode, sei lá, pedir um crédito e pagar a diferença?
Se já utilizamos hoje o smartphone para fazer quase tudo, é também a vertente "máquina fotográfica" e/ou "câmara de vídeo" que, excetuando nas tarefas de "escritório", acabamos por mais usar. Seja para partilhar nas redes sociais ou simplesmente para guardar recordações, os telefones já substituíram as antigas "compactas" e estão a caminho de fazer o mesmo, arrisco dizer, às semiprofissionais. Em breve, haverá mercado apenas para as ultrassofisticadas máquinas dos repórteres de imagem ou grandes fotógrafos.
Já aqui escrevi, aquando do seu lançamento, uma análise à linha de smartphones 13 da Xiaomi e à nova parceria do fabricante chinês com a marca de fotografia alemã Leica. O resultado, como se ilustrou no artigo, é a possibilidade de fotografar, através do telemóvel, quase com a qualidade de uma máquina profissional.
Isto é conseguido, no Xiaomi 13 Pro, pela utilização de um sensor ótico Sony IMX989 atualmente considerado um dos melhores chips existentes, dada a grande sensibilidade e capacidade de captação de luz. Sobre ele está colocado o sistema de objetivas da Leica - a que chamam Vario-Summicron -, que cobre distâncias focais entre os 14 e os 75 mm, o que é uma grande mais-valia do ponto de vista fotográfico.
Em baixo, já no parque da destilaria Black Pig, o Marvalhas captado em dois momentos seguidos pelos dois telefones:
A câmara principal é uma grande angular de 23 mm, a telefoto (com estabilizador) de 75 mm, e há ainda a ultra-grande angular de 14 mm. Todas, tecnicamente, são câmaras autónomas de 50 megapíxeis que são, a nível interno, integradas com software proprietário da Leica.
Já o Redmi Note 12 Pro+ utiliza o mesmo sensor de 200 megapíxeis que conhecemos no Xiaomi 12T Pro, lançado no ano passado. Tem também o mesmo software de imagem daquele modelo, que se vendia então (preço tabela) por 850 euros.
Só que as coisas evoluem. A Xiaomi conseguiu integrar grande parte dessa tecnologia do 12T Pro neste Redmi a um custo mais baixo (500 euros). O sistema de lentes de sete elementos permite ter uma câmara principal de 200 MP (que utiliza toda a definição do chip), uma câmara ultra-larga 8MP e uma câmara macro de 2 MP. O resultado são as tais fotos que, como diria a simpática Micaela, "são ótimas" - para imagens tiradas num telefone de gama média. A não ser que se vejam as outras, claro...
Nas fotos tiradas com o sistema da Leica, utilizando propositadamente sempre a câmara em modo automático - no caso do 13 Pro, com o software proprietário da marca alemã - é notório como as cores são mais equilibradas, os tons mais "naturais". Mesmo em paisagens, as fotos têm mais profundidade.
O autofocus dos dois é bom - aqui entra o software da Xiaomi, que é eficazmente capaz de reconhecer e manter focado, mesmo em movimento, um rosto ou um objeto - mas no 13 Pro é mais rápido. Este faz ainda, de forma quase "mágica", a passagem automática para a focagem macro, utilizando o zoom ótico para auxiliar na focagem (aliás, ouve-se o pequeno motor a ajustar as lentes), permitindo focar detalhes extremamente próximos sem qualquer dificuldade.
Em baixo: Ainda o Marvalhas, numa demonsrtração como o Redmi começa a falhar nas aproximações macro, em comparação com o Xiaomi.
A maior reclamação que tenho relativamente a estes dois telefones é o facto de ambos estarem disponíveis apenas com 256 GB de memória - sem qualquer outra opção.
De resto, cada telefone não apenas cumpriu como até ultrapassou as expectativas que eu tinha à partida.
Vejo o Xiaomi 13 Pro como uma excelente máquina fotográfica compacta que também faz, e bem, todas as funções que se espera de um smartphone topo de gama.
Olho para o Redmi Note 12 Pro+ como um smartphone sólido e bem construído, que tem uma câmara fotográfica tão acima da média que, à primeira vista, pode fazer perguntar: "Mas é mesmo preciso gastar mais dinheiro?"
A dúvida começa a corroer-nos quando se volta a olhar para as fotos tiradas com o sistema da Leica..