Tártaros vão decidir em referendo posição sobre futuro da Crimeia
A península da Crimeia -- onde a maioria dos habitantes aprovou, em referendo realizado há uma semana, a reunificação com a Rússia -- é habitada maioritariamente por russos, mas um quarto da população é ucraniana
(igualmente ortodoxos) e 12,1 por cento são tártaros (de religião muçulmana).
De acordo com o líder dos tártaros, Mustafa Djemilev, a questão da reunificação vai ser discutida no congresso nacional dos tártaros, a decorrer no dia 29, em Simferopol. "Uma das questões a debater será a autodeterminação do povo tártaro. No dia 16 de março, não participámos no referendo e agora vamos organizar nós um referendo", frisou.
As questões que vão constar do referendo ainda não foram redigidas, mas a pertença territorial da Crimeia não deverá ser posta em causa, focando antes nas "formas de coexistência" no futuro, adiantou.
O líder tártaro deu a entender que a escolha não será fácil, já que as novas autoridades da Crimeia garantiram à comunidade uma quota em todos os órgãos de poder, válida por 20 anos, igualdade de estatuto para as línguas russa e tártara e apoio aos tártaros que, deportados durante o regime soviético de Estaline, queiram regressar à região.
Porém, contrapôs, há funcionários tártaros a serem despedidos e avisados de que só serão readmitidos se optarem pela cidadania russa.
No final, resumiu, a decisão dependerá muito da atitude das autoridades da Ucrânia e da sua capacidade para defender a permanência dos tártaros na Crimeia. "Vamos consultar as autoridades [ucranianas] sobre as nossas ações, mas se as autoridades nos abandonarem...", avisou.
De acordo com Djemilev, cerca de cinco mil tártaros deixaram a Crimeia nos últimos dias, dirigindo-se sobretudo para regiões no Oeste da Ucrânia. A comunidade tártara na Crimeia está estimada em 300 mil pessoas.
No referendo de 16 de março, 96,6 por cento dos votantes da Crimeia votaram a favor da reunificação com a Rússia e o Parlamento da Crimeia pediu ao Presidente russo, Vladimir Putin, para que aceite a república ucraniana no seio da Federação Russa.
O referendo, cujas duas perguntas eram "Aprova a reunificação da Crimeia com a Rússia como membro da federação da Rússia?" e "Aprova a restauração da Constituição da Crimeia de 1992 e o estatuto da Crimeia como fazendo parte da Ucrânia?", é considerado ilegal pelas novas autoridades de Kiev e pela maioria da comunidade internacional. Só Moscovo defende que se trata de uma consulta "legítima".
As autoridades autónomas da Crimeia convocaram o referendo de domingo na sequência da deposição do Presidente ucraniano pró-russo Viktor Ianukovich, em fevereiro, após três meses de violentos protestos em Kiev, liderados pelas forças da oposição.
Depois da queda de Ianukovich, forças apoiadas pela Rússia assumiram o controlo da península do sul da Ucrânia, transformada no foco do mais grave conflito entre Leste e Ocidente desde o final da Guerra Fria.