TAP. Antonoaldo Neves sai e os próximos meses serão de Ramiro Sequeira

Antonoaldo Neves deixou a presidência executiva da TAP. O senhor que se segue é Ramiro Sequeira, que tem como missão aguentar a companhia durante este período de turbulência. Mas por pouco tempo. Consultora internacional irá recrutar novo CEO.
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Ramiro Sequeira foi, nos últimos dois anos, diretor de operações da TAP e chega agora à presidência executiva após a saída de Antonoaldo Neves. O gestor que liderava a companhia portuguesa desde os primeiros meses de 2018 despediu-se ontem dos trabalhadores com uma carta, na qual afirma que sai "com a consciência e com o coração completamente tranquilos por ter dado o meu contributo, profissional e enérgico, sempre para o melhor da TAP".

O mal-estar entre o governo e Antonoaldo Neves era notório há meses. E quando, em julho, o Estado confirmou a aquisição da posição de David Neeleman no consórcio privado Atlantic Gateway (que detinha 45% da TAP), ficando com uma participação de 72%, o ministro das Infraestruturas deixou claro que Neves estaria de saída. E que seria encontrada uma solução transitória até que uma consultora internacional, que vai ser contratada, escolhesse um candidato definitivo para o lugar.

Ramiro Sequeira é assim um presidente executivo a prazo, com um mandato que deverá durar alguns meses, mas com uma missão dura pela frente. A TAP já recebeu quase 500 milhões de euros da ajuda de Estado (que pode chegar até 1,2 mil milhões de euros). Em contrapartida, tem de executar um plano de reestruturação. Para isso, foi contratada em agosto a consultora Boston Consulting Group (BCG). A expectativa é que o desenho desse plano esteja concluído no final do próximo mês, mas os "sacrifícios", como descreveu recentemente o chairman da empresa, Miguel Frasquilho, já começaram.

Centenas de trabalhadores, que estavam com um vínculo a prazo, já saíram da empresa e mais deverão sair até ao final do ano. A TAP aderiu de abril a julho ao regime de lay-off simplificado e desde então ao regime de apoio à retoma progressiva, mantendo assim dezenas de trabalhadores com redução de horário.

A transportadora aérea ainda não está a realizar todas as rotas que tinha antes da pandemia - nem frequências. E a retoma de algumas rotas tem estado envolta em polémica. Nos últimos dias, o JN escrevia que o Porto ia voltar "a ficar de fora dos planos de retoma da TAP" e, num esclarecimento enviado à Lusa, a empresa "sublinha que não anunciou ainda o total da sua operação para o verão 2021".

A turbulência na TAP pode não ter um ponto final tão cedo. Miguel Frasquilho já admitiu que a companhia aérea vai ter de "encolher" embora tenha de manter uma dimensão que lhe permita defender os interesses do país. Essa tem sido uma das bandeiras do governo e que justificaram a ajuda de Estado na sequência da pandemia.

Ainda há dias, Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, admitia que "está a ser feito um grande esforço para auxiliar e salvar a TAP, porque entendemos que é uma companhia aérea demasiado importante para a economia portuguesa para desistirmos dela, mas o esforço financeiro que está a ser feito exige que nós consigamos ter uma empresa viável e sustentável".

O governo pretende realizar a reestruturação "da forma menos traumática possível, mas nós não podemos manter uma dimensão da TAP que não é necessária para a procura que temos", acrescentou Pedro Nuno Santos. "Temos de fazer um ajustamento à realidade que enfrentamos, para que possamos gerir melhor o dinheiro de todos os portugueses", sublinhou o governante citado pela Lusa, referindo que a preocupação do governo é manter a TAP "saudável e viável".

Rotas, trabalhadores e aviões podem ser parte da receita para emagrecer a transportadora aérea. Antes da pandemia, a companhia tinha uma frota de mais de cem aeronaves, voava para mais de 80 destinos e, em 2019, tinha transportado mais de 17 milhões de passageiros.

Ana Laranjeiro é jornalista do Dinheiro Vivo

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