Tanto mar dentro destas concertinas

Danças Ocultas apresentam Dentro Desse Mar ao vivo numa conversa entre este quarteto e o violoncelo de Morelebaum, percussões, teclas e voz. Foles que nos fazem querer dançar. Hoje há concerto em Aveiro
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Logo a abrir, o Brasil já ali está, quando arrancam as percussões de Azáfama, a música de abertura de Dentro Desse Mar e tema de apresentação do novo álbum das Danças Ocultas. A noite de outono ficou lá fora e há uma alegria indizível que se resgata nestas conversas de um quarteto de concertinas com um violoncelo, percussões e teclas - e ainda a voz.

Neste concerto no Teatro Tivoli, em Lisboa, este sábado à noite em Lisboa, depois de um primeiro em Coimbra, os quatro instrumentistas contaram com a presença em palco de Jaques Morelenbaum, o violoncelista que produziu o álbum e que os ajudou a desbloquear as soluções de sempre a que chegavam no momento de dar forma ao álbum, como confessaram na entrevista ao DN. E essas soluções permitiram o tal cheiro tropical que se desenham logo a abrir em Azáfama ou se notam em Dessa Ilha, a canção com letra de Arnaldo Antunes que Dora Morelenbaum canta com leveza.

Não está ainda dado o mote para uma noite de excelência: a esse mar todo em que mergulham Artur Fernandes, Filipe Cal, Filipe Ricardo e Francisco Miguel, as quatro concertinas ficam também sozinhas em palco numa demonstração de um som orgânico e de uma paleta de ritmos e timbres que, desde o primeiro álbum homónimo de 1996, nos mostra como este é um dos projetos mais singulares da música moderna portuguesa.

Ao sopro do fole, à respiração dos instrumentos, as quatro concertinas provam que, mesmo sem a presença dos outros convidados, um concerto das Danças Ocultas não é algo mediano: a transcendência de Oníris, a leveza de Queda D'Água ou a genialidade de Dança II - numa versão que transcende em muito a música primitiva de 1996 - são cartão de visita mais que suficiente deste quarteto. E, no final, cá fora, alguém se espantava com o que as Danças Ocultas conseguiam fazer de cada uma das concertinas.

Se em Azáfama (ou na sua variação final que é Azaf), as teclas de Marco Figueiredo ganham um papel principal, se as percussões de Quiné vão pontuando o ritmo nos temas mais recentes, como em As Viajantes, e se em Sorriso a delicadeza do violoncelo dialoga na perfeição com as concertinas, é claro desde o início - como já o era no disco - que as concertinas são as protagonistas principais. E cabe tanto mar dentro delas.

Este domingo à noite, as Danças Ocultas sobem ao palco no Teatro Aveirense, em Aveiro. Dia 21 estarão na Casa da Música, no Porto. Há danças que não se podem perder.

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