Surto de listeriose já atingiu 150 pessoas em Espanha. Carne não veio para Portugal
O surto de listeriose em Espanha já afeta 150 pessoas, mas os casos suspeitos elevam-se a 529. Só na região da Andaluzia o número de pessoas infetadas subiu para 132, das quais mais de 50 estão hospitalizadas, incluindo 23 mulheres grávidas. A primeira vítima mortal é uma mulher de 90 anos, residente na Andaluzia, que não resistiu à infeção na madrugada de segunda-feira.
A Direção Geral de Alimentação e Veterinária esclareceu esta quarta-feira que a carne contaminada com a bactéria 'Listeria monocytogenes' da marca "La Mechá" e os produtos com origem no seu fabricante (Magrudis) espanhol, não são comercializados em Portugal.
Em comunicado, a Direção Geral de Alimentação e Veterinária explica que está a acompanhar a evolução do surto de listeriose detetado em 15 de agosto na Andaluzia, em Espanha, e esclarece que o alerta emitido pelo RASF, Sistema de Alerta Rápido para a Segurança Alimentar na União Europeia, indica que o produto contaminado com 'Listeria monocytogenes' foi distribuído e comercializado exclusivamente em Espanha.
A Direção-Geral de Saúde explica que a listeriose "é uma infeção causada pela bactéria Listeria monocytogenes (L. monocytogenes), habitualmente associada ao consumo de alimentos contaminados". "Apesar de pouco frequente, a infeção pode ser grave, especialmente em imunodeprimidos e recém-nascidos."
A Direção Geral de Alimentação e Veterinária alerta os viajantes que tenham como destino aquela região de Espanha, para a necessidade de adoção de medidas preventivas, nomeadamente a eliminação de produtos daquela marca que eventualmente possam ter na sua posse.
Este surto de listeriose é já considerado o maior registado em Espanha, tendo começado a 15 de agosto, com 80 pessoas infetadas na Andaluzia. Teve origem num lote de carne picada da marca La Mechá, fabricada pela empresa Magrudis, com sede em Sevilha. A produção e distribuição desta carne foi cancelada a 14 de agosto e um dia depois a Direção Geral de Saúde Pública decretou um alerta sanitário sobre este produto, depois de se ter comprovado que era o agente responsável pelo surto de listeriose.
O governo da Andaluzia ordenou a paralisação da atividade e a retirada de todos os produtos da empresa sevilhana Magrudis, cuja carne da marca "La Mechá" estará na origem de um surto de listeriose.
A paralisação da atividade fabril foi adotada "do ponto de vista da prevenção", segundo o porta-voz da Junta da Andaluzia para esta crise de saúde, José Miguel Cisneros.
Andaluzia separou essa medida do possível surgimento de novos produtos contaminados e argumentou que a bactéria Listeria só foi detetada na carne "La Mechá", cuja produção foi paralisada a 15 de agosto.
O responsável insistiu que a listeriose é uma doença de declaração obrigatória desde 2011, pelo que a sua deteção e controle está sujeita a procedimentos protocolizados, que o Conselho da Andaluzia está a cumprir.
O diretor da unidade infecciosa do Hospital Virgen del Rocío, em Sevilha, onde há mais hospitalizados devido ao surto, reiterou o seu apelo à tranquilidade da população. "Somente os pacientes que consumiram o produto identificado têm que ir ao médico, os outros, que não se preocupam, porque não têm Listeria", acrescentou.
José Manuel Cisneros defendeu "uma análise calma" da crise tendo em conta o facto de todos os dados serem conhecidos.
"Seria injustificável uma situação de pânico" quando a fonte da contaminação foi identificada, acrescentou.
A Listeria, adiantou, está presente em 1% da população sem efeitos patogénicos e "só causa doenças quando um alimento é contaminado e ali se reproduz e atinge quantidades que constituem uma ameaça à saúde".
Jesús Aguirre, médico e conselheiro de saúde na Junta da Andaluzia, admite a possibilidade de surgirem mais casos. Em entrevista à rádio Cope, Aguirre explicou que "o período de incubação da bactéria é muito variável", sendo que pode demorar até 70 dias. "Acredito que vão confirmar-se mais casos", disse.
A ministra da Saúde em funções admitiu esta quarta-feira que algo falhou nos procedimentos, o que originou o surto da doença. "Tem de haver agora inspeções e investigações por parte dos funcionários da Junta de Andaluzia, porque é uma competência autónoma. E saberemos onde ocorreu a falha. Mas, obviamente, aconteceu uma falha uma vez que os procedimentos são implementados para que isto não aconteça", afirmou María Luisa Carcedo, citada pelo El País.
De acordo com a imprensa espanhola, um erro no laboratório da Câmara de Sevilha terá atrasado até quatro dias a identificação da carne contaminada com listeriose, o que adiou a declaração de alerta de saúde. Como consequência, a retirada do produto nas lojas poderia ter sido feita mais cedo.
Jesús Aguirre admitiu que talvez a origem do surto pudesse ter sido detetada mais cedo, mas garante que a Junta de Andaluzia "agiu rapidamente". O responsável refere mesmo a possibilidade de "dois ou três dias de atraso" na deteção da origem deste surto.
"Sabíamos que alguma coisa se estava a passar no início de agosto porque tivemos um ressalto no número de casos. Mas até o primeiro surto familiar ocorrer a pesquisa epidemiológica não nos levou até dois ou três produtos. No dia 14 confirmou-se que a origem estava em "La Mechá" e suspendeu-se a saída da carne. Decretámos o alerta sanitário no dia seguinte", esclareceu.
Aguirre afirmou que o tratamento que está a ser feito aos doentes é "muito eficaz" e que o sistema de saúde está a funcionar bem. "Esperamos que a evolução dos pacientes seja a melhor possível", disse à rádio Cope.
A maior parte dos casos regista-se em Sevilha e Huelva, mas já existem pessoas infetadas na Estremadura, Catalunha e em Madrid.
O gerente da empresa de Sevilha Magrudis, que fabrica a marca La Mecha, disse ao jornal ABC que já foram recolhidos os dois lotes, com cerca de duas mil embalagens da carne onde foi identificado o foco deste surto de listeriose. "Não sabemos se todo o lote está contaminado ou apenas uma parte", referiu José Marín.
O responsável pela empresa diz ainda que não foi encontrada nenhuma anomalia nas instalações da fábrica ou na rede de produção que possa explicar a contaminação da carne. Marín afirma que poderá ser "um agente externo" o responsável pelo surto. "Não sabemos de onde vem a listeriose", admitiu. Garante, no entanto, que "todos os protocolos de segurança" foram cumpridos e que têm estado a colaborar com as autoridades.
Esta bactéria causa problemas digestivos, diarreia e vómitos, acompanhados de febre. É particularmente perigosa nas grávidas e nos recém-nascidos. Assim como nos idosos e nas pessoas imunodeprimidas, podendo atingir uma taxa de letalidade de 30%, segundo a Direção-Geral de Saúde.
* Com Lusa