Surpresa eleitoral coloca professor contra Fujimori

Pedro Castillo foi o mais votado na primeira volta das presidenciais, graças ao voto rural. Se não houver surpresas, a 6 de junho enfrenta Keiko.
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Com quase duas dezenas de candidatos e sondagens que mostravam empate técnico entre quatro ou cinco deles, a primeira volta das presidenciais peruanas era uma verdadeira incógnita. E mesmo assim o resultado da votação de domingo ainda conseguiu surpreender. O professor de uma escola rural e sindicalista Pedro Castillo, cujo lema é "já basta de pobres num país rico", foi o vencedor, com 19% (quando estavam contabilizados 95% dos votos). Na segunda volta, a 6 de junho, deverá enfrentar Keiko Fujimori, filha do polémico ex-presidente Alberto Fujimori, que, apesar de ser investigada por corrupção, teve 13,3%. Depois de ter sido segunda em 2011 e 2016, será que à terceira é de vez?

Castillo, de 51 anos, conseguiu o voto das zonas mais pobres do centro e do sul do Peru - venceu em 16 das 24 regiões, tendo mesmo mais de 50% nos Andes. Pelo contrário, não ficou entre os cinco primeiros na conservadora capital, Lima. Praticamente desconhecido das elites peruanas, Castillo saltou para a ribalta em 2017, quando liderou milhares de professores numa greve nacional, tendo anunciado só em outubro do ano passado que era candidato à presidência pelo partido de extrema-esquerda Peru Livre.

Uma das promessas eleitorais é alterar a Constituição, herdada de Alberto Fujimori, e também apostar nas nacionalizações em setores como as minas. Do ponto de vista social, é conservador, sendo contra o aborto ou o casamento homossexual. "A mudança e a luta estão apenas a começar", disse Castillo, que terá agora de se defender das acusações de afinidade com o regime venezuelano ou das ligações ao braço político da antiga guerrilha do Sendero Luminoso - que ele negou na campanha.

A segunda volta contará, mais uma vez, com a herdeira política do ex-presidente Alberto Fujimori - que na década de 90 foi responsável por acabar com o Sendero Luminoso e pela grande reforma económica no Peru, mas que se demitiu por fax, numa viagem ao Japão (tinha dupla nacionalidade), em 2000, quando enfrentava denúncias de abusos dos direitos humanos e corrupção. No regresso ao Peru, seria condenado.

Apesar de estas serem as terceiras presidenciais que Keiko, de 45 anos, disputa, não era vista como favorita - por causa dos processos por corrupção que enfrenta (tendo já passado vários meses detida). Mas os seus 13,3% (por comparação, teve quase 40% na primeira volta em 2016) punham-na à frente de outros dois candidatos de direita, Rafael López Ariaga e Hernando de Soto, ambos com 11,6%. Só uma surpresa de última hora deverá afastá-la da segunda volta.

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