Standard & Poor's: vêm aí fusões na banca europeia

Agência de notação financeira prevê uma onda de concentrações na banca na sequência da pandemia. O ano de 2021 pode ser o pior para o setor financeiro desde a crise de 2009.
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"Os bancos vão consolidar mais." É assim que a agência de rating Standard & Poor's (S&P) vê o futuro do setor bancário na Europa. "[Vemos] um crescente momentum para uma consolidação na banca europeia, sobretudo entre bancos domésticos", refere a S&P numa análise divulgada ontem sobre o setor. Em Portugal, tem havido especulação sobre uma eventual consolidação envolvendo o Banco Montepio ou o Novo Banco. Também o Millennium bcp foi mencionado recentemente, numa análise do Goldman Sachs, como podendo vir a ser integrado pelo CaixaBank ou pelo Santander no futuro.

Esta especulação surge quando o setor atravessa uma das maiores crises de sempre, tal como a economia, na sequência das medidas implementadas pela maioria dos governos europeus para controlar a pandemia de covid-19, que afetam gravemente a atividade económica.

Para a S&P, a deterioração da qualidade dos ativos dos bancos só começará a ser visível em 2021, quando terminarem algumas medidas, incluindo as moratórias, que impedem que os bancos registem um aumento do nível de crédito malparado.

Entre os fatores que suportam um movimento de consolidação está o excesso de oferta e a baixa rentabilidade na banca em alguns países. "Há muito espaço para fusões e aquisições na maioria dos países sem levantar questões de concorrência", diz. A agência de notação financeira também deteta uma "pressão prolongada nas receitas e um crescimento orgânico limitado".

Por outro lado, há oportunidades de aquisição "devido às taxas de juros ultrabaixas e à profunda desaceleração económica desencadeada pela crise". Também o poder político e os reguladores estão mais favoráveis à consolidação do setor. "Os reguladores parecem mais preocupados com a sustentabilidade de modelos de negócio dos bancos do que com receios de que fiquem grandes de mais para falir", adianta.

O facto de ser necessário mais investimento em digitalização e tecnologia é outro catalisador para fusões e aquisições. Depois, "uma vez que comecem as operações de concentração num determinado mercado, o medo de perder o processo de consolidação pode encorajar mais bancos a participarem".

A jogar contra este movimento de concentração está a o facto de a União Bancária não estar "suficientemente avançada para justificar grandes fusões transfronteiriças". " A administração e os acionistas estão focados em prioridades de curto prazo, como mitigar o impacto" da crise e na melhoria da eficiência de custos, o que pode atrasar processos de fusão. A S&P vê como outro obstáculo o facto de o " apoio dos acionistas para fusões e aquisições depender de grandes sinergias de custo e receita para justificar a aquisição". Além de que "as perdas de empregos resultantes de fusões e aquisições podem ser politicamente difíceis" de gerir.

Em geral, a S&P prevê que os resultados dos bancos comecem a melhorar ligeiramente em 2021, mas os ganhos serão "limitados". Também antecipa que "a recuperação económica continuará até 2021" e prevê que "a segunda onda de contágios não levará ao tipo de confinamento total que foi imposto na primavera".

Segundo a S&P, "as autoridades só reduzirão as medidas de apoio quando a recuperação económica estiver no bom caminho".

"Esperamos que o PIB [produto interno bruto] da zona do euro recupere 6,1% em 2021, após contrair 7,1% neste ano", explica. As economias dos diferentes países europeus irão "recuperar a velocidades diferentes, com a Alemanha a liderar". As "medidas extraordinárias dos governos serão gradualmente eliminadas, mas novos estímulos orçamentais irão assumir a liderança, apoiados pelo Fundo de Recuperação da União Europeia". Quanto à política monetária, "permanecerá altamente acomodativa e dará suporte a um ambiente de" financiamento a baixo custo.

Mas há riscos neste cenário. "Os riscos incluem uma segunda onda de contágio, atrasos na implementação do Fundo de Recuperação da UE e falta de um acordo comercial entre o Reino Unido e a União Europeia", considera a S&P.

Elisabete Tavares é jornalista do Dinheiro Vivo

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