Sócrates entusiasma fãs pelo fim da "guerra ao terror" dos EUA

Numa grande sala esgotada, centenas de fãs aplaudiram o ex-primeiro-ministro, acusado de corrupção, a defender direitos humanos
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De gravata vermelha a condizer com o rubro da capa do novo livro, cujo cartaz servia de cenário no palco, José Sócrates agarrou esta tarde, num hotel no centro de Lisboa, a emoção e entusiasmou centenas de fãs, entre militantes socialistas e amigos, na apresentação do seu mais recente livro "O mal que deploramos". Na plateia, estavam principalmente muitos anónimos, mas também algumas caras conhecidas, como Carlos Silva, secretário-geral da UGT, e o seu antecessor, João Proença, o ex-secretário de Estado Paulo Campos e a ex-deputada Celeste Correia.

A obra fala sobre a a guerra ao terror, protagonizada pelos EUA, através dos drones, e Sócrates partilhou com uma grande sala esgotada as suas preocupações com os direitos fundamentais violados. "Está no momento de dizer: isto não está a correr bem!", declarou, depois de explicar o seu ensaio, onde apresenta teses de vários peritos que demonstram que a guerra ao terrorismo não se faz pelas armas mas pelo diálogo político. Citou o ex-presidente israelita, Yitzhak Rabin, para dizer que "quem pensa que se combate o terrorismo com a guerra, não conhece nem a guerra, nem o terrorismo".

"O José Sócrates é uma pessoa cheia de humanidade e muito atual nos temas que o preocupam e é isso que mais me cativa nele", afirma Cristina Martins, que faz questão em dizer que é "militante do PS número 23778 de Coimbra". Está com um grupo de seis outros socialistas, de outros pontos do país, que acenam com a cabeça em concordância. Cristina faz também questão em dizer que está ali "porque faz parte da essência do PS a solidariedade". "Estranho que muitos camaradas se tenham esquecido disso, principalmente aqueles que devem tudo o que são ao camarada Sócrates", sublinha, sendo de novo apoiada pelo grupo. Ao DN, Paulo Campos e João Proença disseram que estavam ali "como amigos", elogiando a oportunidade do tema lançado.

O ex-primeiro-ministro, acusado de 31 crimes (três de corrupção passiva, 16 de branqueamento de capitais, 9 de falsificação de documento e 3 de fraude fiscal qualificada), mostrou a sua sensibilidade com a "injustiça" da situação dos prisioneiros de Guantânamo , "a maior vergonha da democracia de todos os tempos" e assumiu ser contra a tendência securitária no ocidente: "não me venham dizer que vale a pena perdermos um pouco da nossa liberdade pela segurança. Temos visto o resultado que tem dado", assinalou. No seu entender "é pela perseguição penal, com julgamentos" que se combate o terrorismo, como está demonstrado em vários estudos.

Mas foi quando se referiu à Catalunha que mais galvanizou a sala e chegou mesmo a ser interrompido com aplausos. Falava, nos "tiques" securitários que estão a dominar a Europa, quando pediu um "parêntesis": "vejo com preocupação que não haja ninguém na Europa que diga que é preciso diálogo. Está a confundir-se desobediência civil com desobediência criminal" e a resposta "não é prender um milhão de pessoas que pensam diferente". No final, uma longa fila de fãs aguardou pacientemente pelo autógrafo nos livros que compraram.

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