Sob panelaço, Bolsonaro diminui tom de confronto com a OMS

"Prevenção importa mas o emprego deve ser preservado", disse o presidente do Brasil , em discurso à nação, ao usar palavras distorcidas do diretor geral do organismo para simular uma aproximação de pontos de vista
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"Prevenção importa mas o emprego deve ser preservado", disse Jair Bolsonaro em pronunciamento oficial ao Brasil na noite desta quinta-feira. Num tom muito mais conciliatório do que o usado anteriormente, o presidente brasileiro tentou aproximar o seu discurso ao do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas nem assim convenceu a população, que o brindou com um sonoro panelaço ouvido em centenas de cidades do país.

Segundo Bolsonaro, o etíope Tedros Ghebreyesus, já fala, tal como ele, "em preservação de emprego e combate à fome". No entanto, o presidente brasileiro distorceu uma conferência de imprensa do diretor-geral da OMS.

Ghebreyesus dissera na véspera que os trabalhadores "precisam trabalhar para ter o pão de cada dia", acrescentando que "os governos devem atuar para garantir que todos possam cumprir o isolamento social".

Mas o deputado Eduardo Bolsonaro, terceiro filho do presidente, publicou um vídeo horas depois na rede social Twitter onde destacava a primeira frase e ignorava a segunda. Jair Bolsonaro, logo pela manhã, em conversa com os jornalistas no Palácio do Alvorada, aproveitou esse vídeo para legitimar a tese de que a reclusão social, recomendada pelos ministérios da Saúde de quase todos os governos mundiais, incluindo o seu, deve ser flexibilizada, pois afeta a economia.

Sabendo do uso distorcido das suas palavras, Ghebreyesus usou o Twitter para reforçar que pessoas "sem salários regulares ou poupanças merecem políticas sociais que garantam dignidade e lhes permitam medidas contra o Covid-19 seguindo orientações de saúde da OMS e de autoridades locais". O diretor da OMS afirmou ainda que, por ter crescido entre a pobreza, entende a situação. "Por isso, peço aos países que desenvolvam políticas de proteção económica".

Mesmo com esse reparo do líder da OMS, à noite Bolsonaro voltou a insistir na distorção das suas declarações.

No último discurso à nação, mais agressivo, o presidente do Brasil chamara o coronavírus de "gripezinha", pedira à população para retomar a rotina e dissera não entender o motivo das aulas estarem suspensas. Ainda, acrescentou na ocasião estar tranquilo caso seja contaminado pelo vírus por ter "histórico de atleta" e acusou a imprensa de provocar pânico.

O Ministério da Saúde anunciou em conferência de imprensa horas antes que subiu para 201 o número de mortes em decorrência do novo coronavírus no Brasil - aumento de 42 mortos em 24 horas, maior número registado no Brasil no período. No total, são 5717 casos oficiais confirmados no país - 1138 diagnósticos confirmados em um dia - e 3,5% de letalidade, informou o ministério.

Nessa conferência de imprensa o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta, que vem sendo desautorizado por Bolsonaro, reforçou a defesa do isolamento. Os principais ministros do governo, Sergio Moro (justiça) e Paulo Guedes (economia), também vêm fazendo quarentena voluntária, no que vem sendo entendido como um choque com o seu líder.

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