Só 3% das pessoas já vacinadas em Portugal é que recusaram tomar a dose de reforço

Portugal ultrapassou ontem os nove milhões de vacinados com duas doses e tem quase seis milhões com a dose de reforço - um número que o destaca de muitos outros países europeus e do mundo. Chegados aqui, as necessidades de vacinação são muito mais reduzidas. E há centros de vacinação que vão começar a fechar, mas o processo vai continuar. Pelo menos, até ao verão, porque ainda falta vacinar todos os infetados desta última vaga.
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O balanço da vacinação contra a covid-19 é positivo em Portugal. Neste momento, o país tem 92% da população com o esquema vacinal completo (duas doses), ficando muito acima do que foi alcançado por outros parceiros europeus, nomeadamente a França, que ficou nos 77.6%, o Reino Unido, com 71.9%, a Alemanha, que tem 74.9%, ou até da Espanha, que ainda está nos 83.6% de população vacinada - dados ontem revelados pela plataforma internacional ourworldindata. Perante esta realidade, pode dizer-se que Portugal é dos países que tem quase a totalidade da população protegida, pelo menos, com o esquema vacinal primário.

Isto mesmo também é confirmado pelos dados divulgados no relatório diário de vacinação de ontem da Direção-Geral da Saúde (DGS). Até agora, 9 000 183 de pessoas já receberam as duas doses da vacina contra a covid-19 e 5 926 191 receberam a dose de reforço, destinada só a maior de 18 anos. E do total de vacinados com o esquema primário (mais de 9 milhões), só 3% disseram "Não" à dose de reforço. "É uma percentagem muito residual e muito idêntica à das pessoas que recusaram a vacinação primária", argumentou ao DN o coronel Carlos Penha Gonçalves, coordenador do Núcleo de Apoio à Vacinação.

Mas, apesar desta percentagem elevada de vacinados, o processo vai ter de se prolongar até ao verão, ao contrário do que tinha sido previsto inicialmente - a meta definida para a conclusão do processo era a primavera (março ou abril). O médico militar explicou que tal se deve ao facto de ser "necessário vacinar todas as pessoas que foram infetadas durante esta última vaga e que só poderão receber a vacina de reforço cinco meses após a data da infeção".

Ao todo, e de acordo com os dados da DGS, mais de um milhão de portugueses foram infetados entre o mês de dezembro e o de fevereiro. Portanto, "estas pessoas vão ter de receber a terceira dose entre junho, julho e agosto", sublinhou Penha Gonçalves.

Simplesmente, as necessidades diárias de agora não justificam o dispositivo montado para vacinar em massa a população com a dose de reforço. "De setembro até agora tivemos um processo de vacinação massiva. Só que o número de pessoas que temos neste momento para vacinar todos os dias é muito menor e estamos a adaptar o dispositivo às novas necessidades", referiu ao DN o coordenador do núcleo.

Até aqui, a necessidade impunha a vacinação de 80 mil, 90 mil ou até de mais de 100 mil diariamente. A partir de agora, "haverá para vacinar cinco mil a dez mil pessoas por dia. No máximo teremos de vacinar cerca de 100 mil por semana, o que quer dizer que as necessidades são muito mais reduzidas, não havendo necessidade de termos tantos centros de vacinação abertos", disse.

Aliás, isto mesmo, já tinha sido anunciado pelo secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, há uma semana ao referir que apenas se iriam manter a funcionar 139 dos 192 centros de vacinação de todo o país. Contudo, uma boa parte desta resposta passará para os centros de saúde, já que aos 98 centros de saúde que faziam vacinação vão juntar-se mais 47 - ao todo serão 135 centros de saúde.

"O sistema vai manter uma capacidade de vacinação bastante elevada de forma a poder aumentar muito rapidamente caso seja necessário", reforçou o coronel, destacando que "esta capacidade será avaliada semana a semana e adaptada. O sistema fica adormecido, mas não está desativado e quando for necessário dar resposta à população que ainda não tem a terceira dose voltará a ter mesma capacidade", referiu o médico militar.

Segundo explicou ao DN, o processo de encerramento dos postos de vacinação e da passagem de competências para os centros de saúde está a ser feito de forma gradual. "Estamos a dar alguma flexibilidade às autoridades de saúde locais para que, em conjugação com as autarquias, regulem a forma como querem encerrar este processo", afirmou.

Por isso mesmo, "não pode ser um processo uniforme em todo o país, porque as necessidades não são as mesmas. Há alguns centros que estão muito mais avançados na conclusão da vacinação, sobretudo porque têm populações mais idosas, mas há outros centros, como os das grandes áreas populacionais, que ainda têm pessoas para vacinar, e é nesse sentido que dizemos que o processo de fecho dos postos de vacinação tem de ser adaptado às necessidades de cada local".

Carlos Penha Gonçalves dá como exemplo a área de Lisboa que, desde novembro, tem tido um único grande centro a funcionar, o da FIL, no Parque das Nações, que fechará já neste domingo, mas para se continuar a dar resposta vão ser reabertos os centros da Ajuda, de Telheiras, no Templo Hindu, e o das Olaias-Areeiro, nos serviços sociais da Câmara Municipal de Lisboa. "São centros com menor dimensão, que irão funcionar com horários mais reduzidos, mas que irão dar resposta às necessidades atuais", justificou.

Portugal continua a cumprir a norma da DGS para o reforço com a terceira dose que estipula a vacinação de maiores de 18 anos, mas ao mesmo tempo continua a vacinar as crianças dos 5 aos 11 anos para o esquema vacinal primário. Até ao momento, 334 460 já têm pelo menos uma dose da vacina e 179 499 as duas doses. Neste momento, ainda não há decisão da DGS sobre se as faixas etárias mais jovens, dos 12 aos 17 anos e dos 5 aos 11 anos, devem ou não receber a terceira dose.

O coordenador do Núcleo de Apoio à Vacinação espera que a população portuguesa, e como estamos a entrar numa fase descendente da incidência da doença, não esqueça a importância que tem a vacinação na proteção contra a doença grave e contra a mortalidade. "Continuaremos a chamar para a vacinação todas as pessoas elegíveis e esperamos que as pessoas continuem a comparecer a esta chamada", concluiu o coronel Carlos Penha Gonçalves.

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