Ska Keller - a nova geração a liderar a onda Verde

"É a loucura", reagiu Ska Keller, a cabeça de lista dos Verdes na corrida à presidência da Comissão Europeia, ao facto de os ecologistas terem ultrapassado o SPD nas europeias na Alemanha.
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Lidera a lista dos Verdes alemães ao Parlamento Europeu, depois de ter já ter cumprido um mandato. É, pela segunda vez, Spitzenkandidat, desta vez em parceria com o holandês Bas Eickhout, família política que pode ter uma palavra importante na formação de maiorias e na articulação parlamentar entre as bancadas pró-UE. Natural de Brandeburgo, Ska Keller tem 37 anos, estudou Estudos Islâmicos e Judaicos nas universidades de Berlim e de Istambul e em 2009 foi eleita deputada ao Bundestag. Faz parte da nova geração dos Verdes, muito mais pragmática do que radicalmente ideológica, e os efeitos dessa nova vaga podem refletir-se a curto prazo na política alemã e, por via disso, na europeia.

Esgotar o momento europeu à ascensão dos nacionalismos é um erro. Não só não reflete a realidade como amplifica o caudal demagógico que lhes sai da boca, reduzindo a pó a agenda de outras famílias políticas pró-europeias e em crescimento, como os liberais e os verdes. Os primeiros têm hoje oito lugares à volta do Conselho Europeu, sendo o segundo mais representado, só atrás do PPE. No Parlamento Europeu, prevê-se que cresçam entre os 30 e os 40 mandatos. Já os verdes, sem chefes do Estado ou do governo no Conselho (o presidente da Áustria, sendo o único do partido na UE, não se senta no órgão), terão, ao que tudo indica, uma subida bastante menor (não chegando a dez), mas não só terão uma dimensão semelhante ao grupo de Salvini como consolidarão um espaço relevante na política interna alemã, britânica, francesa ou holandesa.

O que justifica que nas recentes eleições locais no Reino Unido os Verdes tenham aumentado a sua votação em 500%? Ou que na Alemanha pós-legislativas de 2017 se tenham afirmado como segundo partido, ultrapassando pela primeira vez o SPD, e com projeções iguais às da AfD e do Die Linke juntos? Ou que nas regionais da Baviera (outubro 2018) tenha sido o segundo partido mais votado, com mais de um milhão de votos do que a Afd, tendo conquistado eleitores simultaneamente ao SPD (210 mil) e à CSU (180 mil)? Ou que na Holanda tenham alcançado o melhor resultado nas últimas legislativas (2017)? Há pelo menos três razões para tal, todas a enquadrar este destaque a Ska Keller.

Primeiro, a transição de uma agenda dogmática marcada pelos grandes debates das décadas de 1970 e 1980 - anticapitalismo, fundamentalismo ecológico, anti-institucionalismo democrático, pacifismo radical anti-NATO - para uma outra mais pragmática, institucional e herdeira de uma grelha mais cara às gerações jovens, urbanas e cosmopolitas que compõem o grosso do seu eleitorado: prioridade ao combate às alterações climáticas, tolerância com as migrações, europeísmo convicto com uma raiz marcadamente social, transparência no exercício da política, defesa dos direitos das mulheres. Segundo, a cristalização tornada fonte de declínio nalguns partidos sociais-democratas, como o SPD, os PS francês e holandês ou a confusão nos trabalhistas britânicos em pleno Brexit aumentaram a orfandade partidária e contribuíram para uma migração consistente de eleitores. Terceiro, o carisma dos seus líderes (Ska Keller, Jesse Klaver, Annalena Baerbock, Sian Berry, Per Bolund), quase todos na casa dos 30-40 anos e com uma comunicação mais assente na narrativa aspiracional do que amedrontadora. E, num contexto de confronto com a ascensão nacionalista, colocaram a Europa no centro do discurso, quer como maximizadora das agendas transnacionais quer como influenciadora das correções que querem imprimir às várias dinâmicas da globalização.

Fazem menos barulho e recusam uma postura apocalíptica ou nativista da política, mas deviam ter a atenção mediática que a realidade já acomoda. A política e o jornalismo não sobrevivem sem histórias de sucesso.

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