Siza Vieira e Carrilho da Graça em torno de Le Corbusier

Os arquitetos portugueses participaram esta segunda-feira na discussão <em>Le Corbusier, os arquitetos e os livros</em>, que assinalava os 50 anos da sua morte
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Os arquitetos Álvaro Siza Vieira e João Luís Carrilho da Graça refletiram esta segunda-feira em torno da figura de Le Corbusier (1887-1965) na discussão Le Corbusier, os arquitetos e os livros. Organizada pela livraria especializada em arquitetura A+A, o evento assinalava os 50 anos que se contam desde a morte do arquiteto de origem suíça naturalizado francês.

Na sala do Museu da Eletricidade, em Lisboa, onde decorreu o debate contavam-se mais de 200 pessoas na assistência, na sua maioria estudantes de arquitetura e arquitetos. Na sala de baixo, muitos assistiam ao que se passava no andar de cima através de transmissão em direto por vídeo.

Cerca de cem pessoas terão ficado à porta do Museu da Eletricidade devido à já esgotada lotação da sala, referiu fonte da A+A ao DN. Alguns dos que conseguiram entrar, contava a mesma fonte, esperavam desde as 13.00 pela conferência marcada para as 18.30.

Os arquitetos e as letras

De Corbusier cuja biblioteca contava cerca de 1600 títulos, da sua relação com os livros e com a literatura, Siza Vieira e Carrilho da Graça partiram depois para uma reflexão pessoal acerca da relação da sua própria arquitetura com as letras.

Se Siza Vieira começou por dizer que "em menino" eram as tiras de O Mosquito e de O Papagaio que o fascinavam, terminou depois uma breve odisseia pelas leituras da sua vida nos escritores americanos Ernest Hemingway ou John Steinbeck e, mais tarde, em literatura especializada na arquitetura.

Hoje em dia, contou, o que mais lê é poesia. "Primeiro por interesse, mas por outros motivos mais prosaicos. Referia-se aos problemas nos olhos, "custa-me ler em continuidade".

Referindo que escreve "bastante, de forma irregular" e em "textos muito curtos", o prémio Pritzker de 1992 foi seguido pelo arquiteto e professor Carrilho da Graça que revelou: "Escrevo pouco e também não desenho muito".

Quanto à sua relação com as letras, a moderadora Marta Sequeira referiu ainda a afinidade que Carrilho da Graça por várias vezes referiu com o filósofo Peter Sloterdijk em relação à forma como este define a atividade dos filósofos, equiparando-os a atletas de alta competição do pensamento. Afinidade que Carrilho da Graça afirmou procurar transmitir aos seus alunos: "Não vale a pena fazer a coisa por menos."

Antes dos arquitetos portugueses, o debate foi iniciado pelos académicos espanhóis Jorge Torres Cueco, Maria Candela Suàrez e Juan Calatrava Escobar. Este último, referindo alguns dos escritores que mais marcaram Le Corbusier e acabaram por definir a sua obra, evocou Paul Valéry, Stéphane Mallarmé, Cervantes, Rabelais, Homero e "por vezes" William Shakespeare.

Escobar, que começou a sua intervenção criticando a comum "caricatura do funcionalista, do homem que punha tudo a viver em caixas de sapato" que se faz de Le Corbusier, como que deu o mote à discussão que continuamente foi contrariando a redução presente nessa mesma imagem.

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