SIS tem elementos seguros sobre encontro de espião com agente russo

Agente fica em prisão preventiva. Secretário-geral das secretas apresenta novo site para divulgar atividade dos serviços
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O Serviço de Informações de Segurança (SIS) garante que tem "elementos seguros" a sustentar a participação que fez ao Ministério Público (MP) e que resultou na detenção do seu espião Frederico Carvalhão Gil.

O juiz Ivo Rosa, do Tribunal Central de Instrução Criminal, decretou ontem a prisão preventiva para o agente do SIS, validando assim as provas apresentadas pelos procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), recolhidas na operação Top Secret, que foi executada pela Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária (PJ).

O juiz manteve três dos quatro crimes pelos quais o espião está indiciado - espionagem, corrupção e violação do segredo de Estado - deixando cair o de branqueamento de capitais. Apesar de Frederico Carvalhão Gil ficar em prisão preventiva, Ivo Rosa admitiu que poderá existir a possibilidade de a medida vir a ser alterada para obrigação de permanência na residência com vigilância eletrónica, se estiverem preenchidos os requisitos exigidos.

Entretanto, o secretário-geral das secretas, Júlio Pereira, salientou que os seus serviços contribuíram em muito para o êxito desta investigação. "Após um período de averiguações internas, desencadeadas por terem sido detetados indícios de comprometimento de atividade operacional na área da contraespionagem, e do apoio prestado pela cooperação internacional, recolheram-se elementos seguros sobre a realização de encontros clandestinos no estrangeiro entre um funcionário do SIS e um outro de um serviço de informações estrangeiro", disse o magistrado, durante um encontro com jornalistas, na sede do SIS e do SIED. O secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) assinala que foi feita uma participação ao MP em "novembro de 2015" sobre "a suspeita da prática de crime de espionagem, a favor de um serviço congénere estrangeiro, envolvendo o oficial de informações do SIS".

Operação de charme

Esta revelação foi feita no Forte da Ameixoeira, o quartel-general das secretas, numa apresentação para jornalistas do novo site dos serviços de informações (www.sirp.pt). Na operação de charme estavam presentes os diretores do SIS (Adélio Neiva da Cruz) e do SIED (José Casimiro Morgado) e outros dirigentes. Segundo Júlio Pereira, a renovação do site começou a ser planeada "há mais de um ano", mas era notória a preocupação em que aquele encontro informal servisse também para passar à opinião pública que o escândalo de Carvalhão Gil é um caso pontual e que não deve nem pode afetar a credibilidade dos serviços. Pela primeira vez, o SIRP publica um relatório sobre as suas atividades, disponível nesse site, e com isso pretende mostrar que nem tudo são segredos.

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O timing desta iniciativa não coincide só, oportunamente, com a tempestade causada pela detenção do espião, mas sucede também oportunamente, poucos dias depois de o primeiro-ministro ter feito publicamente essa sugestão. Ao comentar a detenção de Carvalhão Gil, logo no dia em que esta foi conhecida, António Costa deixou um recado: "Os serviços de informações têm prestado um serviço muito útil ao país. Naturalmente que pela própria discrição, a generalidade da sua atividade não é do conhecimento público. Vai ser feito um esforço por parte do secretário-geral do SIRP de forma a divulgar melhor a atividade dos próprios serviços", avisou.

É precisamente com o objetivo de credibilizar os seus serviços que, conforme o DN noticiou na terça-feira, os responsáveis das secretas estão a apoiar a inspeção para detetar a origem das fugas e os "cúmplices" de Carvalhão Gil, conduzida pelos peritos do Gabinete Nacional de Segurança, uma entidade independente em quem a Aliança Atlântica delegou a investigação.

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