Sindicato diz haver fome entre funcionários da Carris

As condições salariais na transportadora Carris foram reduzidas de tal forma que já há situações de fome entre os funcionários, segundo o Sindicato Nacional dos Motoristas (SNM).
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"Informámos o grupo parlamentar de que na Carris já há situações de fome. Há motoristas que desfaleceram de fraqueza, por não conseguirem comprar comida", disse hoje Manuel Oliveira, do SNM.

O sindicalista falava à Lusa na sequência de uma reunião que o sindicato, a Comissão de Trabalhadores da Carris, o Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes (SITRA) e a Associação Sindical dos Trabalhadores do Tráfego da Carris (ASPTC) tiveram na quinta-feira com os grupos parlamentares de Os Verdes e do CDS-PP.

Segundo Manuel Oliveira, há casos de motoristas da Carris (empresa de serviço rodoviário na Grande Lisboa) que "estão o dia inteiro com um simples iogurte e um pão com manteiga no estômago" e cerca de 500 têm os vencimentos penhorados porque não conseguem fazer face às despesas.

"E há também casos de outros que têm o ordenado penhorado por os descendentes terem entrado em incumprimento. Para que os filhos não percam as casas, os pais estão com uma carga horária sobrecarregada", acrescentou.

O sindicalista frisou que "esta é uma situação bem real e transversal no setor empresarial do Estado".

" reunião com os grupos parlamentares, aqueles órgãos representativos dos trabalhadores levaram temas que os têm preocupado, como os cortes salariais e a perda do direito ao transporte pelos trabalhadores e familiares, medidas já concretizadas.

"Este foi um direito adquirido, foi negociado e os trabalhadores prescindiram de aumentos salariais em troca deste direito. No caso dos reformados, muitos dos que saíram com rescisão amigável, saíram com indemnizações inferiores, tendo em conta que o passe era garantido", explicou.

Manuel Oliveira mostrou-se preocupado com a intenção do Governo de reduzir para "menos de metade" o valor do subsídio de alimentação, afirmando que, se se concretizar, os trabalhadores podem enfrentar cortes na ordem dos 50%.

"Os trabalhadores na área dos transportes já sofreram cortes salariais na ordem dos 15% e, com o corte do subsídio de almoço, chegam aos 35%. Se acrescentarmos mais um corte decorrente da compra do passe, podemos estar a falar de um corte na ordem dos 50%", frisou.

Contactado pelas Lusa, o deputado Artur Rego, do CDS-PP, que recebeu aquelas organizações, disse que se comprometeu a levar as preocupações dos trabalhadores ao ministro da Economia e ao secretário de Estado dos Transportes.

Por seu lado, a dirigente de Os Verdes, Manuela Cunha, disse que o partido "vai dar voz" às preocupações dos trabalhadores e criticou o Governo por acabar com seu direito ao transporte.

"É uma medida de ganância incomportável. Esse direito ao transporte não tem custos para a empresa e era uma compensação pelos baixos salários que têm. Ao ser retirado, os trabalhadores levam a uma redução salarial na ordem dos 130 euros por mês, o que é inaceitável", frisou.

Manuela Cunha defendeu ainda ser "inaceitável num Portugal pós-25 de Abril" que os trabalhadores estejam numa situação de "debilidades alimentares".

"Não podemos aceitar que se tomem medidas que agravem a pobreza, não de quem está desempregado, mas de quem trabalha", afirmou.

O SNM, o SITRA e o ASPTC demarcaram-se da semana de luta, com greves e plenários, que a Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans) está a levar a cabo e que culmina no sábado com uma manifestação do setor dos transportes, em Lisboa.

Estes sindicatos optaram por pedir audiências aos grupos parlamentares e à comissão parlamentar do Orçamento, Finanças e Administração Pública.

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