Sinais de perigo

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A negociação entre o governo e a Comissão sobre o OE 2016, sendo muito séria, não nos deve fazer esquecer outros sinais de perigo. O maior dos quais é a pressão dos mercados, traduzida na subida dos juros da nossa dívida pública, não apenas em relação ao valor das obrigações alemãs, mas sobretudo em relação ao valor das italianas e das espanholas. Num mês, os juros das obrigações a 10 anos passaram de 2,49% para 2,95%. Se a Comissão reitera o guião da austeridade, a verdade é que foi a insólita decisão do BCE (usando o BdP como máscara) penalizando parte da dívida sénior do Novo Banco a suscitar a ira da finança internacional contra Portugal. É legítimo que se pergunte: estará o governo Costa condenado a seguir o rumo de Passos Coelho? A minha resposta é negativa. O governo de Passos Coelho errou ao acreditar e abusar de um "remédio", que se revelou venenoso. As doses brutais de austeridade praticadas entre 2011 e 2015 empobreceram as famílias, debilitaram o Estado, aumentaram a dívida. Contudo, mudar de rumo implica condições políticas, que vão para além da bondade dos princípios e das declarações. A primeira obrigação do governo Costa, hoje, é a de proteger o país de se transformar na nova linha da frente da crise europeia. Estrategicamente, Costa deverá saber que Portugal não conseguirá margem de manobra política - nem no Conselho nem na Comissão - sem aliados que ajudem a alterar os alicerces da política europeia. Lisboa precisa de tempo, e deve deixar a Roma, Paris ou Madrid a iniciativa do próximo embate com Bruxelas e Berlim. O país não exige milagres de António Costa, mas espera que ele tenha a sagacidade de compreender que na desproporção das forças em confronto é prudente não perder uma guerra, que só poderá ser vencida no longo prazo, ao arriscar tudo na primeira refrega.

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