Super Bock Super Rock. Sim, Zé Pedro, eras mesmo único

Um único festival não seria suficiente para homenagear Zé Pedro, mas o que se passou no primeiro dia do Super Bock Super Rock, no concerto de tributo ao icónico guitarrista dos Xutos, valeu por muitas vidas.
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Eram nove em ponto, quando no palco do Altice Arena, em Lisboa, se ouviram os primeiros acordes do clássico London Calling, dos The Clash, uma das bandas que, há mais de 40 anos, ajudaram a transformar José Pedro Amaro dos Santos Reis no Zé Pedro, depois de os ter visto em França num festival punk, ainda os Xutos não existiam. Em palco, a banda era composta pelo que se pode chamar de família mais chegada: Sebastião e Vicente Santos, filhos de Tim; Joel Cabeleira, filho de João Cabeleira; João Nascimento, filho de Gui; António Reis Colaço, sobrinho do próprio Zé Pedro; Marco Nunes, sobrinho de Kalú, e Fred, filho do baterista dos Xutos e o grande dinamizador deste concerto.

Depois, ao longo de todo o espetáculo, viria o restante parentesco, composto por gente de todas as idades e proveniências - tal como Zé Pedro o era, transversal e transgeracional. O primeiro a subir ao palco foi Tó Trips, atirando-se a uma versão punk de Submissão que haveria de ter sacado um imenso sorriso ao autor da letra, especialmente quando se ouve a frase "olha para isto que tu fizeste". Seguiu-se Rui Reininho, que começou por prestar uma "despedida budista" ao "grande amigo", tocando um pequeno sino tibetano, antes de interpretar Morremos a Rir, tema de Convidado: Zé Pedro, um disco do antigo guitarrista dos Xutos, feito a meias com diversos amigos.

E foram tantos os que ontem passaram pelo palco da Altice Arena, como João Pedro Pais, Tomás Wallenstein (dos Capitão Fausto) ou Carlão, que recordou os velhos tempos, quando ouvia no quarto, com o irmão, o vinil de Esquadrão da Morte. Depois veio Manel Cruz, para um dos momentos altos do concerto, numa interpretação enorme de Circo de Feras. O público, cada vez mais rendido, cantava e emocionava-se. E assim continuou, quase de lágrima no olho, até à chegada de Manuela Azevedo (dos Clã), para uma versão cheia groove de Conta-me Histórias, em dueto com Tim.

A partir daqui foi todo um crescendo, primeiro com Paulo Gonzo e os Ladrões do Tempo, a banda que Zé Pedro formou em tempos com Tó Trips, Paulo Franco, Samuel Palitos e Dony Bettencourt, mas especialmente depois da chegada de Jorge Palma, para interpretar uma versão intimista de Esta Cidade, acompanhado apenas ao piano e pelo saxofone de Gui. Depois vieram Kalu e os Rádio Macau Flax e Alex Cortez, que é como quem diz o Palma"s Gang sem Zé Pedro - ou melhor, com, como fez questão de sublinhar Jorge Palma, com um vigoroso "Foda-se, o Zé Pedro está vivo, aqui, connosco".

E estava mesmo, em palco e no público, pois, como alguém dizia, junto a um dos bares, no momento em que os Xutos subiam ao palco, "toda a gente tem uma história com o Zé Pedro". Já só com os antigos companheiros em palco, ouviram-se Dados Viciados e Remar Remar. Depois, juntaram-se todos os outros, para uma versão a muitas vozes de Não Sou O Único, acompanhada em coro pelo público, naquele que foi o final perfeito para uma bonita festa.

Para a história deste Super Rock ficará também a atuação dos The XX, recebidos em total apoteose por um Altice Arena quase lotado. O grupo britânico começou a atuação ao som de Dangerous, o tema de abertura do último álbum I See You, de 2017, que serviu de base ao concerto, mas no alinhamento não faltariam temas mais antigos como Islands, Crystalised, VCR ou a bela Angels, com que encerraram em grande a digressão europeia, por entre sinceras declarações de amor ao público português e à cidade de Lisboa.

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