Shifa al-Qudsi: a antiga 'kamikaze' que se transformou em pacifista

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Um colaboracionista salvou-lhe a vida; uma carcereira, a alma. Shifa al-Qudsi não o esconde, tal como assume a responsabilidade das suas acções e a mudança que se operou na sua vida e que insiste em preservar. A jovem ex-"guerrilheira" trocou os explosivos pela força da palavra e aderiu aos "Combatentes pela Paz".


"Então, não pensava como ser humano. Só pensava em vingança", conta Shifa ao recordar o dia em que decidiu fazer-se explodir em Israel. "Foi o momento mais difícil e cruel da minha vida. Gravei o meu testamento a tentar explicar à minha filha de seis anos e aos meus pais o que estava a fazer. Enviei uma mensagem a Israel e ao mundo explicando que era uma guerrilheira e não uma terrorista."


Shifa tinha 24 anos e trabalhava como esteticista na sua cidade natal - Tulkarem, no Norte da Cisjordânia. Estava-se em Abril de 2002. A Segunda Intifada já levava dois anos de vida e o número total de vítimas há muito que ultrapassara o milhar. Yasser Arafat, o líder histórico dos palestinianos, fora confinado à Muqata (sede do Governo) em Ramallah. A vingança era quase palpável.


"Israel era arrogante e eu pensei que atingiria essa arrogância. Estava furiosa. Era olho por olho", recorda Shifa ao diário britânico Independent. E tão forte era a sua raiva, provocada pela violência diária que se vivia entre os dois povos, que con- seguiu convencer activistas da Fatah a preparar o cinto com o qual se faria explodir na cidade costeira de Netanya. E nada a demoveu. Nem os pedidos insistentes da pequena Diana. "Mal podia esperar o momento em que pressionaria o botão e veria corpos a voar", conta. Mas alguém avisou os israelitas, e Shifa foi detida, julgada e condenada a seis anos de prisão. Ali, a carcereira, que perdera um familiar num atentado suicida, explica-lhe: "Sei que não somos inimigas. Também estamos a matar o teu povo." Aos poucos, a raiva foi-se desvanecendo e dando lugar a outros sentimentos e certezas.


"Hoje, acredito que as palavras são mais poderosas do que as armas. Uma bomba só cria mortos e mais violência", afirma a ex-"guerrilheira", agora um elemento activo de os "Combatentes pela Paz" que aposta no diálogo e na educação para extirpar a violência. E de tal modo está convencida que isso é possível que o afirma "em três línguas: yes, ken e aywa".

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