Sete filmes para revisitar a história de Fátima

Até 31 de maio, a Cinemateca apresenta sete filmes que, entre documentário e ficção, abordam o fenómeno de Fátima.
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Neste mês, a História Permanente do Cinema Português, rubrica da programação da Cinemateca, debruça-se sobre a inscrição do tema Fátima na produção do nosso país. São quatro sessões, apresentando um total de apenas sete filmes (até porque, convenhamos, este não tem sido um tema frequente no nosso cinema). Em todo o caso, será possível ver uma coleção de sugestivas imagens, entre o testemunho documental e a especulação própria da ficção.

Nesta perspetiva, a derradeira sessão (no dia 31, 18.30) será a mais sugestiva. Nela passa um filme que, "indiretamente", evoca o tempo das aparições. Trata-se de O Milagre segundo Salomé (2004), primeira realização cinematográfica do diretor de fotografia Mário Barroso, adaptando o romance de José Rodrigues Miguéis: o resultado é um conto moral sobre as relações entre um banqueiro e uma jovem prostituta, tendo por pano de fundo o Portugal de 1917, ano das aparições. Será, por certo, interessante confrontar tal narrativa com o material documental mudo que abrirá a sessão: chama-se A Romaria a Fátima e regista aspetos da romaria de 1927 - são as imagens mais antigas que se conhecem em torno do assunto.

Algumas dessas imagens surgem integradas em Fátima Milagrosa (1928), um dos filmes realizados no nosso país pelo italiano Rino Lupo, que ontem abriu o ciclo. Prolongando um estilo já experimentado em Mulheres da Beira e Os Lobos (ambos de 1923), o cineasta procura uma certa caução "realista" para desenvolver uma narrativa de cariz melodramático, neste caso com o fenómeno de Fátima em pano de fundo. Curiosidade inevitável: num pequeno papel, Manoel de Oliveira tem aqui a sua estreia cinematográfica, ele que era aluno numa escola de representação que Lupo fundara no Porto.

Outra longa-metragem de ficção que será possível reencontrar é Fátima, Terra de Fé! (1943), de Jorge Brum do Canto (hoje, 18.30), centrada na odisseia de um médico descrente que, perante a cura milagrosa do seu filho vítima de um acidente, se converte. É um exemplo da produção oficial do Estado Novo, apresentado em contraponto com a curta-metragem Coroação de Nossa Senhora de Fátima (1946), do espanhol Eduardo García Maroto, sobre a presença no santuário de um delegado do Papa Pio XII.

Finalmente, estão também programados em conjunto dois títulos de diferentes abordagens (no dia 30, 18.30): Fátima no Médio Oriente (1968), de António Lopes Ribeiro e Miguel Spiguel, documenta a inauguração em Damasco de um santuário dedicado a Nossa Senhora, enquanto Fátima Story (1975), de António de Macedo, faz um retrato crítico a partir do registo da peregrinação de 1975, em pleno PREC. Este último é especialmente significativo da atividade da cooperativa Cinequanon, em regime de coprodução com a RTP. Em resumo: são sete filmes plenos de contrastes para reler, cinematograficamente, a história e a mitologia de Fátima.

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