Ser ou não vacinado? Metade dos tenistas é contra e discussão está no ar
O ténis é, entre os desportos mais mediáticos, aquele em que os atletas mostram mais reticências em vacinar-se contra a covid-19. E por isso no circuito, sobretudo agora que decorre o US Open, tem sido um dos temas mais falados. De acordo com dados disponibilizados pelo jornal The New York Times, apenas 50% dos tenistas, tanto no quadro masculino, como no feminino, estão inoculados, uma percentagem muito longe de desportos populares nos EUA, casos da NBA (90%), hóquei no gelo (85%) e até do futebol (95%).
No circuito profissional existe por isso uma divisão: os que defendem a vacinação e os que são contra - neste último grupo, contudo, são poucos os que se expressam publicamente sobre o assunto.
O grego Stefanos Tsitsipas, terceiro do ranking, foi dos poucos que disse sem rodeios que não se quer vacinar. "Tenho menos de 25 anos e acho que ainda não existem garantias suficientes sobre os benefícios da vacina. É algo novo que tem efeitos secundários. Temos o direito de escolher e por isso não me podem obrigar a ser vacinado", disse recentemente. Uma declaração que até motivou críticas do governo grego.
Não de forma tão direta, também Novak Djokovic deu a entender no início da pandemia que tinha algumas dúvidas sobre a vacinação. Mais recentemente, quando questionado sobre o tema, voltou a evitar o assunto, mas deixou bem expresso que cada um tinha a liberdade de escolher. O sérvio, entretanto, passou ontem facilmente à terceira ronda com uma vitória por 6-2, 6-3 e 6-2 sobre Tallon Griekspoor, dos Países Baixos. Djokovic permanece invicto nos jogos do Grand Slam desta época, num momento em que tenta tornar-se no primeiro tenista a vencer desde 1969 os quatro Majors no mesmo ano.
Do lado oposto estão outros dois monstros do ténis. Rafael Nadal e Roger Federer defenderam a vacinação desde sempre, e vários tenistas que estiveram presentes nos Jogos Olímpicos de Tóquio aceitarem ser inoculados com a vacina da Pfizer, por recomendação do Comité Olímpico Internacional. Também Andy Murray, antigo número 1 do mundo, é favorável à vacinação. "Quem se vacinar vai ter condições muito diferentes dos que não o façam. Nos próximos meses vai haver um debate aceso", anteviu o britânico.
E de facto existem diferenças. No US Open, por exemplo, os tenistas vacinados que tenham estado em contacto com um caso positivo não são logo afastados do torneio, desde que apresentem um teste PCR negativo. Mas se derem positivo são imediatamente retirados do quadro da prova.
O veterano Gilles Simon, que foi desclassificado do US Open por "motivos médicos", confirmou numa entrevista ao jornal L"Équipe que foi retirado do torneio porque não estava vacinado. Isto depois de o seu treinador, Etienne Laforgue, ter testado positivo à chegada a Nova Iorque - Simon foi afastado por ser considerado um "contacto próximo". Se tivesse sido vacinado, teria a possibilidade de competir no torneio caso desse negativo no teste PCR. Simon foi assim obrigado a cumprir as regras do Estado de Nova Iorque e submeteu-se a uma quarentena de dez dias isolado num quarto de hotel. "Basicamente não me quis vacinar. Não tenho medo da covid-19. A minha filosofia é: se tens medo do vírus vacinas-te, se não tens, não te vacinas", confessou na altura.
No ténis, onde cada jogador é um atleta independente, não existe por isso uma união entre os jogadores para encorajar um comportamento unânime entre todos. "Embora respeitemos o direito da livre escolha de cada um, também acreditamos que cada jogador tem um papel a desempenhar ajudando o grupo mais amplo a atingir um nível seguro de imunidade. Fazendo isso, permitirá que abrandemos as restrições no local em benefício de todos no torneio", afirmou a ATP numa declaração.
Já a WTA (circuito feminino) "acredita profundamente na vacina e encoraja toda a gente a tomá-la", tendo até estabelecido como objetivo que 85% das jogadoras deverão ser vacinadas até o final do ano. Mas "não exige que as tenistas seja inoculadas", pois, dizem, "trata-se de uma decisão pessoal" que respeitam.
Se no caso dos tenistas a vacina não é obrigatória, já em relação ao público a organização do US Open exige comprovativos de vacinação aos maiores de 12 anos para entrarem na Billie Jean King National Tennis Center, que ao contrário da edição do ano passado não tem limite de público nas bancadas.
"É estranho que eles tenham que apresentar um atestado de vacinação e nós não. Na minha opinião é inevitável que em algum momento sejamos todos obrigados a vacinar-nos, porque todos queremos estar seguros para fazermos o nosso trabalho", disse a bielorrussa Victoria Azarenka.