Secretas portuguesas e europeias ativam grupo de elite
Clube de Berna. É este o nome de uma estrutura de elite que reúne as mais importantes agências secretas europeias, incluindo o Serviço de Informações de Segurança (SIS). Tem como objetivo principal a partilha de informações e desde sexta--feira tem ativado o Grupo de Contraterrorismo, que integra os analistas e operacionais de topo.
Os oficiais designados como pontos de contacto em cada uma das agências secretas passaram a estar em contacto permanente através de linhas encriptadas. O nome de Lúcia Moreira Fernandes, a mãe portuguesa de Ismaël Omar Mostefaï (na foto em baixo), um dos terroristas suicidas do Bataclan, foi partilhado através deste canal.
De imediato, como quase sempre acontece quando é divulgado algum dado relacionado com Portugal, em matéria de terrorismo, SIS e a Unidade Nacional de Contra--Terrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária trabalham em conjunto na recolha de mais informações, quer nas bases de dados quer no terreno. Sempre que necessário também podem pedir apoio à PSP e à GNR, que têm um maior conhecimento local da população, mas neste caso não foi necessário.
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Neste caso, as autoridades franceses informaram, logo à partida, que Lúcia já vivia em França há mais de 40 anos e não teria ligações relevantes em Portugal. SIS e UNCT confirmaram isso mesmo na despistagem que fizeram na localidade de origem de Lúcia, em Póvoa de Lanhoso, no distrito de Braga.
A última reunião do Clube de Berna, cujos encontros discretos, duas vezes por ano, juntam os chefes máximos dos espiões, foi em Portugal e o departamento de contraterrorismo do SIS fez as "honras da casa". Quando acontece qualquer incidente relacionado com o terrorismo em algum dos países membros, como Paris, as secretas do país alvo partilham de imediato um primeiro relatório com o máximo de pormenores sobre o que ocorreu: modus operandi, meios envolvidos, marca dos explosivos, matrículas de carros envolvidos, números de telemóvel, medidas tomadas, outras ameaças, entre outros. Cada secreta, no seu país, analisa e verifica potenciais ligações, e torna a partilhar a informação.
Portugal com pouco risco
Tendo em conta os atentados de Paris, o SIS fez ontem uma reavaliação da ameaça sobre os interesses, em Portugal, dos países que integram a coligação contra o designado Estado Islâmico e decidiu manter o que estava antes definido: "Grau de ameaça significativo - 3."
Vai manter-se, por isso, o reforço das medidas de segurança junto aos interesses (embaixadas e escolas, por exemplo) destes países, como a França, a Espanha, a Bélgica e os Estados Unidos, que já estavam no terreno desde sábado, por iniciativa da PSP e da GNR.
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São igualmente alvo de proteção especial os aeroportos e grandes terminais de transportes, que fazem parte das designadas "infraestruturas críticas". Grandes eventos, como jogos de futebol ou concertos, "vão ser avaliados caso a caso", disse ao DN fonte policial, que justifica a manutenção do grau de ameaça pelo facto de "não existir nenhuma informação sobre ameaça de atentado em Portugal que leve a estender essas medidas a todas as infraestruturas do território nacional".
O grau "significativo" está a meio de uma tabela de um a cinco, que vai de risco "reduzido" a "imediato". De acordo com o Plano de Coordenação e Cooperação das Forças e Serviços de Segurança, quer dizer que, com exceção dos referidos pontos sensíveis, internamente "a execução de um atentado" conduz "à obtenção de vantagens pouco significativas" e "as organizações ou pessoas singulares capazes de executar a ação não possuem meios técnicos e humanos sofisticados, nem treino, para tal fim".
Com Rute Coelho