Scholz admite continuar com nuclear, França avisa para cortes de gás 

Os cortes de abastecimento de gás por parte da Rússia levaram o chanceler alemão a criticar o <em>bluff</em> de Vladimir Putin e a dizer que nada impede a Gazprom de voltar a retomar os níveis anteriores.
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A crise energética desencadeada pela invasão russa da Ucrânia e consequente espiral retaliatória entre Moscovo e o Ocidente, em conjunto com a seca que castiga a Europa, conheceu um novo capítulo: a Alemanha, principal potência industrial europeia, dependente do gás russo, poderá reverter a política de se desligar da energia nuclear, enquanto o seu chanceler voltou a criticar o regime de Putin por não cumprir o acordado quanto ao abastecimento de gás. O vizinho francês, apesar de manter - e reforçar - a política nuclear poderá enfrentar cortes de gás durante o inverno, avisou o governo.

O chanceler Olaf Scholz acusou Moscovo de bloquear a entrega de uma turbina para o gasoduto Nord Stream 1, que está armazenada na Alemanha, depois de ter sido sujeita a manutenção no Canadá, porque as autoridades russas ainda não deram autorização para a sua entrada no país. "A turbina está pronta, não há razão para não a transportar para a Rússia. Pode ser entregue e utilizada em qualquer altura. Não há razão para o não-cumprimento dos contratos de fornecimento de gás", disse Scholz no final de uma visita a uma unidade da Siemens em Mülheim, na região da Renânia do Norte-Vestefália.

Em julho, o gasoduto esteve totalmente parado durante dez dias para trabalhos de manutenção, tendo a Rússia retomado o fluxo no dia 21 de julho, embora apenas com 40% da capacidade e, dias depois, com 20%.

A limitação foi justificada pela empresa russa Gazprom ao alegar que o Canadá estava a bloquear a devolução de um motor da turbina que estava em reparação nesse país, devido às sanções, antes de ser transportado para a Alemanha. Perante este cenário não faltou na União Europeia quem, como por exemplo o ministro da Economia francês Bruno Le Maire, previsse o corte total do gás russo.

Em entrevista ao jornal canadiano The Globe and Mail, Scholz fez questão de dizer que as críticas ao primeiro-ministro Justin Trudeau são "totalmente infundadas" e que a decisão de entregar a turbina "dificilmente é um favor à Gazprom, é um forte sinal de apoio à Alemanha e à Europa". Scholz esclareceu que turbina tinha recebido "todas as aprovações" necessárias para a exportação da Alemanha para a Rússia e que este já não pode ser um pretexto para o "bluff do presidente russo Vladimir Putin".

Mas a Gazprom não tem o mesmo entendimento que o chanceler social-democrata sobre a liberdade de poder receber a turbina e justificou-se outra vez com as sanções: "Os regimes de sanções no Canadá, UE e Reino Unido, assim como as incoerências da situação atual sobre as obrigações contratuais da Siemens, tornam a entrega impossível", afirmou a empresa energética numa declaração.

Perante a incerteza sobre o abastecimento de gás, Scholz disse que "pode fazer sentido" manter em funcionamento as três centrais nucleares alemãs que ainda não foram desativadas, um tema que causa acesas discussões entre os três partidos da coligação governamental. Um "teste de stress" à rede elétrica nacional será decisivo, antes de se deliberar a continuidade das centrais nucleares.

A iniciativa de Scholz coincidiu com uma entrevista do ex-chanceler Gerhard Schröder, administrador da Nord Stream e próximo do regime russo à Stern e RTL, na qual este responsabilizou a Siemens pelos atrasos.

Na citada entrevista de Schröder, este afirma que "a boa notícia é que o Kremlin quer uma solução negociada" para o conflito com a Ucrânia. O antigo chefe do governo alemão confirmou ter-se reunido com Vladimir Putin na semana passada e disse acreditar que o acordo entre Kiev e Moscovo sob os auspícios da Turquia e das Nações Unidas para a exportação de cereais no Mar Negro é o primeiro passo para as conversações que irão levar a uma trégua. Schröder disse que a guerra é um "erro do governo russo", mas também criticou a Ucrânia por não ter cumprido os Acordos de Minsk.

Em plena onda de calor e a atravessar uma seca, o governo francês avisou as empresas e os serviços estatais que estes devem reduzir o consumo de energia e fez saber que poderão existir cortes de gás durante o inverno. A França gera três quartos da eletricidade a partir da energia nuclear, mas o setor industrial e as famílias são consumidoras de gás. E a ministra da Energia Agnès Pannier-Runacher alerta para a hipótese de, "em solidariedade", fornecer energia à Alemanha, pelo que as reservas podem não ser suficientes para evitar cortes de gás.

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