Saúde mental online para chegar a todos
Ramon Canales é um dos rostos da startup Zenklub. Veio do Brasil há dois anos e começou há menos de seis meses a trabalhar nesta empresa fundada por portugueses que se conheceram precisamente no Brasil. E é aí que a startup alojada na Casa do Impacto, o acelerador de empresas da Santa Casa, tem a maior parte dos seus clientes. O serviço de bem-estar online tem também já especialistas e clientes em Portugal, um mercado onde também quer apostar.
O projeto que começou como uma plataforma que os psicólogos usavam para fazer as suas consultas online, ambiciona agora "ajudar as pessoas a ter uma vida emocional mais equilibrada". "Hoje não queremos fornecer apenas essa plataforma para conectar, queremos fornecer uma solução para as pessoas trabalharem a sua saúde emocional, terem uma vida mais equilibrada, no fim ter uma vida mais feliz", descreve Ramon Canales.
O diretor de produto da Zenklub chegou a Portugal, vindo de São Paulo, há dois anos. Com mestrado em Engenharia Mecatrónica, cedo percebeu que essa não era uma área que o ia realizar no seu país natal. Depois de passar por várias empresas, acabou por decidir emigrar. Em Portugal, também não foi nessa área que ficou a trabalhar, mas garante que a formação na área das engenharias o ajuda muito no dia-a-dia: "No pensamento metódico e na organização."
Ramon mudou-se com a mulher de São Paulo para Lisboa. "Sempre quisemos morar fora, nunca tínhamos concretizado esse desejo, e com o que estava a acontecer economicamente e socialmente em relação à segurança em geral no Brasil, e como a gente já pensa em ter filhos, pensámos que era a hora de tentar alguma coisa." Lisboa acabou por ser a escolha final, o que também facilitou a adaptação. O único senão é que Ramon confessa que agora fala "errado" tanto o português do Brasil como o português de Portugal.
A startup Zenklub começou como uma plataforma de teleconsulta, em 2016, quando dois portugueses - Rui Brandão (médico) e José Simões (engenheiro informático) - se conheceram no Brasil e partilharam o desejo de ver melhorados os cuidados de saúde mental, principalmente pelo estigma social e pelo custo deste tipo de intervenção. "O Rui teve um caso de burnout na família e em conversa com o José perceberam que tinham de ajudar nesse segmento, usando a tecnologia", explica Ramon Canales.
José já estava em Portugal quando decidiram montar a empresa e foi ele quem fez a ligação à Casa do Impacto - a incubadora de startups da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa -, espaço onde agora estão alojados, com a intenção de "criar um hub fora do Brasil", aponta o diretor de produto. Desde que aqui estão já conseguiram de uma só vez angariar 500 mil euros, o que era um dos objetivos de ter representação em Portugal, um país "que está a atrair talentos de outros países da Europa e que nós podemos captar", aponta o responsável da Zenklub.
Se Portugal ajuda a atrair investimento, é no Brasil, ou pelo menos entre os brasileiros, que se encontram a maior parte dos utilizadores: "Mais de 95% dos clientes", precisa. O negócio por terras lusas já tem psicólogos nacionais e alguns clientes, mas ainda não são números significativos.
No global, a empresa tem vindo a crescer sempre, mas, "nos últimos seis meses", esse crescimento tem sido mais forte. "Foi quando achamos o modelo da empresa, temos a missão mais clara."
Na plataforma já estão registados mais de 200 profissionais - entre psicólogos, terapeutas, coaches, psicanalistas - e estão a realizar mais de cinco mil sessões por mês.
O sucesso da empresa deve-se, explica Ramon, à aprendizagem que tem sido feita pelos fundadores desde a sua fundação e depois este é um serviço que responde a uma necessidade de forma moderna. "Os custos de se procurar um profissional de saúde mental não são muito baixos, mais os custos de deslocação, mais o tempo da pessoa estar no meio do seu dia e ter de parar e ir até algum lugar. Fornecer esse tipo de tratamento, de terapia de uma forma online é muito mais barato, mais fácil e muito mais rápido e nós vemos os resultados com os clientes."
Hoje em dia, há recém-mamãs que têm consultas com os filhos ao colo e que de outra forma não poderiam sair de casa para ir a uma consulta. Há também quem, apesar de estar a ver o médico na videochamada, seja mais reservado e prefira explicar o seu caso por escrito no chat da consulta. São facilidades que a Zenklub permite.
Quem recorre ao site tem a garantia de que todos os profissionais são credíveis e de que todos os dados são encriptados, esclarece Ramon. "Existe a confidencialidade de profissional-cliente, tudo o que um profissional quiser anotar sobre a sessão e o cliente é totalmente encrostado e ninguém vai ter acesso."
Outro dos pontos que a Zenklub pretende combater é o preconceito em relação à saúde mental. Tornar acessível a qualquer pessoa ter uma consulta de psicologia ou terapia em qualquer lugar pode ajudar a que este gesto se torne uma rotina e não um sinal de uma doença grave que deve ser escondida. "Como a consulta é feita em vídeo, de forma distante, as pessoas sentem-se muito mais abertas", admite o diretor de produto.
"Queremos desmistificar a saúde mental. Ninguém tem vergonha de falar que vai ao ginásio trabalhar o corpo; ninguém tem vergonha de falar que quer ter uma alimentação mais saudável; mas as pessoas ainda acham que se disserem que precisam de uma terapia ou que estão a cuidar da sua saúde mental vão achar que elas são loucas." E é contra este estigma que Ramon e a Zenklub trabalham.
A primeira ideia é que "não é vergonha" e que faz sentido conversar sobre esta necessidade de cada um se analisar e tentar melhorar a sua saúde mental. "Conhecer faz bem e a maioria das pessoas não se conhece muito bem. Eu sou um bom exemplo: nunca fui muito bom a expressar sentimentos, mas nunca tinha pensado muito nisso. Desde que entrei, tenho feito sessões, lido conteúdos e tem-me ajudado muito a me entender um pouco melhor e faz uma diferença brutal na vida de uma pessoa. E esse é o nosso grande objetivo: Fazer as pessoas se conhecerem."