Santana quer abrir a Aliança a simpatizantes e ter senadores

O centro-direita agita-se em Portugal. Em 44 anos de democracia pouco ou nada mudou nesta ala da política nacional, mas Macron em França ou o Ciudadanos em Espanha inspiram novas forças por cá. Santana arranca esta semana com o seu novo partido.
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Segunda-feira à tarde, dia 20 de agosto, a página estará disponível na internet. No endereço www.alianca.com.pt, Pedro Santana Lopes cria o alicerce para a constituição do novo partido. É o tiro de partida para a recolha de assinaturas de uma força que vem "unir na política e no país", diz o antigo líder do PSD ao DN.

O nome Aliança - que nos transporta para a AD Aliança Democrática, que juntou Sá Carneiro (PSD), Freitas do Amaral (CDS) e Ribeiro Telles (PPM) - foi escolhido para "evitar qualquer carga ideológica. Mas, na verdade, o novo partido tem essa carga: "Liberais, conservadores e solidários", segundo Santana.

A declaração de princípios, divulgada pelo Expresso, mostra o pendor liberal na economia e em áreas como a saúde e a educação, em que admite a concorrência entre os setores público, privado e social. A visão conservadora espelha-se mais nos costumes e no europeísmo cético, que clama por uma reforma da UE, como o próprio fundador da Aliança admite ao DN.

Santana Lopes diz que está a convidar, uma a uma, as pessoas que vão liderar as comissões instaladoras em todo o continente, regiões autónomas e comunidade emigrante. Não quer revelar nomes de quem embarcar com ele nesta aventura política. Diz que são "todos os amigos" que tinha no PSD - à exceção "dos que têm cargos", como os deputados ou dirigentes nas estruturas do partido - e muitos do CDS. No PS, "como seria de prever", só pescou duas pessoas. Mas garante que o partido terá muita gente que nunca participou na vida política ativa. "Muita gente das novas tecnologias, é curioso", diz.

A plataforma digital será o ponto de encontro dos militantes, sublinha, para que a Aliança seja mais do que o partido de Santana Lopes. Bebeu essa inspiração em forças como o Ciudadanos e o Podemos, em Espanha, ou no En Marche de Emannuel Macron, em França.

Os Estatutos da novo partido "estão praticamente prontos". E, à semelhança do que defende há muito sobre a modernização do sistema político - com a criação de um Senado com representação de várias regiões do país -, também na Aliança irá fazer nascer um "senado nacional". Um órgão que irá desempenhar o papel dos órgãos máximos entre congresso nos dois principais partidos portugueses, o Conselho Nacional do PSD ou a Comissão Nacional do PS. "É uma estrutura em coerência com o que defendo para o país em termos de órgãos de soberania."

Ao contrário dos outros partidos, como o PS e o PSD, não vai ser exigido o pagamento de quotas para votar nas eleições internas e fica prevista a figura do simpatizante, que no PS, por exemplo, já pode participar em eleições primárias para a liderança se os órgãos do partido assim determinarem (foi o que aconteceu no confronto entre Costa e Seguro em 2014).

E o partido vai ser financiado como? "Vamos ter um empenho muito forte para cativar o apoio financeiro dos apoiantes e militantes através de crowdfunding ", garante Santana. E mostra-se muito confiante de que vai resultar: "Se tive muitas pessoas a querer aderir a um partido ainda sem saber o nome..."

Liberais "assumem-se"

Mas o centro-direita já andava a fervilhar antes de Santana Lopes ter decidido bater com a porta ao PSD e correr em pista própria. O fim da era Passos Coelho no partido, e dos liberais que encontravam nas suas ideias algum conforto, acelerou o processo. A Iniciativa Liberal (IL) tomou a dianteira e no final do ano passado tomou a forma de partido político junto do Tribunal Constitucional.

Rodrigo Saraiva, secretário-geral da IL, admite que "na opinião publicada" já existia muita gente com uma visão liberal porque, garante, "o liberalismo está a assumir-se sem complexos em Portugal, depois de a "extrema-esquerda ter usado o neoliberalismo como um papão".
Tal como Santana faz agora, a Iniciativa Liberal assentou fundações na internet e foi através de muitos contributos por via digital, mas também em eventos, que reuniu contributos para o manifesto e programa político. "O Estado é somente um instrumento da sociedade que serve e não deve assumir qualquer poder que entre em conflito com os direitos fundamentais dos cidadãos e com as condições essenciais para uma vida responsável e criativa", lê-se no manifesto da IL.

Rodrigo Saraiva aplaude nascimento de novos partido no centro-direita, mas lança a primeira farpa a Santana sobre a sua visão sobre a Europa, na qual a Iniciativa Liberal "se revê": "Santana tem uma visão muito eurocética e defende valores muito tradicionais, não encaixa no perfil de um liberal." O dirigente da IL garante que nunca chegou a ser equacionado cativar o antigo líder social-democrata para o partido. "Tinha de vir num espírito muito altruísta, porque este é um partido de cidadãos..."

São 90 os membros fundadores, sem nomes sonantes, num partido liderado por Miguel Ferreira da Silva, e no momento com cerca de 300 militantes. "Vamos reescrever a história, porque a maioria das pessoas nunca teve envolvimento partidário", garante ao DN Rodrigo Saraiva.

As ideias da IL são agora difundidas na página na internet https://iniciativaliberal.pt/, mas "também temos de estar na rua", diz o dirigente. Até porque o primeiro combate eleitoral é já ali ao virar da esquina, nas europeias.

Democracia 21 e a "revolução à direita"

A Democracia 21, movimento liderado por Sofia Afonso Ferreira, ainda se aproximou de Santana Lopes, esperou que ex-líder do PSD se decidisse, e acaba por seguir um caminho paralelo. A ex-militante do PSD - que foi uma das apoiantes de Passos Coelho, como recorda ao DN - até aplaude a iniciativa de Santana porque, diz, "é preciso uma geringonça de direita" para combater a da esquerda.

A Democracia 21, assumidamente "liberal à direita", está no processo de recolha de assinaturas para se constituir como partido. Eram já mais de cinco mil as recolhidas, entre as 7500 necessárias, o que deve permitir concluir o processo no final de setembro. Sofia, liberal na economia e nos costumes, garante que "está a haver uma revolução na direita".

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