Os santos populares já lá vão há muito, mas desde 2013 que o popular bairro de Alfama vive uma espécie de segundo Santo António em pleno outono. A razão da romaria é no entanto outra e dá pelo nome de fado, um estilo musical que terá nascido aqui mesmo, algures por estas ruas, de onde saiu para se tornar em património da humanidade. Não haverá, portanto, melhor lugar para o celebrar, tal como é objetivo deste festival, o único dedicado em exclusivo ao fado, que se volta a desdobrar, ao longo de dois dias, por alguns dos locais mais simbólicos e conhecidos de Alfama, depois de no ano passado se ter realizado em versão pandémica, com menos público, menos palcos e todos ao ar livre. Ao todo serão dez os palcos em funcionamento, situados em locais tão icónicos como o Museu do fado, o Largo do Chafariz de Dentro, o Grupo Sportivo Adicense, as igrejas de Santo Estêvão e de São Miguel, a Sociedade Boa União, o Largo de São Miguel, o Centro Cultural Dr. Magalhães Lima, o Auditório Abreu Advogados ou o Terminal de Cruzeiros de Lisboa. "É o regresso possível, pois o público vai estar sentado, com máscara e para ingressar no festival é necessário apresentar certificado de vacinação ou um teste negativo, mas já em um passo importante nesse caminho em direção à normalidade", afirma ao DN Luís Montez, da Música no Coração, a empresa que organiza o festival. E para esta edição, apesar da lotação estar a 75 por cento do habitual, "as vendas de bilhetes até estão melhores que no ano passado". Percebe-se porquê, pois o cartaz, como habitualmente, é de luxo, com quase quatro dezenas de artistas, entre veteranos, consagrados e emergentes. "Quando começámos diziam que o fado era um mercado só para velhinhos e afinal temos provado o contrário", sublinha o promotor..Citaçãocitacao"Quando começámos diziam que o fado era um mercado só para velhinhos e afinal temos provado o contrário", Luís Montez, Promotor do festival.Outro dos destaques é a homenagem a Carlos do Carmo, desaparecido no início do ano, mas que estará omnipresente durante todo o festival. Seja pela voz de outros fadistas, num espetáculo de videomapping, numa exposição a si dedicada no Museu do Fado ou especialmente no concerto de tributo de encerramento o festival, no palco principal, que segundo Luíz Montez "será o momento alto desta edição". Além do filho Gil do Carmo e dos músicos que habitualmente acompanhavam Carlos do Carmo, terá a participação de Camané, Maria da Fé, Marco Rodrigues, Paulo de Carvalho, Ricardo Ribeiro e Sara Correia. "Vai ser um momento muito especial, porque todos eles tiveram uma ligação muito próxima com Carlos do Carmo", explica Luís Montez, que destaca ainda como "outros momentos a não perder" os concertos do "senhor" Camané, de Fábia Rebordão, de Teresinha Landeiro, dos novatos Buba Espinho e Pedro Trigacheiro ou a recriação ao vivo do programa televisivo "Em Casa d"Amália", com Alexandra, FF, Jorge Fernando, José Gonçalez, Tozé Brito e André Dias. Voltará também a iniciativa Fado à Janela, no Largo de São Miguel, e o Palco do Público, instalado no restaurante do Museu do Fado, onde os amadores podem tentar a sorte..Para Teresinha Landeiro, o regresso ao Santa Casa Alfama, onde já atuou duas vezes em ocasiões anteriores, é também "muito especial", não só porque este ano editou o segundo disco em nome próprio, Agora, que vai mostrar ao vivo, mas também e "especialmente devido ao espírito" do próprio festival. "Sempre defendi que todos os festivais em Portugal deviam ter um palco só de fado", diz com humor, "portanto é muito importante para todos nós existir um assim, exclusivamente dedicado ao fado e sem receio de divulgar novos talentos. Para mais realizado num local tão ligado à história do fado como é Alfama, onde se sente sempre uma energia muito própria". Teresinha vai atuar no sábado à noite, no mítico Centro Cultural Magalhães Lima, "mesmo no meio do bairro", onde além de apresentar alguns temas do novo disco, tem também preparada "uma singela homenagem" a Carlos do Carmo. Confessa-se ainda assim "um pouco ansiosa", até porque a seguir sobe a esse mesmo palco o "mestre Artur Batalha", uma das suas referências. Mas antes (e também depois) irá ela própria juntar-se ao público, no constante deambular pelo bairro. "Acho fantástico, essa dinâmica de andar a saltitar de palco em palco", admite, embora haja alguns espetáculos que não quer mesmo perder, como é o caso dos amigos Buba Espinho e Sara Correia, do de Camané e, claro, do Tributo a Carlos do Carmo. "Há tanta gente que gostava de ver e vou tentar fazê-lo, nem que seja só por 15 minutos"..dnot@dn.pt