"Sair da UE é tão estúpido como sair da net e, ainda assim, tentar influenciá-la"

Partido Popular Europeu, reunido em Congresso em Helsínquia, escolhe o seu candidato a presidente da Comissão Europeia. Na corrida estão Manfred Weber e Alexander Stubb. Que debateram as suas ideias esta quarta-feira. O alemão elogiou Passos Coelho e o finlandês criticou Emmanuel Macron
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Manfred Weber e Alexander Stubb esgrimiram argumentos durante meia hora em debate realizado durante o congresso do Partido Popular Europeu (PPE), em Helsínquia, na Finlândia.

Maior família política europeia irá escolher para candidato à presidência da Comissão Europeia ou o eurodeputado alemão da Baviera apoiado por Angela Merkel e Horst Seehöfer ou o ex-primeiro-ministro da Finlândia.

Sobre o desafio da economia, do emprego, do envelhecimento da população na Europa, Weber admitiu que "há uma revolução" em curso e Stubb lembrou que as novas gerações "já não vão ter um emprego para toda a vida".

Manfred Weber, que parte como favorito e é apoiado por partidos como por exemplo o PSD português e o PP espanhol, lembrou que a situação na Europa é hoje, apesar de tudo, melhor do que a de há cinco anos, quando o ex-primeiro-ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker, então candidato do PPE, foi eleito presidente da Comissão.

"Há cinco anos a campanha foi feita sob o espectro de cortes, programas, a que muitos chamam austeridade. Fomos nós. O PPE enfrentou a crise. Foi Enda Kenny [na Irlanda], Foi Passos Coelho [em Portugal], Nicos Anastasiades [no Chipre], Mariano Rajoy [em Espanha], Antonis Samaras [na Grécia]. Nós estivemos muito bem", sublinhou Weber, que pertence à CSU, partido do ministro do Interior alemão Horst Seehöfer.

Questionado sobre como é que se faz para combater as desigualdades e não deixar ninguém para trás, Stubb, que além de primeiro-ministro foi ministro dos Assuntos Europeus, dos Negócios Estrangeiros e das Finanças da Europa, respondeu: "Devemos evitar dividir a Europa em duas. Como diz Emmanuel Macron [presidente da França] que diz ou és europeu como nós ou és um mau europeu. Isso é dividir. Fala-se muito da inteligência artificial. Mas acho que aquilo com que ficaremos será a empatia que temos uns para os outros".

Em relação à questão das migrações e também da segurança e de defesa da UE Stubb considerou: "O brexit e a eleição de Donald Trump alterou a quadro de segurança na Europa. Não vejo isso como um problema para a Europa. Vejo-o como uma oportunidade. Este é o momento em que a Europa pode preencher vazios. Nós sabemos muito sobre comércio e sobre alterações climáticas. Podemos erguer a nossa segurança e defesa. Teremos, um dia, que nos erguer sozinhos, sem os EUA".

"A questão da segurança deve ser um tema no centro da nossa campanha", afirmou Weber, assumindo-se já como vencedor para dizer que irá confrontar os socialistas e o seu candidato a presidente da Comissão Europeia sobre a sua oposição a várias medidas, como, por exemplo, o repatriamento de ilegais. "Há muita divisão na Europa", constatou também Weber, sublinhando tal como o seu rival - amistoso - que esse não é o caminho a seguir.

Quanto ao sobre ao brexit o que pensam os dois candidatos a candidato do PPE? "Foi um choque, quando vimos o resultado, mas aconteceu. Lamentamos. Mas está em cima da mesa. Agradeço a Michel Barnier [negociador chefe da Comissão Europeia para o brexit] por conseguir, sob a liderança de Juncker, uma Europa unida. As pessoas, na Europa, têm que ver uma diferença entre o que é ser membro da UE e não ser membro da UE porque isso terá impacto nas eleições europeias. O brexit é em março. As eleições em maio. Vamos ser parceiros, no futuro, de Londres, seguramente, mas as pessoas têm que perceber que há uma diferença entre estar ou não na UE".

"Para mim e para a minha família esta é uma questão pessoal porque a minha mulher é britânica e os meus filhos meio britãnicos. Sair da UE é tão estúpido como sair da Internet e, ainda assim, tentar influenciá-la", disse Stubb, garantindo que mesmo que chegue a presidente da Comissão vai continuar a correr. Desportista desde sempre, o candidato, de 50 anos, jogou ténis e golfe e já participou em vários triatlos de distância Ironman. "Eu também vou continuar a correr mas não quero competir nisso com o Alexander", afirmou Weber, de 46 anos, entre risos.

Desafiados pela entrevistadora, no final, a dizer qual é a sua visão para a Europa, Weber disse: "A minha visão é a de uma Europa democrática, que se mantenha unida, ambiciosa, com visão para o futuro". E Stubb declarou: "A minha visão é pró-europeia, positiva e pragmática. A UE será sempre mais uma organização do que uma soma de Estados membros".

Os dois candidatos voltam a discursar esta quinta-feira e a votação, para escolher um deles, ocorre no mesmo dia. Além da escolha do sucessor de Jean-Claude Juncker, os delegados ao congresso do PPE terão que discutir outros temas difíceis, como a continuidade, ou não, do Fidesz do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán no grupo político no Parlamento Europeu e a atual situação das negociações do brexit.

Também os Socialistas e Democratas, o segundo maior grupo político no Parlamento Europeu, vão escolher o seu candidato, que será eleito a 1 de dezembro e aclamado a 7 e 8 de dezembro, no congresso do grupo, em Lisboa. Neste momento, o único candidato dos socialistas à sucessão de Juncker é o atual primeiro vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans. Há ainda que contar, para já, também com a candidatura, pelos liberais do ALDE, do ex-primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt, um grande federalista e, atualmente, o negociador do Parlamento Europeu para o brexit.

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