Além dos discursos do presidente da Rússia Vladimir Putin, crê existir uma nostalgia da União Soviética?.Há uma parte da opinião pública que tem saudades da União Soviética. Mas digamos que é uma minoria e cada vez mais minoria à medida que o tempo avança. Entre a juventude ninguém gostaria de viver numa sociedade tão fechada e tão limitada como era a União Soviética..Na sua ótica, o que une e o que separa estas repúblicas que se tornaram independentes?.O que as une foi o facto de terem todos pertencido a um estado. O que as divide é muito mais. Têm uma história que geralmente não é pacífica e entre as 15 repúblicas da União Soviética e entre a Rússia e os seus vizinhos, essas relações, que se formaram ao longo de séculos, não foram de todo pacíficas. Há guerras, ocupações, etc., daí que neste momento volta a pairar o fantasma da União Soviética e do império russo sobre os países vizinhos, ou seja como uma forma de a Rússia tentar dominar espaços que antes faziam parte desse império e da URSS..Pensa ser uma ameaça credível?.É uma grande incógnita. Eu acho que a Rússia não estará muito interessada em começar uma guerra porque isso pode criar grandes complicações dentro do país. Mas há outros fatores e o principal é que não sabemos exatamente o que é que Putin terá na cabeça. Se Putin tem na cabeça restaurar a zona de influência soviética então aí iremos ter certamente problemas..Passados 30 anos sobre a dissolução da União Soviética de que aspetos podem os habitantes orgulhar-se?.Claro que têm orgulho de algumas páginas da história soviética, como teriam se essas páginas fizessem parte do império russo ou da Rússia atual. Nomeadamente, a grande guerra pátria, ou seja, a guerra contra Hitler e a vitória nessa guerra. E, claro, a conquista do espaço em que a União Soviética deu cartas em determinada altura nesse setor. Há também outros aspetos que algumas camadas defendem, como o facto de o mundo ter medo da União Soviética. É o que eu sempre refiro, mais vale ter respeito do que ter medo. Eu acho que é um erro em que pecam os dirigentes russos. Eles fazem que os dirigentes europeus tenham medo e não tenham respeito pela Rússia, que são duas coisas muito diferentes..Pensa que o orgulho que mencionou sobre a vitória na Segunda Guerra Mundial ou na exploração espacial são partilhados pelos habitantes dos outros 14 países?.Quanto à questão da vitória na Segunda Guerra Mundial, claro que é partilhada por muita população de outras regiões que sofreram fortemente. Também há aqueles que veem essa vitória de uma forma menos heroica e menos otimista. Por exemplo, os países do Báltico viram-se libertados dos nazis mas logo a seguir sentiram os efeitos da ocupação soviética e isso é um estado de espírito generalizado a toda a Europa de leste que fazia parte da zona de influência da União Soviética. O mesmo se pode dizer em relação à Ucrânia. Há lá muita gente que tem o mesmo pensamento mas, em geral, há algum respeito pelas pessoas, principalmente pelos soldados que combateram nessa guerra..cesar.avo@dn.pt