Rússia acusa EUA de envolvimento na Ucrânia e ameaça romper relações

​​​​Moscovo apontou baterias para Washington ao culpar os EUA pelas mortes no Donbass e ao advertir para as consequências de incluir a Rússia na lista negra do terrorismo.
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Moscovo elevou o tom da retórica com os Estados Unidos, ao acusar este país de envolvimento direto no conflito, por um lado, e ao ameaçar com o corte de relações diplomáticas caso o governo de Joe Biden atenda aos apelos do Congresso norte-americano e classifique a Rússia um estado patrocinador de terrorismo. Enquanto isso, EUA, Canadá e Reino Unido acrescentaram mais uma camada de sanções a entidades e indivíduos russos.

O Ministério da Defesa russo disse que os Estados Unidos cruzaram a linha do apoio militar, ao acusar o Exército norte-americano de coordenarem com os ucranianos os ataques com os sistemas móveis de lançamento múltiplo de foguetes HIMARS. Segundo os russos, as declarações do chefe-adjunto dos serviços secretos militares da Ucrânia Vadym Skibitsky ao Telegraph são uma admissão do papel de Washington. "Tudo isto prova irrefutavelmente que Washington, ao contrário do que afirma a Casa Branca e o Pentágono, está diretamente envolvido no conflito na Ucrânia", disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov. Este militar responsabilizou a Administração Biden por "todos os ataques com mísseis contra bairros de moradias e contra a infraestrutura civil nas cidades do Donbass e de outras regiões, que causaram a morte em massa de civis".

Na entrevista, Skibitsky revelou que os ucranianos recorreram a imagens de satélite e informações em tempo real fornecidas por Washington antes de usar os sistemas de lançamento de foguetes fornecidos pelos EUA. Explicou ainda ao jornal londrino que houve consultas entre os funcionários dos serviços secretos dos EUA e da Ucrânia antes dos ataques e que Washington tinha um veto efetivo sobre os alvos pretendidos, embora tenha dito que os funcionários dos EUA não estavam a fornecer informações diretas sobre alvos.

Destaquedestaque0 HIMARS. A Rússia diz ter destruído seis dos 16 sistemas móveis de lançamento múltiplo de foguetes HIMARS ao serviço da Ucrânia. Kiev diz que nem um foi alvo dos russos.

Os sistemas HIMARS, que na versão enviada para a Ucrânia podem atingir alvos até 80 quilómetros de distância, têm uma precisão até agora inexistente no conflito. Na segunda-feira, o Ministério da Defesa da Ucrânia anunciou a chegada de mais quatro HIMARS, totalizando 16. Há duas semanas, o ministro Oleksii Reznikov disse que o seu país precisava de pelo menos 100 para "virar o jogo no campo de batalha". Um número que está longe da realidade e dos planos norte-americanos que, para já, se comprometeram em enviar mais munições para esse sistema, bem como para outro tipo de artilharia, no valor de 550 milhões de dólares.

Os Estados Unidos são os principais aliados da Ucrânia em termos militares, cuja assistência atingiu os oito mil milhões de dólares. No entanto, apesar de o presidente dos EUA ter afirmado querer que a Ucrânia derrote a Rússia, o cenário de um envolvimento direto na guerra foi desde cedo afastado, pelas possíveis consequências catastróficas entre as duas maiores potências nucleares.

Destaquedestaque108 mil milhões. Um relatório do Instituto KSE concluiu que as perdas em danos de edifícios e de infraestruturas na Ucrânia atingiu 108,3 mil milhões de dólares (106,3 mil millhões de euros) até 1 de agosto.

Outra questão que está a levantar celeuma em Moscovo é a hipótese de o governo Biden declarar a Rússia um país patrocinador de terrorismo, tal como solicitado pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. "Qualquer ação provoca uma reação e o resultado lógico desse passo irresponsável pode ser a rutura das relações diplomáticas", disse a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova. "Washington arrisca-se a cruzar definitivamente o ponto de não retorno com todas as consequências correspondentes", disse ainda.

Na semana passada, o Senado dos EUA aprovou por unanimidade uma resolução não vinculativa nesse sentido, no entanto o secretário de Estado Antony Blinken não se mostrou muito convencido da eficácia da medida. "Os custos que foram impostos à Rússia por nós e por outros países estão absolutamente em linha com as consequências que resultariam da designação de patrocinador estatal do terrorismo. Portanto, os efeitos práticos são os mesmos", disse Blinken.

Porém, um grupo de democratas da Câmara de Representantes apresentou uma nova iniciativa que, se for aprovada, teria valor legal e acrescentaria a Rússia a uma lista onde estão Coreia do Norte, Cuba, Irão e Síria. Essa medida resultaria ainda em mais sanções para a economia russa, incluindo para os países que fazem negócios com Moscovo. E abria a hipótese de cidadãos norte-americanos processarem o governo russo.

O que o Departamento de Estado anunciou foi mais uma ronda de sanções, atingindo dezenas de empresas e 13 indivíduos russos. Entre eles está Alina Kabaeva, ex-ginasta olímpica e alegada parceira de Vladimir Putin, mas também de vários oligarcas. Caso de Andrei Guryev, proprietário do maior imóvel privado de Londres depois do Palácio de Buckingham. Enquanto Londres anunciou sanções a dois ex-membros da administração de uma petrolífera, o Canadá impôs sanções a 43 militares e 17 entidades.

cesar.avo@dn.pt

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