Ruídos atípicos no 'cockpit' e foco de calor detetado por satélite

Investigadores começaram ontem a análise das caixas negras do avião que caiu no sábado
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Quatro minutos antes de o Airbus A321 da Metrojet desaparecer dos radares, o piloto contactou os controladores aéreos para uma troca de informações de rotina. Mas os sons que antecederam a tragédia que tirou a vida às 224 pessoas que iam a bordo foram tudo menos de rotina. Segundo a agência russa Interfax, que cita a transcrição das gravações do cockpit registadas pelas caixas negras, os ruídos foram "atípicos" e a situação desenvolveu-se de forma "súbita e inesperada". Satélites militares norte-americanos detetaram um foco de calor na mesma altura, o que pode indicar que houve uma explosão (de uma bomba ou do motor, por falha técnica).

Os investigadores começaram ontem a análise às caixas negras do avião que caiu no sábado no Sinai, cerca de 25 minutos após descolar do aeroporto egípcio de Sharm el-Sheikh com destino à cidade russa de São Petersburgo. Peritos do Egito, da Rússia e da República da Irlanda (onde o Airbus A321 estava registado) são responsáveis pela investigação, com o apoio dos especialistas franceses e alemães enviados pela construtora do avião.

"Este pode ser um longo processo e não podemos falar dos resultados à medida que avançamos", afirmou à Reuters o porta-voz do Ministério da Aviação Civil egípcio, Mohamed Rahmi, dizendo que não há elementos que provem que o aparelho se partiu ou desintegrou no ar. Esse cenário é contudo confirmado pelos russos. As teorias que se têm ouvido vão desde um ataque com um míssil a uma bomba a bordo, passando por um problema estrutural provocado por um acidente em 2001, no qual a cauda do aparelho embateu na pista durante uma aterragem.

Segundo a fonte citada pela Interfax, "ruídos atípicos de um voo de rotina foram registados antes do momento em que o aparelho desapareceu dos radares". A mesma fonte revelou que a situação se desenvolveu de forma "súbita e inesperada", mas a agência de notícias russa não acrescentou mais pormenores.

Por seu lado, os media norte-americanos revelaram que um satélite militar dos EUA detetaram um foco de calor proveniente do A321 da Metrojet (novo nome da companhia Kogalymavia) no momento em que desapareceu dos radares - o que "sugere um acontecimento catastrófico" durante o voo. Entre as causas possíveis, segundo analistas citados pela CNN, figuram a explosão de uma bomba no interior do aparelho, a explosão de um motor, um foco de incêndio provocado por um problema estrutural do avião ou o embate de destroços no solo.

A agência oficial de notícias russa Sputnik cita um médico egípcio, que terá analisado os corpos das vítimas, que diz que os danos nos correspondem aos esperados em caso de explosão a bordo. A mesma agência citava um tabloide russo, LifeNews, que dizia ter tido acesso aos exames forenses. Segundo estes, as vítimas que estavam na parte de trás do avião "morreram por causa de ferimentos de explosão" - e tinham partículas de metal e do avião no corpo - enquanto as que estavam na parte da frente morreram de causas diferentes, incluindo perda de sangue, choque ou múltiplas fraturas. Os corpos das vítimas já estão todos em São Petersburgo, onde decorrem os procedimentos para a identificação.

Propaganda terrorista

Numa entrevista à BBC, o presidente egípcio, Abdul Fattah al-Sisi, explicou que a reivindicação feita por um grupo ligado ao Estado Islâmico é mera "propaganda", cujo objetivo é "danificar a estabilidade e segurança do Egito e a imagem" do país. "Acreditem em mim, a situação no Sinai, especialmente nesta área limitada, está totalmente sob o nosso controlo", disse.

O movimento Província de Sinai surgiu após a queda do presidente Hosni Mubarak, em 2011, e aumentou os ataques dois anos depois, na sequência do golpe apoiado pelos militares que afastou do poder o islamita Mohamed Morsi. Há um ano que o grupo, responsável pela morte de centenas de polícias e militares, decretou fidelidade ao Estado Islâmico. No sábado, reivindicaram a responsabilidade pela queda do avião, dizendo ser uma represália pelo envolvimento da Rússia na guerra contra o Estado Islâmico na Síria.

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