Rui Vitória está a viver um dos melhores períodos como treinador do Benfica, pois começa a estabelecer novos recordes que pareciam impensáveis. Desde logo, é o treinador com melhor média de triunfos de sempre no campeonato ao serviço do clube, com 85,7% de jogos ganhos, sendo o terceiro melhor de sempre no conjunto de todas as competições (78,1%), só atrás do húngaro Lajos Czeizler (80,5%) e Jimmy Hagan (78,3)..Mas há mais. No último domingo, com o triunfo no Restelo, tornou-se o treinador do Benfica a chegar mais rapidamente à 50.ª vitória. E a isso juntou a maior série de triunfos consecutivos fora de casa (16), batendo a melhor marca do campeonato, que estava na posse do inglês Jimmy Hagan, também ao serviço dos encarnados, entre abril de 1972 e fevereiro de 1973..Toni e António Simões faziam parte da equipa que detinha o anterior recorde e não têm dúvidas em atribuir "todo o mérito" dos novos feitos a Rui Vitória, que está a subir os degraus que podem colocá-lo definitivamente na história do clube. "Está a trilhar o seu caminho para pertencer ao lote dos treinadores com mais sucesso do Benfica, mas para isso, além dos recordes, falta-lhe ganhar mais títulos", sublinhou Simões, defendendo que os resultados que têm sido obtidos "correspondem à soma do valor dos jogadores e do treinador"..A esta ideia, Toni acrescenta que tudo isto "é fruto também da estabilidade diretiva e da organização do clube", pois "só assim se explica que, apesar das sucessivas entradas e saídas de jogadores e das lesões, os princípios de jogo se têm mantido, permitindo a Rui Vitória chegar a estes resultados". O antigo futebolista e treinador encarnado reconhece, no entanto, que tudo isto se deve "à competência e liderança do treinador e também aos jogadores, que são os intérpretes dentro do relvado". António Simões acrescenta ainda que "ninguém ganha por acaso e se vence com frequência é porque existe competência". "Com tanta gente lesionada, quem ganha é a unidade da equipa", acrescenta o antigo magriço..A verdade é que a carreira de menos de um ano e meio de Rui Vitória na Luz foi tudo menos pacífica, sobretudo na fase inicial. "Vejam bem os contrastes. Há um ano, após as derrotas com o Sporting, diziam que eram os piores resultados dos últimos 60 anos...", atira Toni, atribuindo todo o mérito ao técnico, que "deu a volta por cima, apesar de na altura os mais céticos dizerem que não era treinador para o Benfica". António Simões destaca que, "apesar das contrariedades, nada estremeceu" ao longo desta caminhada, considerando que "os pilares mantiveram-se intactos", algo que diz ser mérito de "todo o grupo"..À prova no Porto... 43 anos depois.Toni e António Simões faziam parte da equipa treinada por Jimmy Hagan que detinha o anterior recorde de triunfos fora de casa. O antigo magriço garante que fica "contente" por a marca ter sido batida. "É sinal de que a nossa geração fez algo muito interessante para ser batido um recorde 43 anos depois", destaca, admitindo que o feito alcançado por Rui Vitória merece o devido destaque: "Tendo em consideração as várias ausências e as alterações no plantel, há muito mérito do atual treinador, pois no meu tempo jogavam quase sempre os mesmos jogadores e os plantéis mantinham-se de uma época para a outra.".E, a esse propósito, Toni recorda que essa equipa do Benfica, que venceu um campeonato sem derrotas, "tinha avançados da qualidade de Eusébio, Artur Jorge, Vítor Baptista, Nené e Jordão, num plantel extraordinário", enquanto Rui Vitória teve de lidar com "várias contrariedades". "Chegou a não ter pontas-de-lança e a ter de jogar, por exemplo, com Rafa e Gonçalo Guedes, que nunca tinham atuado juntos, e a equipa nunca perdeu identidade", reforça..Tal como há 43 anos, o Benfica chegou ao recorde de vitórias fora de casa num jogo no Estádio do Restelo, também com um resultado de 2-0. E a deslocação seguinte foi às Antas, para um clássico com o FC Porto, que terminou com um empate 2-2, que terminou com a série vitoriosa..Curiosamente, dentro de duas semanas, os encarnados deslocam-se ao Estádio do Dragão, onde vão tentar manter a senda de vitórias consecutivas. "A história nem sempre se repete...", lembra Toni, enquanto António Simões destaca que "antes disso ainda há um jogo para disputar [o Benfica recebe o Paços de Ferreira e o FC Porto joga em Setúbal], mas, se tiver de ser diferente, que, desta vez, o Benfica consiga vencer, mas se for empate também não será mau de todo", vaticina..Ainda assim, os dois ex-jogadores acreditam que o recorde de 17 vitórias consecutivas longe do Estádio da Luz possa ser alcançado - afinal, como diz Toni, "as vitórias geram cada vez mais confiança".