Rui Vitória de saída. Lage é solução provisória no Benfica com Jesus na calha

O presidente Luís Filipe Vieira irá conversar nesta quinta-feira com o treinador, estando a rescisão iminente. Bruno Lage, da equipa B, deverá assumir o cargo de forma provisória. O regresso de Jorge Jesus é hipótese em cima da mesa
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Rui Vitória deverá deixar de ser treinador do Benfica ainda nesta quinta-feira, apurou o DN, na sequência dos maus resultados da equipa, que culminaram na terça-feira com a goleada (5-1) sofrida em Munique, diante do Bayern, que ditou a eliminação na fase de grupos da Liga dos Campeões.

A equipa do Benfica regressou da Alemanha já nesta quarta-feira, tendo a comitiva chegado ao Estádio da Luz ao final da tarde, onde estava o presidente Luís Filipe Vieira, que, algumas horas depois, se reuniu com a restante administração da SAD para analisar a sequência de más exibições e a série de sete jogos em que os encarnados apenas conseguiram vencer dois e sofreram 14 golos.

A saída do treinador de 48 anos é, nesta altura, o cenário mais provável, uma vez que até Luís Filipe Vieira, o maior defensor do técnico na Luz, já admite que é preciso fazer alguma coisa para inverter a crise que tomou conta da equipa. Assim sendo, o presidente do Benfica deverá ter durante esta quinta-feira uma conversa definitiva com Rui Vitória, após a qual deverá ser anunciada a saída do técnico que foi contratado no verão de 2015 para substituir Jorge Jesus e que, em quase três épocas e meia, conquistou duas Ligas portuguesas, uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga e duas Supertaças.

O Benfica volta a jogar no sábado, às 18.00, na Luz, com o Feirense, uma partida que deverá, de acordo com informações recolhidas pelo DN, ser orientada por Bruno Lage, atual treinador da equipa B, que em 2017-18 foi adjunto de Carlos Carvalhal no Swansea, na Premier League. Em aberto está ainda a possibilidade de o treinador de 42 anos, que iniciou a sua carreira nas camadas jovens dos encarnados, ter a companhia de Renato Paiva na equipa técnica, que até agora orienta os juniores.

À partida, Bruno Lage deverá assumir o cargo provisoriamente até Luís Filipe Vieira encontrar uma situação definitiva, não sendo de excluir que esta solução se prolongue até final da temporada. Ainda assim, o regresso de Jorge Jesus continua a ser uma forte hipótese, embora o treinador não possa deixar o Al-Hilal, da Arábia Saudita, antes do final de 2018.

O treinador de equipas portuguesas mais goleado na Europa nesta década

Rui Vitória bem pode continuar a invocar o facto de ser o único treinador do Benfica a conseguir apurar a equipa em dois anos consecutivos para lá da fase de grupos da Liga dos Campeões, como já se sentiu na obrigação de argumentar nesta época (embora de forma errónea, clamando ser o treinador com melhor rácio de vitórias), mas os números negativos que tem colecionado nos últimos tempos constituem um peso difícil de contrapor com esses dois apuramentos (2015-16 e 2016-17).

A pesada derrota em Munique, na última terça-feira, que pôs fim às esperanças encarnadas de poder seguir em frente na prova veio reforçar um registo negro do técnico na principal competição europeia. Senão vejamos: das seis goleadas por quatro ou mais golos sofridas por equipas portuguesas na Champions na década em curso, a partir da temporada 2010-11, o nome de Rui Vitória surge associado a metade delas. Três goleadas sofridas que o destacam, de resto, como o treinador de equipas portuguesas com mais derrotas pesadas na Europa do futebol durante este período.

No Benfica, a marca é ainda mais evidente. Até aos 4-0 sofridos em Dortmund, nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões 2016-17, a formação da Luz ainda não tinha perdido por quatro ou mais golos de diferença nas provas europeias durante esta década. O pior que o antecessor, Jorge Jesus, tinha feito no Benfica foram duas derrotas por 3-0 - em Telavive frente ao Hapoel, em 2010-11, e em Paris frente ao PSG, em 2013-14.

Depois dessa primeira goleada sofrida como treinador do Benfica na Champions, em Dortmund (4-0), Rui Vitória já acumulou outras duas: o 5-0 em Basileia, na desastrosa fase de grupos da época passada que o Benfica terminou só com derrotas; e este 5-1 em Munique, que sentenciou a segunda temporada consecutiva sem acesso ao lote das 16 melhores equipas da Europa.

Na Liga dos Campeões, nesta década, além das três goleadas sofridas pelo Benfica de Rui Vitória, houve apenas outras três ocasiões em que equipas portuguesas saíram derrotadas por quatro ou mais golos de diferença.

Duas delas foram protagonizadas pelo FC Porto, com técnicos diferentes: na época passada, Sérgio Conceição viu a equipa portista ser goleada por 5-0, em pleno Dragão, pelo Liverpool, na primeira mão dos oitavos-de-final; em 2015, ainda sob o comando do espanhol Julen Lopetegui, o FC Porto caiu com estrondo (6-1) em Munique, também frente a um Bayern então treinado por Pep Guardiola, na segunda mão dos quartos-de-final. A outra goleada teve como vítima o Sp. Braga de Domingos Paciência, em Londres, perante o Arsenal (6-0), na estreia minhota na fase de grupos da Champions, em 2010-11.

Se esticarmos a análise à Liga Europa, encontramos mais quatro jogos em que clubes portugueses caíram por quatro ou mais golos. Mas mesmo assim Rui Vitória continua como o único treinador com o seu nome associado a mais do que uma goleada europeia sofrida.

De resto, como já foi destacado após o Bayern-Benfica, Rui Vitória passou a ser o treinador da história do Benfica com mais derrotas na principal competição europeia de clubes (15, contra 14 de Jesus) e tem um rácio negativo de 54% de derrotas nos 28 jogos ao comando do Benfica na Champions. As últimas duas épocas, então, são arrasadoras para o técnico, com nove derrotas em 11 jogos, duas goleadas sofridas e 6-25 em saldo de golos.

Goleadas sofridas na Europa*

LIGA CAMPEÕES
2010/09/15 6-0 Arsenal-Braga (treinador: Domingos Paciência)
2015/04/21 6-1 Bayern Munique-FC Porto (Lopetegui)
2017/03/08 4-0 B. Dortmund-Benfica (Rui Vitória)
2018/02/14 0-5 FC Porto-Liverpool (Sérgio Conceição)
2017/09/27 5-0 FC Basel-Benfica (Rui Vitória)
2018/11/27 5-1 Bayern Munique-Benfica (Rui Vitória)

LIGA EUROPA
2016/04/14 4-0 Shakhtar Donetsk-Braga (Paulo Fonseca)
2015/10/01 0-4 Belenenses-Fiorentina (Sá Pinto)
2012/02/22 4-0 Manchester City-FC Porto (Vítor Pereira)
2011/08/25* 0-4 V. Guimarães-Atlético Madrid (Manuel Machado)

* Na década em curso, a partir de 2010-11. Derrotas de equipas portuguesas por quatro ou mais golos de diferença.

A "tremideira" e o sub-rendimento

Nos últimos sete jogos oficiais, o Benfica foi derrotado em quatro (Ajax, Belenenses, Moreirense e B. Munique) e empatou outro (Ajax). Além disso, as exibições da equipa têm sido muito questionadas e os adeptos têm brindado o treinador com lenços brancos e os jogadores com enormes assobiadelas.

O antigo diretor-geral do futebol do Benfica nas décadas de 1980 e 1990, Gaspar Ramos, considera que o principal problema dos encarnados não se chama Rui Vitória. "Esta situação está relacionada com erros de planeamento, não só com o treinador. O treinador pode cometer erros, mas há coisas mais profundas que terão de ser analisadas, como por exemplo a forma como se reage a determinado tipo de situações ou a atuação que é desenvolvida, uma série de situações que tem que ver com o grupo, a constituição do plantel, a influência que determinado tipo de atitudes e pressões podem ter no balneário", afirmou ao DN.

Para o antigo dirigente, de 78 anos, "a equipa treme quando é pressionada defensivamente" e existe um "rendimento menor de alguns elementos-chave", mas "a solução não passa pela saída de Rui Vitória". "O Benfica tem alguns jogadores de classe, mas que estão em sub-rendimento, como Jonas, Salvio ou Fejsa, que tem vindo a descer de rendimento ainda que jogue só num espaço limitado. E, depois, como não se fizeram contratações com nível para entrar diretamente na equipa, esta está a sofrer as consequências das debilidades que tem. É uma equipa que mesmo quando jogava bem tremia quando tinha de defender. É uma tremideira quando entram no meio-campo do Benfica, o que tem que ver com os jogadores que ocupam esse espaço", frisou, apontando falta de qualidade aos jogadores contratados no verão: "Fizeram-se contratações, mas reforços propriamente ditos não existiram."

Já o antigo capitão benfiquista Paulo Madeira salienta que "o Benfica não joga bem, não está num bom momento e que isso é um bocado preocupante", mas desconhece as razões que poderão estar na base desta crise de resultados e exibições.

"O Benfica iniciou a época de uma forma brilhante, com a passagem à fase de grupos da Liga dos Campeões, a vitória sobre o FC Porto e a exibição frente ao Sporting. Mas de há um mês e meio para cá que as coisas não estão a correr bem. Não sei o que se passou, a equipa é a mesma", recordou ao DN, ainda que admitindo que "há jogadores que não estão bem". "Dou o exemplo do Pizzi, que quando está bem faz a equipa jogar bem, mas que quando não está bem não consegue acrescentar algo à equipa. Se é ou não esta a única razão..."

Com David Pereira e Rui Frias

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