Rui Rio: "O governo é um mestre da propaganda"
No encerramento da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, e embalado pela Festa do Pontal do dia anterior, Rui Rio voltou a disparar contra o PS e António Costa, num registo muito mais assertivo que dá o pontapé de saída para a campanha eleitoral para as legislativas. "Este governo governa para a sua própria imagem, para o presente e não para futuro e por isso não traz esperança", afirmou o líder social-democrata perante uma plateia de jovens.
Tal como na Festa do Pontal, Rio voltou a socorrer-se da greve dos motoristas de matérias perigosas para demonstrar que o governo procurou tirar dividendos do "circo mediático que montou". "Chama as Forças Armadas, a GNR, aconselhou as pessoas a racionarem a gasolina, uma dramatização do outro mundo para fazer parecer o dossier muito difícil e o governo aparecer a resolver problema difícil. Não resolveu nada e só quando foi um árbitro imparcial é que começou a resolver as coisas", disse.
O líder social-democrata mostrou-se convicto que os portugueses perceberam agora como como "o governo põe os interesses do partido [PS] acima dos interesses do país". O que, frisou, também aconteceu com a ameaça de demissão durante a crise dos professores. "Tinha em mente uma encenação para condicionar o voto e condicionou em nome do interesse do PS e não em nome do interesse nacional." Rio justificava, em parte, o mau resultado que o seu partido teve nas eleições europeias, que se realizaram muito coladas a essa crise que não correu bem nem ao PSD nem ao CDS.
Este episódio serviu também para um elogio raro ao governo de Pedro Passos Coelho, do qual Rio se procurou sempre demarcar. "Um governo do PSD nunca o fez, o último é acusado rigorosamente do contrário, de pôr os interesses do país acima dos do partido".
Mas os ataques a António Costa, nome que nunca mencionou, não ficaram por aqui. A última entrevista que o primeiro-ministro deu ao Expresso e em que atacou o Bloco de Esquerda e deu uma espécie de "abraço de urso" ao PCP por ser mas fiável, serviram ao presidente social-democrata para se demarcar do PS. "Isto é um discurso oportunista. Condeno esta forma de estar na política", asseverou Rio. A "ingratidão" com os parceiros de parlamento, disse o líder do PSD, serve para [Costa] tentar conseguir "simpatias que sabe que perdeu".
"Só há uma alternativa ao governo do PS é o PSD. Um governo liderado pelo PSD será pela social-democracia, o PS encostou à esquerda", afirmou o líder do PSD e atirou nova farpa rejeitando a ideia que um governo liderado por si possa servir para dar empregos às famílias. A palavra "esperança" foi a que quis transmitir como a principal mensagem do PSD nestas eleições. De tal forma, que até anunciou aquele que será o seu ministro das Finanças se ganhar as legislativas de 6 de outubro - "se o futuro for já a 6 de outubro"- que é Joaquim Sarmento, mandatário nacional do partido para as legislativas.
De camisa, com ar descontraído, num discurso ainda longo, tentou sempre marcar a diferença em relação aos opositores políticos. Voltou à "guerra" que quer abrir pela descentralização - sendo que reconheceu ter assinado um acordo com o governo nesse sentido - para falar dos seus traços de personalidade, que o tornam um político diferente. "Desapego e coragem, às vezes tenho até em excesso. Até gosto de comprar guerras. Vale a pena comprar a guerra da descentralização e da desconcentração de meios".
E garantiu que terá coragem, se for primeiro-ministro, para retirar 100 milhões de investimento da Área Metropolitana de Lisboa e investi-los, por exemplo, no distrito de Portalegre, onde a Universidade de Verão do PSD decorreu. "Teria meia dúzia de pessoa a bater palmas, e milhares zangados", disse e assegurou que só vale a pena ser líder de um partido para "fazer diferente", de outro modo "e um frete tremendo".
Também não "tolera" o discurso do governo sobre a Segurança Social, a garantir que está tudo bem. E porque há "problemas" de sustentabilidade que vão atingir as novas gerações, Rui Rio apelou a um pacto para a reforma da Segurança Social. Uma reforma que até permita uma transição mas suave para a reforma, ou seja que, por exemplo, as pessoas possam começar a trabalhar menos no final da sua carreira.
Rui Rio voltou ao seu programa macroeconómico, que prevê a descida de impostos, às medidas de preservação do ambiente, mas focou nas questões económicas. "O que é que os portugueses querem?" - perguntou e respondeu: "melhores empregos e melhores salários". É por isso que o seu partido se vai bater, por empregos de qualidade, que este governo não conseguiu gerar.
Foi irónico a dizer que "nos últimos tempos tivemos boas notícias e que até 6 de outubro serão exponenciais". Mas, sublinhou, que a dívida externa está a crescer e foi isso que levou o governo do PS de José Sócrates a chamar a troika. A aposta tem de ser nas exportações e no investimento.
Acompanharam Rui Rio, neste encerramento da Universidade de Verão do PSD, Joaquim Sarmento, o secretário-geral do PSD, José Silvano, o cabeça de lista pelo Porto, Hugo Carvalho e ainda Maló de Abreu, que é número dois da lista por Coimbra e membro da Comissão Política Nacional do partido.