Os cinco desafios de Rui Rio para devolver o PSD ao poder

A grande dúvida em relação ao recém reeleito líder do PSD é se levará o partido de volta ao poder. Autárquicas de 2021 vão ser cruciais
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Rui Rio é politicamente "incorreto". "Amanhã vou descansar e no dia seguinte começa o trabalho", atirou aos jornalistas no final do discurso de vitória na segunda volta das diretas do PSD. É muito neste campo que joga a sua diferença, mas chegará para levar novamente o PSD ao poder? O PSD deu-lhe confiança renovada, embora partido ao meio, mas continua à espera de vitórias eleitorais. E, mais do que as regionais dos Açores neste ano, serão as autárquicas de 2021 que vão ditar muito do seu futuro político. De permeio tem vários desafios, que ele próprio anunciou.

1. Unidade, unidade ou talvez não

O líder reeleito do PSD mostrou-se disponível para tudo fazer em prol da unidade do partido, depois do eu challenger, Luís Montenegro, ter conseguido 47% dos votos nas diretas. Mas colocou imediatamente na mesa as condições para que ela exista. "Seriedade e lealdade." O que, ouvindo fontes do PSD que bem o conhecem, significa que o recado está dado aos críticos e aos opositores - muitas das figuras que estiveram ao lado de Montenegro, entre as quais as "passistas" - para que se aquietem nestes próximos dois anos e "atrapalhem a sua estratégia política".

Tanto assim é que avisou imediatamente que, ao contrário de há dois anos, quando apresentou uma lista conjunta com Pedro Santana Lopes ao Conselho Nacional (e acabou com a saída de Santana do partido), desta vez vai avançar com uma lista própria, sem apoiantes de Montenegro ou de Miguel Pinto Luz. Os dois ex-candidatos, que teoricamente poderão influenciar a maioria do Conselho Nacional, terão de mobilizar as suas tropas no congresso de 7 a 9 de fevereiro para eleger os seus representantes naquele órgão máximo entre congressos.

Fontes próximas de Rio dizem ao DN que, mesmo que as tropas de Montenegro e de Pinto Luz se mobilizem para ocupar lugares no CN, é pouco provável que abram nova frente de guerra ao líder. "O partido não lhes iria perdoar", dizem.

Rio não deu sinais se deseja renovar a sua comissão política nacional, da qual fazem parte David Justino, Elina Fraga, Isabel Meirelles, José Manuel Bolieiro, Nuno Morais Sarmento e Salvador Malheiro. Alguns destes vice-presidentes tiveram uma presença completamente apagada durante estes dois anos de mandato. Os mais ativos foram sempre David Justino e Salvador Malheiro.

2. Direção da bancada e Orçamento do Estado

Também no congresso poderá ficar a saber-se quem Rui Rio escolhe para o substituir na direção do grupo parlamentar, que já tinha dito que só acumularia até ao congresso de fevereiro. O nome mais falado é o de Adão Silva, vice-presidente da bancada social-democrata. Depois de passar a pasta, o líder reeleito e deputado fica mais livre para se dedicar ao partido e à campanha para os próximos atos eleitorais.

Para já, tem pela frente o debate do Orçamento do Estado para 2020, depois de ter anunciado o voto contra do PSD, e uma semana ainda para coordenar a apresentação de propostas na especialidade. Rio prometeu que a sua bancada não irá desvirtuar a proposta de OE 2020 e apenas se tem comprometido com uma medida: a redução do IVA para eletricidade (deixando cair a do gás), mas sem revelar em que moldes.

3. Regionais dos Açores e muito as autárquicas

"Estes desafios são pequenos se comparados com os que terá pela frente nas urnas", afirma ao DN uma fonte social-democrata. O próprio Rui Rio assumiu estar "amarrado" aos compromissos eleitorais. A começar pelas regionais dos Açores deste ano e cujo candidato do partido é o vice-presidente José Manuel Bolieiro. "Penso que estamos em condições de disputar as eleições taco a taco", garantiu Rio.

Mas se perder os Açores ninguém lhe levará a mal no partido, já nas eleições autárquicas o peso da responsabilidade é maior. Rui Rio estabeleceu como meta mais câmaras e mais mandatos autárquicos, sabendo que é quase impossível passar à frente do PS nessa corrida eleitoral, que foi uma razia para o seu partido em 2017. Os socialistas conseguiram 159 municípios e os sociais-democratas apenas 98. As duas maiores câmaras, a do Porto e a de Lisboa, não são de cor laranja, a primeira é de um independente, Rui Moreira, e a segunda é do socialista Fernando Medina.

O líder reeleito do PSD também aponta à difícil conquista de Lisboa, e o nome de que se fala para encabeçar a lista do partido à autarquia é a de Filipa Roseta, que liderou a lista de candidatos à Assembleia da República nas legislativas de outubro.

"As eleições autárquicas são absolutamente determinantes para o futuro político de Rio, mas também do PSD", enfatiza a mesma fonte social-democrata. Um partido de poder move-se e mobiliza-se por lugares, e a implantação autárquica é o primeiro passo para o sucesso eleitoral também a nível nacional.

Todos reconhecem que a tarefa não é fácil e que vai coincidir com a discussão do Orçamento do Estado para 2022, altura em que Rio aponta mais dificuldades nas negociações com a esquerda.

4. Abrir o partido aos independentes

As autárquicas estão intimamente relacionadas com outro dos desafios que Rio impõe a si mesmo: abrir o partido à sociedade. Depois de avisar que não haverá lugares para "os amigos e líderes de fação" nas autárquicas de 2021, o líder quer escolher os "melhores" para a corrida eleitoral. E terá certamente de contar com algumas figuras da sociedade civil que não se importem de dar a cara pelo partido.

Figuras que tenham peso e relevância local - tais especialistas nos temas que interessam às pessoas, como diz Rio - e que consigam disputar taco a taco com os socialistas no terreno.

5. Estar ao centro, com a direita à espreita

Também sem se desviar um milímetro, Rio fez do slogan "PSD ao centro" a sua bandeira nas diretas do partido. Mantém que só neste espaço político, que também é ocupado pelo PS, é possível construir uma alternativa e ganhar eleições.

Mas fontes do partido próximas de Montenegro e Pinto Luz lembram que à direita há novos partidos à espreita de parte do eleitorado tradicional do PSD, casos do Iniciativa Liberal e do Chega. "Apesar de o CDS estar em crise e à procura de rumo, o PSD devia aproximar-se novamente daquele que foi o seu parceiro de governação", defendem, cientes de que mesmo chegando ao poder as maiorias absolutas são uma miragem.

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