O rover europeu que vai procurar vida em Marte já tem nome
O rover que a Europa vai enviar para Marte em 2021, e cuja missão é procurar vestígios de vida no subsolo, já tem nome, e ele não podia ser mais certeiro: é Rosalind Franklin, o nome da pioneira do ADN que participou, a par de James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins (ela fazia equipa com este) nos estudos que levaram à descoberta da molécula em forma de dupla hélice que codifica a vida.
Ao contrários dos outros três, porém, Rosalind Franklin ficou de fora do prémio Nobel que reconheceu em 1962 a descoberta e descrição da molécula do ADN - ela morreu de cancro ainda muito jovem, em 1958 -, e o seu nome acabou por ficar na obscuridade. A decisão da ESA, a agência espacial europeia, de dar o seu nome ao seu rover marciano faz justiça à cientista britânica que não viveu o suficiente para ver o seu trabalho celebrado.
O nome foi escolhido por um painel de peritos, que o selecionaram a partir de uma lista de 36 mil propostos num concurso, que foi lançado em julho do ano passado, e era aberto a todos cidadãos dos países membros da ESA.
"Este nome lembra-nos que explorar está nos genes humanos. A ciência está no nosso ADN e em tudo o que fazemos aqui na ESA", explicou o diretor-geral da agência espacial europeia, Jan Woerner, ao anunciar o nome para o rover marciano, nome que, sublinhou, "materializa este espírito, e que nos transporta para a dianteira da exploração espacial".
Rosalind Franklin, uma química inglesa especialista em cristalografia por raios-X foi quem primeiro captou a imagem da molécula de ADN, mostrando pela primeira vez o seu formato em dupla hélice. Levada pelo entusiasmo, Rosalind terá mostrado essa imagem a James Watson, dando-lhe assim a ideia para o modelo de molécula que este montou depois no laboratório, juntamente com Francis Crick, e que a dupla apresentou e descreveu depois na revista Nature, em abril de 1953.
O rover Rosalind Franklin, uma missão conjunta da ESA e da agência espacial russa, a Roscosmos, chamada ExoMars (esta será a segunda etapa da missão, a primeira já está em curso), será o primeiro veículo a explorar Marte com a capacidade de perfurar a superfície até uma profundidade de dois metros.
A ideia é procurar aí, bem dentro do solo, vestígios de vida micro-orgânica. A possibilidade da sua existência no subsolo é considerada pelos cientistas, uma vez que a essas profundidades, eventuais micro-organismos ali existentes estariam a salvo das radiações, que são letais à superfície do planeta.
O local de aterragem da missão, em 2021, já está definido. Será em Oxia Planum, uma região junto ao equador marciano onde se sabe que há milhares de milhões correu água em abundância, e onde a vida teve eventualmente condições para desabrochar nessa altura. Se os vestígios dela lá estiverem ainda - ou mesmo a própria vida, em profundidade - o Rosalind poderá, finalmente, encontrá-los.