Rio: "Se tenho medo das notícias não estou aqui a fazer nada"
O líder do PSD apontou, em Castelo de Vide, os "erros" capitais do governo, entre os quais a falta de uma estratégia de crescimento económico sustentado". E avisou: é preciso estar atendo ao endividamento das famílias. Não visou os críticos internos, mas a comunicação social. "Se tenho medo das notícias, não estou aqui a fazer nada"
Sem um sinal do que fará no Orçamento de Estado para 2019, o líder do PSD garantiu à plateia de alunos da Universidade de Verão, que o governo de António Costa não tem uma estratégia de crescimento económico. O endividamento das famílias, para alimentar o consumo, devia fazer tocar as campainhas do executivo. Mas não só. "É bom que a banca aprenda com os erros que cometeu e o Banco de Portugal também, que estejam atento a estes sinais". disse em tom crítico.
Para Portugal, disse, o "crescimento económico é vital" e recordou que foi a aposta dos governos de José Sócrates no consumo e endividamento externo que trouxe ao país a troika. "Se eu acelero o consumo vou ter de importar mais, o que está a ser feito não tem a dimensão de há 7 , 8, a 9 anos, mas está a ser feito o mesmo", garantiu.
Para Rio, temos de "acarinhar muito o investimento externo" e profetizou se "o consumo fosse pelo lado público" a situação do país seria "ainda era pior". "O governo não deve investir, são os privados que têm de investir". O governo devia era ter uma política pública amiga do investimento. "Olhar para a carga fiscal, para à legislação fiscal, para a formação profissional, melhorar funcionamento da justiça, para uma legislação laboral diferente, para a poupança e os fundos da UE deviam ser mais vocacionados para o que pretendemos".
Se António Costa resolver dar mais - presume-se no OE2019 - do que as "folgazitas" que arranja com o crescimento económico "o caldo está entornado", criticou Rio. O exemplo do que se passa com as negociações com os professores foi o exemplo que trouxe a Castelo de Vide. "É um governo que promete o que não pode cumprir. O ministro das Finanças tem uma prática que é de austeridade e o primeiro-ministro anda a dizer que acabou. Se é um país das maravilhas, os professores acham podem pedir o que têm direito".
"Se isto vai ter impacto nas eleições, talvez não", reconheceu, mas apontou ao que pode realmente fazer o país mudar de opinião sobre a gestão de António Costa. Precisamente a "degradação dos serviços públicos". Rio pôs à cabeça o Serviço Nacional de Saúde, onde a falta de médicos, de enfermeiros, a "péssima gestão" e as 35 horas trabalho geraram o "caos". Mas também os transportes , a TAP e a CP, que "está afundada em dívidas".
No encerramento da Universidade de Verão, Rio as críticas de Rio ao governo foram, contudo, menos contundentes, do que na Festa do Pontal. O tom foi mais sereno, Também ficaram à porta da sala, do hotel em Castelo de Vide, as caneladas que tem dado nos críticos internos, mas houve algumas suaves indiretas.
Rio só foi às críticas ao governo porque há "os que estão a espreitar à janela" e sem "um soudbyte" dizem que o "partido não descola". Ora, o discurso de encerramento da Universidade de Verão coincide com o mesmo dia comentário de domingo de Marques Mendes na SIC e o antigo líder do PSD tem sido um dos que mais tem apontado falta de estratégia a Rui Rio para afirmar o PSD como alternativa ao governo socialista.
Em jeito de conselho aos jovens presentes lançou mais um recado: "Não tenham medo de afrontar interesses instalados, porque senão somos cúmplices da degradação. Renunciem ao taticismo. Quando discordarem discordem. Quando concordarem concordem, sem táticas, com frontalidade e não por causa de estratégia pessoal. A política está carregada disto!"
Rio foi igual a si próprio. O que veio dizer a Castelo de Vide é o que defende desde sempre e até os alvos são os mesmos, em particular a comunicação social. A defesa da moralização da política e a separação do interesse público do "politicamente correto voltaram à UV, numa espécie de eco do que tinha sido a sua intervenção anos antes no mesmo palco e ainda longe da liderança do partido.
"Veem-me ser politicamente incorreto porque na prática o politicamente correto é a ausência de criatividade e de coragem para mudar o que tem de ser mudado". O politicamente correto, sublinhou, "é seguir a agenda politica dos grandes meios de comunicação. Na politica temos de estar em nome do serviço público, nos meios de comunicação estamos ao serviço das vendas e do lucro".
E quis dar um exemplo de como remar contra a maré é difícil: enquanto deputado fez uma proposta, numa comissão para o financiamento dos partidos, há quase 20 ano, para que tivessem um plafond para formação de jovens e não jovens. Os partidos, garantiu, tiveram "medo dos títulos dos jornais" que imaginavam que seriam do género 'partidos querem mais dinheiro do Orçamento do Estado'. "Recuaram, eu não recuava", garantiu. Se tivesse acontecido, "teríamos uma nova geração, com um novo tipo de militância diferente, podíamos ter um país diferente. Não o fizemos com medo das manchetes dos jornais".
Ainda sobre a moralização da política quis ainda explicar que o Conselho Estratégico Nacional que criou no partido é para fazer entrar "milhares" de pessoas no PSD.
"Só podemos estar na política pelo interesse público. Venham só para a politica se a vossa motivação for a sociedade. No gosto de fazer qualquer coisa pela sociedade, pelo coletivo", incentivou. "Quem está fechado nos corredores da política não sabe o que as pessoas lá fora querem".
É por isso que, garante, que vai continuar a fazer os acordos com o governo que entender que são a bem do país, como o da Justiça. "Se tenho medo das notícias, não estou aqui a fazer nada".
Rematou, sob aplausos, a garantir que conta com a JSD para "chegar a primeiro-ministro". Na sala estiveram a ouvi-lo, entre outros o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, e o secretário-geral, José Silvano.
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