Rio Okavango: documentário nomeado para os Emmys 2019 passa por Angola
Neil Gelinas, da National Geographic, realizou o documentário sobre a expedição à bacia do Okavango, que liga três países da África Austral, estreado no ano passado. Em 94 minutos, resume quatro meses de trabalho dos novos exploradores, uma equipa multidisciplinar internacional liderada pelo cientista do canal Steve Boyes.
Percorreram mais de 2500 km até à nascente do Cuíto, partindo da bacia do Okavango, passando por Angola, Namíbia e Botswana. Corresponde à primeira fase de uma investigação, que começou a ser preparada em 2015 e tem três fases.
A 24 de setembro, Neil Gelinas saberá se venceu o Emmy 2019 Notícias e Documentários, na categoria de natureza. Estão, ainda, nomeados trabalhos das televisões CNN e PBS. A cerimónia de entrega dos prémios decorre no Lincoln Center, em Nova Iorque.
Gelinas é cineasta, produtor executivo, diretor e editor da National Geographic Society. Into the Okavango é o seu primeiro documentário, reportagem em quefoi obrigado a acampar, algo que nunca tinha feito antes de conhecer Steve Boyes, o responsável máximo pela expedição. Também nunca tinha assistido a um ataque de hipopótamo, desesperado com as abelhas ou trabalhado com um operador de câmara que insistia em andar descalço e gostava de acariciar hienas", confessou à National Geographic. Confissões quando ganhou o título de melhor explorador do ano no festival da National Geographic, em Washington.
O realizador do documentário nomeado para os Emmys 2019 trabalhava em programas de televisão quando conheceu Steve Boyes, cientista da National Geographic, em 2011. "Em 2012, visitei uma ilha na bacia do Okavango, onde Steve era responsável por um acampamento. Estava com o seu irmão Chris, estudavam o papagaio-de-meyer e eu queria filmar. Apareci e o Steve: "Vai montar a tua tenda", mas eu nunca tinha acampado, Pensei: "Bem, vou descobrir." Desde então, tenho trabalhado em outros projetos e tive de aprender a acampar em praticamente todos os climas, incluindo o Ártico. Só ainda não o fiz apenas por diversão, talvez algum dia", contou.
A bacia do rio Okavango representa uma fonte de água "para um milhão de pessoas, para a maior população mundial de elefantes africanos e populações significativas de leões, chitas e centenas de espécies de pássaros. No entanto, este oásis intacto está agora sitiado devido ao aumento da pressão da atividade humana", assim apresenta o projeto a National Geographic Documentary Films. O objetivo da expedição e do documentário é salvar o sistema fluvial que alimenta a bacia.
Adjany Costa é a diretora da National Geographic para Angola e esteve em abril em Portugal, na National Geographic Summit, no Coliseu dos Recreios em Lisboa. Falou da sua experiência, expedição retratada no documentário e que mostra momentos de desespero, sustos, mas também muitas lágrimas de alegria.
"Temos potencialmente 24 espécies novas para a ciência, que estão agora em fase de estudo", disse a cientista angolana. Além da diversidade da fauna, detetaram 16 novas nascentes: "Aquela área é rica em água e é a torre de estabilidade tanto do Cubango/Okavango como do Zambeze", explicou Adjany Costa.
Percorreram muitas zonas que ficaram isoladas devido à guerra. Estiveram em Angola, Namíbia e Botswana, países cujos dirigentes estão a apoiar o trabalho de investigação. E, nas localidades habitadas, os cientistas aproveitaram para avaliar as condições de vida das comunidades: educação, saúde, interação com os recursos naturais.
A equipa do projeto é constituída por 34 pessoas e inclui investigadores, especialistas em diferentes tipos de fauna e de flora, ambientalistas, guias, tradutores, fotógrafos, operadores de imagem e outros. Até agora, identificaram 407 aves, 92 peixes, 99 répteis, 14 espécies de plantas, e ainda um grande número de mamíferos e de anfíbios.
Kerlen Costa, gestor para Angola do projeto National Geographic Okavango, anunciou à Euronews o lançamento para outubro do próximo documentário, Cuando. Este filme retrata a expedição científica feita em 2018 ao longo do rio Cuando. "Estamos a finalizar as traduções e a narração. Vai ser o primeiro filme da National Geographic narrado completamente em português, disse.
A bacia do Okavango cobre uma superfície hidrologicamente ativa de 323192 quilómetros quadrados. O seu caudal principal resulta do escoamento de planícies sub-húmidas e semiáridas da província de Cuíto-Cubango, em Angola, que se estende por uma área de 120 000 quilómetros quadrados, concentrando-se ao longo das margens entre a Namíbia e Angola. Desagua num leque ou delta a uma altura de 980 metros.
O projeto Okavango-Zambeze é a maior iniciativa transfronteiriça do continente africano, que liga 36 áreas de conservação a nível de Angola, Zâmbia, Zimbabwe, Botswana e Namíbia.