"Estamos mais perto de ganhar ao PS. Não quero a oportunidade destruída"

Na sua declaração oficial de recandidatura à liderança do PSD, no Porto, Rui Rio puxou dos galões dos ganhos nas autárquicas, disse que o PSD não compreenderia que não se recandidatasse e atacou Paulo Rangel.
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"Há uma tendência de voto ascendente para o PSD e descendente para o PS", afirmou o líder do PSD no anúncio da sua recandidatura à liderança do partido, num hotel do Porto. "Ganhar as legislativas está mais perto de nós", garantiu.

Foi esta convicção, e os ganhos que reclamou das autárquicas, que o levaram a decidir recandidatar-se contra Paulo Rangel, um adversário que nunca nomeou mas que atacou fortemente. "Estamos mais perto de ganhar ao PS e não quero essa oportunidade destruída", afirmou. Antes já tinha lembrado que cumpriu os objetivos com que se comprometeu nas eleições autárquicas, com mais mandatos e mais votos e a maioria das capitais de distrito conquistadas para o PSD. "Conseguimos subir nos centros urbanos", os que garantem as vitórias nas eleições legislativas, sublinhou. A tal tendência de inversão de voto do PS para o PSD.

"Compete-nos agora saber aproveitar a dinâmica de vitória e continuar a trilhar o trajeto da credibilidade. O caminho faz-se caminhando", sublinhou. Voltou depois aos ganhos eleitorais para lembrar os resultados nas regionais da Madeira e dos Açores, onde o PSD em coligação é agora governo, e também o triunfo obtido por Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais.

"Falta-nos a etapa de ganhar as eleições legislativas. Ninguém entenderia que deixasse esta etapa a meio e não a realizasse por inteiro", disse, a justificar a decisão "ponderada" de se recandidatar, após um Conselho Nacional que, contra a sua vontade, aprovou as eleições diretas do partido para 4 de dezembro, altura que Rio considerava arriscada pelo espetro de uma crise política por causa do Orçamento de Estado para 2022.

E foi neste ponto que atacou o adversário, Paulo Rangel, embora sem o ter nomeado. Lembrou que num curto espaço de três semanas, houve uma "tendência autofágica" que "originou divisões internas" e que levou à marcação definitiva do congresso do partido sem se saber se o país teria ou não uma crise. Um "aventureirismo", que a sua "sensatez" poderia ter evitado.

"Seria muito prejudicial para o partido e para o país que o PSD mudasse de presidente. Estamos mais perto de ganhar ao PS e não quero ter a responsabilidade de ver essa oportunidade perdida."

Depois de Paulo Rangel ter anunciado o apoio de várias distritais e concelhias do PSD, Rui Rio fez o apelo às bases. "São os militantes que devem escolher o seu presidente, não são as estruturas que são donas do voto e da dignidade das pessoas." A farpa a Rangel está aqui também quando frisou que o PSD é um partido de homens e mulheres livres e que não pode ser "coutada de ninguém, muito menos de quem se move pela defesa do seu lugar pessoal".

Separou ainda as águas em relação aos atributos do ainda eurodeputado social-democrata, lembrando que o que está em causa é a escolha de um candidato a primeiro-ministro. "Não estamos a escolher um bom tribuno ou angariador de votos para o partido". Fez apelo aquelas que considera serem as suas qualidades, a "resiliência, "coerência de percurso" e, sobretudo, a "experiência executiva", como antigo presidente da Câmara do Porto, que Rangel não tem no currículo.

"É a escolha do principal governante de Portugal que vai estar em disputa no PSD", insistiu, acrescentando que "a degradação da vida coletiva exige um PSD forte, credível e estável". Um PSD que disse ser diferente do PS e da sua "persistente aliança à esquerda, que só aspira a alimentar as suas clientelas com mais despesa pública que todos temos de pagar".

Rui Rio voltou a colocar o PSD ao "centro", "moderado", com "grande capacidade de diálogo", quando Paulo Rangel o tinha aberto a um arco mais vasto até à direita moderada. O recandidato à liderança do PSD atacou novamente a bolha da comunicação social, "que passa ao lado dos problemas dos portugueses".

De voz grossa contra o Governo, defendeu o apoio às pequenas e médias empresas - "às quais o PS está sempre pronto a nunca faltar com nada" -, em vez de "apoiarem os grandes sorvedouros de dinheiro público". Seja com injeção de dinheiro na TAP e Novo Banco, seja com perdão de capital como no caso das barragens da EDP.

Rio defendeu ainda que Portugal precisa de um governo que se bate pela redução da carga fiscal, da despesa e dívida pública, para pôr termo ao "espartilho do endividamento em que o país está metido".
"É preciso um governo com coragem para reformar e libertar o país dos interesses corporativos enquistados", acrescentou. Terminou o discurso com a máxima de Francisco Sá Carneiro: "Primeiro Portugal, depois o partido e só depois nós próprios".

paulsa@dn.pt

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