Rio acusa PS de "mentir" sobre PSD para "amedrontar" os portugueses

O primeiro dia oficial de campanha foi marcado por acusações de "mentiras", graçolas no Twitter, pelas "contas certas" que o BE defende, pelos denunciados pelo PCP "súbitos apegos" de PSD e PS e pelo aficionado CDS que quer "pegar a maioria de esquerda pelos cornos".
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"Quando eles [o PS] sentem que podem perder começam sempre da mesma maneira, começam a deturpar aquilo que nós dizemos e, em vez de darem as suas propostas, começam a deturpar as nossas".

Rui Rio recuperou, no primeiro dia oficial de campanha, em Barcelos, a acusação que já no sábado, durante o debate com o PAN, tinha ensaiado e voltou a acusar o PS de "deturpar" as propostas sociais-democratas e de insistir na "mentira", como a privatização da Segurança Social, para "amedrontar" as pessoas. "Nunca o PSD disse isso, sabem que não disse, mas como não têm propostas concretas deles próprios tratam de mentir com as propostas dos outros, ninguém vai privatizar Segurança Social nenhuma", reforçou.

Rui Rio acrescentou ainda que o PS "também diz", apesar de o programa do PSD "ser mais do que claro", que os sociais-democratas querem "pôr os portugueses a pagar o SNS". "Não pagam e não vão continuar a pagar e o PS sabe disso, mas quer mentir e amedrontar as pessoas, não é forma de fazer campanha eleitoral e eu espero que isto mude", acentuou.

Rio classificou ainda como "uma brincadeira" a publicação que fez no Twitter sobre o voto antecipado de Costa, dizendo que a campanha eleitoral também tem de ser "alegre e com alguma piada".

António Costa, que começou a campanha nos Açores, em São Miguel, afirmou que Rio "tinha obrigação de saber o que era o voto antecipado" e sustentou que um político não afirma a sua credibilidade "com graçolas".

Questionado se está preparado para uma campanha com humor, o secretário-geral do PS respondeu que "humor é uma coisa" e "desconhecimento do funcionamento básico da democracia é outra".

"É dever dos políticos não só transmitir aos cidadãos este apelo à participação eleitoral, como também eles próprios darem o exemplo", vincou, lembrando que independentemente do círculo onde se esteja a exercer o voto no dia 23, este "é contabilizado no local onde estamos recenseados".

João Oliveira alertou, ontem, em Aljustrel, para o "súbito apego à regionalização" de PS e PSD sempre que há eleições legislativas, apesar de serem os responsáveis por travar, sustentou, a sua concretização.

"Naturalmente, sendo falso esse apego, rapidamente é esquecido. Feitas as promessas, colhidos os votos, lá ficou a promessa para trás e esquecida no tempo", sustentou.

E sem largar a regionalização, falou sobre a governabilidade no pós-eleições e a solução apresentada por António Costa, de governar "à Guterres".

"Foi precisamente durante a governação "à Guterres" que passou a estar inscrita na Constituição [a 8 de novembro de 1998] a obrigatoriedade de realização de um referendo, por imposição do PSD, e com obstáculo à regionalização", lembrou.

"Se a referência que faz para o futuro do país é o regresso a essa governação "à Guterres", que só significou atrasos, resistências e obstáculos (...), então estamos bem assim, muito obrigado! Não precisamos de governações "à Guterres"", avisou o dirigente comunista que com João Ferreira está a substituir provisoriamente Jerónimo de Sousa que recupera de uma operação de urgência à carótida interna esquerda.

Catarina Martins, em Viseu, prometeu ontem um "contrato para o país que combata a economia do privilégio e da desigualdade", defendendo "contas certas" do trabalho e "contra o crime económico e a corrupção".

"Estamos aqui para um país de contas certas, em que a riqueza é justamente distribuída e em que ninguém tem direito a destruir a economia para ganhar tanto enquanto deixa quem trabalha com quase nada", afirmou a dirigente do BE.

O presidente do CDS arrancou a campanha para as eleições legislativas com a esperança de ser "a grande surpresa" de dia 30 e de voltar a eleger deputados pelos círculos de Leiria e Santarém.

O partido "vai surpreender" porque "está habituado a ressuscitar nas urnas", mas alertou que o CDS não pode ficar "refém constantemente das mesmas personalidades" e tem de "olhar em frente, não para trás".

Em Santarém, Francisco Rodrigues dos Santos, que criticou o "animalismo radical" do PAN, que é contra as touradas, disse já ter ensaiado no Colégio Militar "as artes do forcado" e querer "pegar a maioria de esquerda pelos cornos no parlamento para depois a neutralizar e poder abrir espaço a uma nova maioria de direita que permita ao CDS estar no governo de Portugal".

De visita à Quinta do Ferro, na Graça, em Lisboa, a dirigente do PAN mostrou "apreensão" por não existir "ainda o parecer da PGR" e não terem sido "alargados os prazos de voto".

Rui Tavares, fundador e candidato do Livre, escolheu a Feira do Relógio, em Lisboa, para arrancar a campanha oficial e destacou como temas principais a habitação e os transportes.

A proposta sobre a eficiência energética das casas, explicou, pode custar cerca de 1,5 milhões de euros. "É um plano caro, mas pode ser feito em dois ou três anos", afirmou.

O presidente da Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim de Figueiredo, disse hoje que o partido tem "um misto de irreverência e preparação" que faz falta para "arejar" o país, reafirmando o objetivo de obter 4,5% da votação nacional.

O presidente do Chega, André Ventura, defendeu hoje que Rui Rio apenas tem "dois caminhos" nestas legislativas, que passam por aceitar governar com o seu partido ou "pôr-se nos braços" do Partido Socialista.

Caso Rui Rio não aceite governar à direita "para afastar António Costa", André Ventura acredita que o líder dos sociais-democratas tem de "se demitir" da liderança "e dar lugar a outro no PSD para poder fazer isso".

DestaquedestaqueUma das "bandeiras" do Volt é a criação de seis regiões administrativas; RIR quer baixar impostos e diz ser a ponte entre esquerda e direita; JPP tem uma meta: "fiscalização apertada" ao governo que contribuirá para "desmantelar" a corrupção.

O presidente do Volt Portugal, Tiago Matos Gomes, disse ontem, em Olhão, que a criação de regiões administrativas é uma das "bandeiras" do partido, alegando que não pode haver "regiões de primeira e regiões de segunda".

"Nós temos um país umas vezes unicéfalo, outras vezes bicéfalo, entre Lisboa e Porto, e obviamente que as regiões do interior têm sofrido com isso ou as regiões que não estão tão próximas de Lisboa e do Porto", sublinhou.

Para o presidente do partido europeísta, quando concretizadas, as regiões administrativas vão permitir "uma maior igualdade entre as regiões e um menor centralismo", sugerindo que se houvesse um projeto-piloto, o Algarve poderia ser "a primeira região a experimentar o que é ser uma região administrativa".

Tiago Matos Gomes considera como ideal um modelo que crie as regiões Norte, correspondente à região do Douro, Centro, correspondente à região das Beiras, Ribatejo e Oeste, Área Metropolitana de Lisboa, Alentejo e Algarve.

O presidente do Reagir, Incluir, Reciclar (RIR), Vitorino Silva, começou ontem a campanha oficial às eleições legislativas na Feira do Relógio, em Lisboa, onde prometeu que levaria o povo ao parlamento.

Depois de uma campanha digital para as eleições presidenciais há um ano, devido à pandemia da covid-19, Vitorino Silva, popularmente conhecido por Tino de Rans, voltou hoje àquele que diz ser o seu gabinete: a rua.

"O RIR vai ter povo no parlamento, porque as pessoas que estão comigo são o povo, o povo genuíno e verdadeiro, que não está ligado aos lóbis. O povo vai ter voz, vai ter vez e vai ter lugar", prometeu.

Com as expectativas altas, confiante de que o partido terá um grupo parlamentar na próxima legislatura, Vitorino Silva insistiu ainda na ideia de ser ponte entre a esquerda e a direita para desbloquear o país.

Quanto a propostas concretas, Vitorino Silva manifestou a intenção de baixar os impostos sobre os combustíveis, o IVA da restauração e o preço das portagens nas autoestradas.

O cabeça-de-lista do Juntos Pelo Povo (JPP) nas eleições legislativas, Élvio Sousa, afirmou ontem que uma das suas metas é efetuar uma "fiscalização apertada" à ação do Governo da República, contribuindo para "desmantelar" esquemas de corrupção.

A candidatura do JPP apostou na divulgação do seu programa junto da população da Ribeira Brava, um concelho na zona oeste da ilha da Madeira.

"O JPP é o único partido regional que tem instaurado cerca de 50 processos ao Governo Regional e ao Governo da República para obter documentação, documentação essa que é fundamental para descobrirmos muitas situações que a opinião pública não conhece e, muitas vezes, para comprovarmos esquemas de alegada corrupção."

Élvio Sousa salientou que o "trabalho do JPP, comprovadamente, já "desmantelou" duas redes que, de forma irregular e ilegal justificavam terrenos para a obtenção de fundos comunitários, por via da Inspeção Geral das Finanças" na região.

DestaquedestaqueHouve quatro maiorias absolutas em Portugal, três de direita e uma de esquerda: a AD de Sá Carneiro, de 1979 a 1983; depois as de Cavaco Silva, de 1987 a 1995; e mais tarde a de José Sócrates, de 2005 a 2009.

Voto antecipado Até quinta-feira, os eleitores residentes em território nacional devem manifestar a intenção de votar antecipadamente através da plataforma (https://www.votoantecipado.mai.gov.pt/) ou fazer o pedido por via postal, enviada à Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna.

Covid-19 De acordo com a CNE, os eleitores nessa situação devem manifestar a sua intenção de votar entre 20 e 23 de janeiro "no respetivo domicílio ou noutro local definido ou autorizado pelas autoridades de saúde". Entre os dias 25 e 26 de janeiro, "o presidente da câmara municipal (ou qualquer vereador ou funcionário municipal) vai ao local onde está confinado recolher o voto", indica a CNE. Governo aguarda por parecer da PGR que permita "janela horária" para quem estiver em isolamento.

Estrangeiro Os eleitores recenseados em território nacional deslocados no estrangeiro, por um dos motivos previstos na lei, podem, de acordo a CNE votar antecipadamente, entre terça e quinta-feira, "nas embaixadas ou consulados previamente definidos pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros".

Partidos Além de PS, PSD, BE, CDU (PCP/PEV), CDS-PP, PAN, Chega, Iniciativa Liberal e Livre - partidos que conseguiram representação parlamentar nas legislativas de outubro de 2019 -, concorrem às eleições de 30 de janeiro outras 12 forças políticas, num total de 21. Os outros partidos concorrentes são: Aliança, Ergue-te (ex-PNR), Alternativa Democrática Nacional (ex-PDR), PCTP-MRPP, PTP, RIR, MPT, Nós, Cidadãos!, MAS, JPP, PPM e Volt Portugal, que se estreia em legislativas.

Eleitores Mais de 10 milhões de eleitores residentes em Portugal e no estrangeiro (um total de 10 821 244 recenseados) constam dos cadernos eleitorais para a escolha dos 230 deputados.

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