Rio acusa Costa de transferir austeridade para resposta dos serviços públicos

PSD e CDS entendem entrevistas ao DN como confissão da ineficiência da resposta dos serviços públicos. Bloco surpreendido
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O líder do PSD, Rui Rio, defendeu ontem no Porto que o primeiro-ministro admitiu que o país ainda está em austeridade, neste caso tendo esta sido transferida "para os serviços públicos" e para a capacidade de resposta dos mesmos. Em causa está a entrevista de António Costa ao DN na qual este afirmou que, em situação de folgas orçamentais, daria preferência à contratação de novos serviços públicos em vez de aumentar os salários dos atuais. Já Catarina Martins , coordenadora do Bloco de Esquerda, disse não entender o dilema de Costa, deixando alguns recados ao chefe do governo.

Para Rui Rio, que comentou a entrevista à margem de uma visita a residências universitárias na Invicta, as palavras de António Costa são "uma confissão de que nós estamos na mesma em austeridade. Agora é de outra forma e é o reconhecimento de que os serviços estão carenciados de serviços humanos", acrescentou. "Na prática, é assim que eu interpreto o que [Costa} está a dizer", explicou."Hoje, onde é que os portugueses notam a austeridade?", questionou. "Notam no défice de recursos humanos que há em muitos serviços, particularmente no Serviço Nacional de Saúde", finalizou.

Evitar "escolhas absurdas"

A coordenadora do Bloco, também no Porto para participar num encontro com agentes culturais, começou por confessar aos jornalistas "não perceber muito bem a frase". Catarina Martins lembrou que estão atualmente em curso "dois processos". Um deles relacionado com o "descongelamento das carreiras" dos funcionários públicos que "há uma década perdem poder de compra". E esse processo terá implicações salariais, defendeu, tal como " o aumento do salário mínimo nacional" terá implicações nos três escalões mais baixos da tabela remuneratória da Função Pública, que eram inferiores ao atual valor deste.

Por outro lado, Catarina Martins confirmou que existe o problema dos serviços públicos "que não têm gente". E acrescentou aos casos mais conhecidos, nomeadamente os da Saúde e da Educação, o exemplo da Caixa Geral de Aposentações, denunciando que por falta de pessoal esta tem deixado pessoas "meses" à espera que as suas reformas sejam processadas, em alguns casos "sem qualquer rendimento".

No entanto, a coordenadora bloquista lembrou também " o percurso que foi feito ao longo dos últimos três anos" no que respeita a "recuperação de rendimentos de salários e pensões", concluindo que "a boa notícia" é que existe capacidade de resposta e até com um efeito "positivo na economia". Por isso, deixou um recado com destinatário claro: "Não vale a pena pormo-nos a nós próprios escolhas absurdas", defendeu.

João Almeida, porta-voz do CDS-PP, defendeu ao DN que as palavras de Costa eram "acima de tudo um recado para dentro da maioria de esquerda que garante este governo", recado esse "que não cabe ao CDS comentar". No entanto, acrescentou que o partido a que pertence está preocupado "com a degradação do serviço prestado às populações, com o problema das cativações, dos vetos de gaveta", e acusou o governo de "não ter uma estratégia" para estes serviços.

No domingo, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, já tinha criticado as palavras de António Costa, contrapondo que " ao mesmo tempo que se afirma não ser possível um justo aumento salarial para quem não recebe aumentos há nove anos, não faltarão 35 mil milhões de euros" para pagar a dívida externa.

Os sindicatos da função pública receberam as declarações de Costa com surpresa, avisando que, apesar de ainda decorrerem negociações, os trabalhadores da Administração Pública não deixarão de dar uma resposta nas ruas caso não existam aumentos. Com L.T. e Lusa

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