Rick de 'The Walking Dead' internado em Portugal? Uma brincadeira de um autor de notícias falsas

Nuno Folgado é responsável por duas <em>fake news</em>. Cria desinformação para testar a capacidade de os outros detetarem os erros que circulam nas redes sociais, segundo o próprio.
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Uma imagem da personagem Rick Grimes da série The Walking Dead, interpretada por Andrew Lincoln, foi partilhada pelo menos 31 mil vezes desde sábado na rede social Facebook acompanhada por um pedido de ajuda. Segundo a publicação falsa, o ator britânico teria dado entrada no Hospital Beatriz Ângelo, em Guimarães (e não em Loures, onde na realidade se localiza a unidade hospitalar), com "aparente perda de memória" e "sem qualquer tipo de identificação".

Por trás da "brincadeira", como lhe chama o próprio, está Nuno Folgado. Tem 44 anos, vive em Queluz de Baixo, Lisboa, e é segurança privado. Nuno considera que todas as pessoas "devem entender" que aquela informação não é verdadeira, indicou ao DN. "Neste caso, o ator é conhecido e está lá no cantinho dele. Fiz questão de no post cometer propositadamente o erro de não coincidir o nome do hospital com a localidade. Tem lá Hospital Beatriz Ângelo, que por acaso é em Loures e eu fiz referência a Guimarães. Estão ali erros que saltam à vista, no fundo para que se caia naquela ideia de: "Vou aprender com o erro." A ideia é a pessoa partilhar no mural dela e vir um amigo esclarecido e dizer: "Olha não partilhes essas coisas porque isso é falso", disse.

A propagação de notícias falsas é muitas vezes uma fonte de rendimento extra, uma vez que geram cliques. Quanto mais popularidade tiver uma publicação mais rentável esta se torna. Nuno Folgado garante que não é o caso. "Não estou a ganhar nada, não tenho nenhum blogue, não me escondo atrás de página nenhuma. Tanto que isto foi apenas publicado na minha página pessoal apesar de estar público. Se me caísse um cêntimo por cada partilha eu ficava feliz, mas zero. Isto só me dá dores de cabeça. São notificações e comentários a toda a hora, chamam-me tudo e mais alguma coisa" responde.

Confrontado com a hipótese de esta não ser a melhor forma de chamar a atenção dos cidadãos para o fenómeno das fake news, Nuno defende que "é a forma possível sem entrar em radicalismos. Por mim, deveria haver pessoas que tinham de tirar uma formação para ter Facebook. Mas quando uma pessoa anda em excesso de velocidade também é multada e acaba por não repetir".

Esta não é a primeira vez que Nuno cria uma notícia falsa que se torna viral. É também da sua autoria a imagem de um "génio" que alegadamente ficou em segundo lugar nas Olimpíadas de Física Quântica, em junho do ano passado. Nuno confessa que "na realidade o moço era um ator porno espanhol", mas na altura muitos não entenderam que se tratava de desinformação e a publicação registou mais de cem mil partilhas no Facebook.

Para a jornalista filipina eleita Personalidade do Ano 2018 pela Time, Maria Ressa, os grandes responsáveis por este tipo de publicações são precisamente as empresas de tecnologia e as redes sociais. "O grande problema é deixar que as mentiras circulem livremente nas redes sociais. É preciso mapear as redes que estão espalhando fake news, rastrear as fontes. É possível e é necessário fazer isso", defendia Ressa durante a um debate sobre o combate à demonização da imprensa, no Qatar.

Em Portugal existem mais de 40 páginas dedicadas à produção de desinformação, a maioria registada no estrangeiro, avançava uma investigação do DN em novembro de 2018. A rede de notícias falsas aumenta e a confiança dos portugueses nas notícias em geral diminui. Segundo o estudo Reuters Digital News Report 2018, a confiança nos conteúdos consumidos em Portugal passou de 71,3%, em 2017, para 62,3% em 2018.

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