Ricardo

O menino do Montijo que sonhava ser ponta-de-lança e que virou o homem que guarda as redes da selecção nacional<br />
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O primeiro treinador, António Eusébio, dizia dele: "bons reflexos, boas mãos e confiança" O transalpino Walter Zenga foi o ídolo de infância Camisola 76, que usa no Sporting, é homenagem à Juve Leo e o ano de nascimento do jogador Jogar golfe é a sua nova paixão

À frente da baliza da selecção nacional, Ricardo é um dos inquestionáveis das escolhas de Luís Felipe Scolari. Tem 30 anos e ganhou a titularidade neste posto quase 20 anos depois de ter começado a jogar à bola n'Os Unidos. Um clube do Bairro da Caixa, do Montijo, localidade que levou para os relvados glórias como Futre ou Neto (campeão europeu pelo Benfica nos anos 60).

No Clube Desportivo, Cultural e Recreativo Os Unidos começou por ser avançado e segundo conta quem com ele jogava, "não era nada mau", "tinha um bom pontapé" e até "se fartava de marcar golos". Mas o treinador dos Unidos, António Eusébio, viu nele outras qualidades: "Bons reflexos, boas mãos e confiança". Características fundamentais para o posto de guarda-redes. Apesar de não ter ficado muito satisfeito, Ricardo aceitou a posição que "mister" Eusébio lhe destinou e compreendeu que teria mais possibilidades de brilhar neste lugar.

As parecenças físicas e de estilo com um famoso guarda-redes do Alcochetense deram-lhe a alcunha de Labreca. E ao longo dos anos foi ganhando outras: Doberman, por ser a raça de cães que mais gosta, e Sabe-Tudo, entre os colegas da selecção por resolver qualquer situação, principalmente problemas informáticos.

N'Os Unidos queimou as etapas de infantis e iniciados e, nessa altura, como revela o seu antigo treinador "não falava em ser jogador profissional, podia pensar nisso, mas não transmitia essa intenção" Eusébio confessa que "quando se trabalha com miúdos tem-se sempre esperança que cheguem o mais longe possível e o Ricardo atingiu o expoente máximo", congratula-se.

Enquanto sonhou ser ponta-de-lança, o seu ídolo era Klinsmann, (avançado alemão campeão do mundo em 1990, hoje treinador da selecção germânica). Quando interiorizou que a baliza seria o seu posto elegeu Walter Zenga (guarda-redes da selecção italiana nos anos 80/90) como exemplo a seguir.

Aos 14 anos transitou para o Clube Desportivo do Montijo onde foi juvenil, júnior e sénior. Ao atingir a maioridade, o Boavista foi buscá-lo à sua terra natal e levou-o para o Porto. Em 2003, depois de uma luta entre o Benfica e Sporting para ficarem com ele, ganhou o Sporting. É em Alvalade que enverga a camisola 76, número que escolheu por ser o ano do seu nascimento e também para homenagear a Juve Leo, pois esta é a data da fundação da claque mais conhecida do clube de Alvalade.

Ricardo é recordado pelo seu primeiro treinador como "um miúdo brincalhão, extrovertido e meigo", características que ainda hoje lhe reconhece, pois, apesar de terem passado duas décadas, nunca perderam o contacto.

Devoto de Nossa Senhora da Atalaia é a ela que se "agarra" nas alturas mais complicadas da sua carreira. A ela e à mulher Cláudia, sua namorada desde a adolescência, e a Tiago, o filho de três anos. A união familiar é-lhe fundamental. "O pai sempre o acompanhou nos jogos desde criança", conta António Eusébio. Da mãe, não prescinde do seu arroz de pato.

Jogar à bola não é o seu único desporto. Os amigos reconhecem-lhe um jeito inato para os desportos aquáticos, ténis, matraquilhos, snooker, que jogava com frequência durante a adolescência no salão de jogos Barafunda e até participava em torneios. A sua mais recente paixão é o golfe. E nunca perde uma oportunidade para jogar PlayStation.

Para o seu primeiro treinador, Ricardo fez a opção certa quando percebeu que o seu futuro de futebolista seria como guardião de balizas. Pelos vistos não se enganou.

Perfil

O seu nome completo é Ricardo Alexandre Martins Soares Pereira
Nasceu a 11 de Fevereiro de 1976
Alcunhado de Labreca, Doberman e Sabe-Tudo
Começou a jogar à bola n'Os Unidos, do Montijo
Conta com 48 internacionalizações no currículo
Estreou-se como guarda-redes da selecção nacional frente à República da Irlanda em 2001

Na noite de 24 de Junho de 2004, na Luz, a selecção portuguesa defrontava a Inglaterra para decidir qual ia às meias finais do Euro 2004. Após 120 minutos e cinco penáltis para cada lado, Ricardo descalçou as luvas e defendeu o remate de Darius Vassell. A seguir colocou a bola na marca de grande penalidade e fez o golo que deu ao País uma noite memorável. Ricardo , aos dez anos, ingressou n'Os Unidos, aos 14 passou para o Clube Desportivo do Montijo, depois de ter sido rejeitado pelo Benfica e o Sporting. Na década de 90 foi para o Boavista onde conquistou todos os títulos nacionais. A 2 de Junho de 2001, António Oliveira chamou-o para defrontar a República da Irlanda ao serviço da selecção. No Verão de 2003, Benfica e Sporting disputaram os seus serviços. Ganhou Alvalade. Desde que Scolari assumiu o comando das Quinas, Ricardo nunca mais perdeu a titularidade. No currículo, 48 internacionalizações. No apuramento para este Mundial fez 11 jogos, esteve 990 minutos em campo e sofreu cinco golos.

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