Ricardo Bravo, o homem que dá luz ao surf nacional
Os surfistas são o sangue e a alma do surf e da Liga Meo, que terá no fim de semana de 6 a 8 de Julho a sua quarta etapa, o Allianz Sintra Pro. Mas se há uma classe de profissionais a quem o surf moderno deve quase tudo é a dos fotógrafos, profissionais como o português Ricardo Bravo, um dos expoentes máximos, em ondas nacionais, deste "metier" específico que é a fotografia de surf.
Ricardo Bravo, de 43 anos, é quase tão conhecido na cena de surf portuguesa como os melhores surfistas, com uma reputação construída com base num portfólio que é, também, uma história em imagens deste desporto, passatempo ou quase religião (depende a quem perguntar).
Assim, foi com naturalidade que Ricardo abraçou um projeto que segue em paralelo com a Liga Meo: um conjunto de workshops de fotografia de surf, feitos em parceria com uma conhecida marca de material fotográfico, dirigidos a amantes da fotografia que querem evoluir no campo específico do surf.
O próprio Ricardo Bravo explica um pouco da orgânica destes workshops: "Funcionam todo o ano, durante as etapas da Liga Meo e são constituídos por uma aula teórica na sexta feira, em que falo da história da fotografia de surf, para que percebam que tem décadas e que há muita coisa feita, que ninguém vai inventar a pólvora neste campo. Explico como se fotografa um evento e técnicas específicas de fotografia a partir de terra e água. E depois, acompanho os fotógrafos durante o campeonato."
A fotografia a partir de água, onde a ação acontece, é das atividades mais desafiantes para um fotógrafo e requer grande familiaridade com o oceano. "Noventa por cento dos fotógrafos de surf têm de fazer surf, bodyboard ou outro desporto de ondas, mas mesmo fotografando de terra tens de perceber as dificuldades dos surfistas, onde quebra a onda...mas depois, além disso, é como ser fotógrafo de outra coisa qualquer, tens de ter cultura da actividade que estás a fotografar, saber antecipar o que vai acontecer. No surf, tens de perceber o mar e como a luz funciona no mar. E ter muita paciência, não podes mandar vir a onda", explica o experiente fotógrafo que começou a fotografar ondas há "25 anos, mais coisa menos coisa", diz.
A primeira foto publicada estava a anos luz do que hoje faz, pelo menos no que a material e técnica dizem respeito. Foi um começo humilde, para não dizer completamente inesperado, recorda: "Tudo começou pelo bodyboard. Comecei a fazer bodyboard com 13 anos e quando a fotografia surgiu, as coisas misturaram-se. A minha primeira foto publicada, na extinta Bodyboard Portugal foi com uma daquelas máquinas descartáveis à prova de água. Não planeei ser fotógrafo, foi a vida a acontecer."
Hoje ainda faz bodyboard e bodysurf, o que o mantém em boa forma para as exigências da fotografia na água. Mas e o que prefere? "Às vezes, quando as ondas estão boas, perguntam-me se não preferia estar a surfar do que fotografar. É-me indiferente, são paixões cruzadas", confessa.
Com o Allianz Sintra Pro ao virar da esquina, Ricardo e os seus pupilos no workshop de fotografia enfrentam uma das praias mais difíceis de fotografar em Portugal, com a sua imprevisibilidade meteorológica e de condições de mar, a Praia Grande. Como é fotografar ali? "É desafiante. Se for uma sessão de "free surf" em que combinaste com algum surfista fazer umas fotos e, por exemplo, começa a chover, cancelas o trabalho. Mas num evento tens de fotografar como estiver. E essa é uma lição valiosa que tento passar: transformar as dificuldades em vantagens. Se está a chover, a foto passa por mostrar que está a chover, tens de ilustrar o evento e as suas condições."
Mas nem tudo é mau na Praia Grande, bem pelo contrário sublinha: "Se, por um lado, é uma praia complicada, por outro, tem uma das paisagens mais bonitas em Portugal; um enquadramento natural mas também os toldos coloridos na praia. É importante identificar o local no nosso trabalho e mostrar onde se realiza o evento. É um desafio difícil mas também muito bonito."