Revelados 108 gigabytes de documentos secretos russos, mas nem uma única "bomba"
São centenas de milhares de documentos sobre jornalistas e políticos russos, oligarcas e figuras religiosas, e não faltam relatórios sobre o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Foram revelados esta semana pelo Distributed Denial Secrets, ou DDoSecrets, um site que nasceu no final do ano passado e se apresenta como "uma alternativa ao Wikileaks."
São 108 gigabytes de informação classificada e retirada por hackers ao Ministério do Interior da Rússia. Apesar de estar a ser replicado em vários sites, nomeadamente na Ucrânia, as revelações não produziram por enquanto nenhuma "bomba", ou novidade relevante.
O volume de informação é tamanho que poderá demorar algumas semanas até que tudo seja lido. Mas, mesmo que nada salte à vista imediatamente, o The New York Times diz que estas revelações podem ser encaradas como a resposta simbólica dos Estados Unidos ao Kremlin pela revelação dos emails trocados por Hillary Clinton e revelados durante a campanha para as eleições presidenciais norte-americanas de 2016.
Nesse ano, uma investigação da CIA revelou a responsabilidade de Moscovo pela obtenção e publicitação de 19 252 emails do Partido Democrata - nomeadamente sobre as fontes de financiamento da campanha presidencial pelo partido. O objetivo, admitiu então a secreta norte-americana, era impedir a todo o custo uma vitória de Hillary Clinton nas eleições.
Agora, aparentemente, os papéis revertem-se. Mas há um dado que também é relevante. O Wikileaks, que divulgou os emails democratas, já tinha recebido uma proposta para divulgar estes documentos. E, mesmo que o volume da informação retirada à Rússia seja muitas vezes superior ao que Moscovo retirou aos Estados Unidos, o site fundado por Julian Assange recusou-se a fazê-lo.
A revista Foreign Policy disse em 2017 que o Wikileaks tinha tido acesso aos documentos classificados russos no ano anterior, mas que se recusava a publicar informação que considerasse "irrelevante", ou que simplesmente fosse "impossível de verificar".
Ao The New York Times, a fundadora do DDoSecrets, uma autointitulada ativista pela transparência chamada Emma Best, disse que não sendo uma vingança direta em relação ao passado, "estes documentos tornam disponíveis assuntos muito pouco explorados - os círculos de poder russos e o jogo de influências do Kremlin."