Deputados acusam direção de "silenciar" deputados. Negrão desmente

A antiga secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares Teresa Morais foi a primeira a levantar a questão. Fernando Negrão já veio negar publicamente qualquer "apagão" dos deputados
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Na reunião à porta fechada, Teresa Morais levantou a questão do "silenciamento" a que considera terem sido votados muitos dos deputados da bancada, que não são chamados a intervir em nome do partido.

Fontes da bancada disseram ao DN que Teresa Morais, que foi vice-presidente da direção de Pedro Passos Coelho, fez parte da sua intervenção com perguntas. "Faz sentido um grupo parlamentar desta dimensão ter tanta gente arredada do debate político, sobretudo num ano eleitoral, em que o partido precisa de todos?"

A secretária de Estado do governo PSD/CDS-PP rejeitou ainda o que chamou de "tese de conspiração" do grupo parlamentar contra a atual direção do partido, defendendo que há muitos deputados que só querem trabalhar. Teresa Morais terá reforçado a ideia de que "não dá por conspiração nenhuma", só de deputados que se queixam de não serem integrados no trabalho parlamentar da bancada.

Teresa Morais quis desmontar a "ideia injusta" para a maioria dos deputados do grupo parlamentar do PSD de que há uma conspiração contra o líder do partido.

Foi secundada nesta intervenção, segundo as mesmas fontes, por deputados como José Pedro Aguiar-Branco, Paula Teixeira da Cruz, também eles ex-ministros, e pelo ex-líder parlamentar social-democrata Hugo Soares.

Hugo Soares terá mesmo interpelado diretamente o sucessor, Fernando Negrão, sobre se a acusação "grave" de Teresa Morais não merecia resposta. Fernando Negrão remeteu a questão da não intervenção de alguns deputados para "uma reflexão" que levaria à direção do partido.

Hugo Soares considerou que, mais grave que uma deputada sentir que há silenciamento de alguns parlamentares, é tal não ter sido "desmentido categoricamente".

A ex-ministra da Justiça Paula Teixeira da Cruz manifestou total concordância com a intervenção de Teresa Morais."Há um conjunto de deputados a quem neste momento não é distribuído trabalho e que são manifestamente silenciados", acusou.

No final da reunião da bancada, Fernando Negrão apenas disse "contar com todos". E, ao contrário do habitual, não houve declarações à imprensa no final da reunião.

Mas o, o líder parlamentar social-democrata, algum tempo após a reunião, negou publicamente a tese do "apagão". "Nunca silenciamos nenhum deputado, nem nunca recebemos instruções da direção para o fazer", garantiu Fernando Negrão. Salientou ser natural que os protagonistas mudem quando a liderança do partido muda.

Orçamento gera (mais) críticas

Hugo Soares criticou ainda as recentes declarações do secretário-geral do partido, José Silvano, que anunciou "uma posição diferente do PSD dos outros anos" com a apresentação de propostas no debate do Orçamento do Estado.

Hugo Soares considerou que se tratou de um "ataque" à anterior direção do partido, como se existissem dois PSD, e sublinhou que os sociais-democratas já apresentaram dezenas de propostas de alteração em relação aos orçamentos de 2017 e 2018.

"Depois de conhecermos a proposta, no dia 15, aí sim - e é uma posição diferente do PSD dos outros anos anteriores - é que iremos apresentar medidas concretas. Eu repito: medidas concretas sobre todos os temas do Orçamento, depois de conhecido, em que estivermos em discordância", afirmou José Silvano, em 02 de outubro, numa reação à entrevista do primeiro-ministro, António Costa, na véspera à TVI.

O antigo vice-presidente da bancada Carlos Abreu Amorim fez questão de cumprimentar Fernando Negrão, dizendo que tem sido "a voz e a linha" de rumo da oposição do PSD.

Para o deputado eleito por Viana do Castelo, a generalidade dos militantes do PSD não está satisfeita com o "modo reverencial" como é tratado António Costa pela atual direção do PSD.

"Fernando Negrão tem feito o contrário. Sei que tem sido muito difícil e, portanto, apenas lhe digo para continuar", apelou.

Sobre as questões levantadas por Teresa Morais, Abreu Amorim considerou que o partido "não deve fingir que não existem problemas", nem "encontrar soluções atamancadas e de última hora", admitindo que as queixas iriam ter eco na comunicação social.

Também Paula Teixeira da Cruz vincou a importância de o PSD ter "que ter sempre como alvo o primeiro-ministro", considerando que prejudica o partido "espraiar-se em várias direções".

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