Aljustrel, a aldeia onde nasceram os pastorinhos de Fátima, Francisco, Jacinta e Lúcia, tornou-se um local de peregrinação com os acontecimentos de 1917 e aqui houve o milagre da multiplicação dos visitantes, porque de outros aguardam os moradores.."Fazem milagres, pelo menos vem gente", disse à agência Lusa Augusto Santos, comerciante de 46 anos, depois de interpelado se santos da casa fazem milagres na aldeia, que dista dois quilómetros do Santuário de Fátima..Francisco, Jacinta e Lúcia, os protagonistas das "aparições" de Fátima nasceram em Aljustrel, a dois quilómetros do Santuário de Fátima, onde peregrina o papa Francisco a 12 e 13 de maio..Os dois primeiros foram declarados beatos em 2000. O mês passado foi anunciada a aprovação de um novo milagre atribuído aos beatos, abrindo portas à sua canonização..Da aldeia primitiva dos pastorinhos restam muros de pedra calcária que dividem propriedades e as casas dos videntes, além de um ou outro imóvel que resistiu a cem anos de crescimento urbanístico..Aqui, o comércio tomou conta da aldeia, onde o tráfego rodoviário é sinónimo de caos nos fins de semana de verão, quando milhares de pessoas e centenas de viaturas ali acorrem, complicando-se mais quando são autocarros a passar pelas ruas estreitas..Também por causa do trânsito, mas não só, moradores reclamam mais atenção do poder autárquico, queixando-se da ausência de estruturas públicas na "aldeia mais conhecida do mundo".."Não há um parque de estacionamento público, nem casas de banho públicas", exemplificam, acrescentando que o saneamento ficou a meio da rua principal e outras tantas casas mantêm fossas, um século depois de Aljustrel ter sido colocada no mapa.."Nem arranjaram sequer a estrada principal para o centenário", afirma uma comerciante, lamentando que em Aljustrel, "a casa dos pastorinhos, falte tudo"..Patrícia Silva, empregada de balcão, de 35 anos, considera, por outro lado, ser necessário "maior divulgação de Aljustrel", além da abertura, sem interrupções para almoço, das casas onde viveram os pastorinhos, assim como da Casa-Museu de Aljustrel, que retrata a época das "aparições", onde os habitantes viviam da pastorícia e da agricultura.."Os turistas e os guias queixam-se", afiança a jovem..Augusto Santos acrescenta que "muitos é uma vez na vida que vêm, vêm de longe e não conseguem ver as casas dos pastorinhos [propriedades do santuário]"..Fátima Silva, comerciante de 64 anos, refere que a irmã Lúcia, que visitou no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, lhe confidenciava "muitas vezes que não fechassem as casas aos peregrinos, que estivessem abertas mais tempo".."Deviam olhar um bocadinho mais por Aljustrel", defende ainda Fátima Silva, considerando que aos moradores também cabe uma parte desta responsabilidade de valorização do lugar, de onde são naturais dois futuros santos da Igreja Católica..Isabel Marto, comerciante de 55 anos, diz ser "um orgulho ter alguém da terra que é santo".."Estamos contentes, como muita gente", declara, enquanto Francisco Silva, comerciante de 61 anos, prevê "mais visitantes" com a canonização..Já Patrícia Silva adianta que "tem um grande valor histórico e religioso morar numa aldeia onde três crianças são reconhecidas perante a Igreja".."É muito bom para nós, é uma benesse muito grande", sustenta Fátima Silva, enquanto Augusto Santos conclui ser "uma alegria enorme" que Francisco e Jacinta sejam santos e "que venha a terceira", numa alusão à irmã Lúcia.